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Gestores avaliam impactos nos ativos após piora na projeção da Selic
Juro elevado é drive para quase todos os ativos de renda fixa e renda variável, impactando na montagem das carteiras das gestoras
Marco Bismarchi, sócio e portfólio Manager da TAG Investimentos
Marco Bismarchi, sócio e portfólio Manager da TAG Investimentos

O cenário de cortes na taxa Selic em 2024 já havia sido posto de lado pela ampla maioria dos analistas. Mas, agora, a possibilidade de alta na Selic, hoje em 10,50% ao ano, não apenas passou a ser cogitada, mas ganha rapidamente adeptos que veem, inclusive, um 2025 de juro ainda mais elevado. A XP é uma representante deste grupo e no evento XP CEO Conference desta segunda-feira (19) projetou a Selic a 12% ao final do próximo ano.

Juro básico elevado é drive para quase todos os ativos de renda fixa e renda variável, impactando na montagem das carteiras e nas estratégias das assets para entregarem retornos aos investidores. A Capital Aberto ouviu gestores de diferentes classes de ativos para projetar, com base no cenário que ganha força, as tendências de alocação.

Quando o juro sobe a primeira equação que vem à cabeça é renda fixa em alta e renda variável com tendência de perda de recursos. Mas isso não necessariamente deve acontecer, conforme a estrategista de ações da XP, Jenny Li. “Acho que é importante pontuar porque a Bolsa está subindo nessas últimas duas semanas. Primeiro, o cenário macro no exterior tem melhorado. Teve aquela segunda-feira duas semanas atrás em que a volatilidade aumentou por medo de recessão e desmonte de carry trade no Japão, mas tudo isso tem se acalmado”, comenta Jenny, acrescentando que os últimos dados econômicos dos Estados Unidos têm sido favoráveis, o que abre a porta para o Federal Reserve (Fed) cortar o juro de forma suave, sem medo da recessão.


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Na visão da estrategista de ações da XP, este é um cenário favorável para mercados emergentes, como o Brasil, já que traz de volta o fluxo do investidor estrangeiro para a Bolsa. Além disso, a temporada de balanços do segundo trimestre foi bastante sólida e colabora na alta das ações. Apesar do bom momento, a especialista reconhece que a projeção de alta da taxa Selic é uma preocupação.

“Tanto que semana passada a gente teve uma conferência com diversos investidores institucionais e alguns mencionaram isso como fonte de preocupação”, ressalta Jenny. “Mas, por enquanto, ela é mais um ajuste num ciclo relativamente pequeno que a gente tem expectativas de inflação desancorada”.

Segundo ela, mais do que a Selic, para os investidores e para a Bolsa é muito mais o risco fiscal. “Tanto que a gente vê na curva de juros a ponta longa abaixando nas últimas semanas.” Na reunião entre a XP e os investidores institucionais, a estrategista da XP disse que a maioria citou que vê muita oportunidade barata na Bolsa. Entretanto, a corretora segue relativamente defensiva. “Ainda não é necessário ficar tomando muito risco. Investir em ativos que tem muito beta e que tem muita volatilidade”.

Renda fixa em alta

Com o mercado começando a precificar a Selic mais alta no ano que vem, ou seja, juros altos por mais tempo, diante de um cenário de economia mais pujante por aqui, embora algumas gestoras permaneçam céticas quanto a essa possibilidade, a renda fixa e o crédito privado devem continuar em evidência em 2025, assim como tem sido este ano.

Com isso, na avaliação dos gestores, a expectativa é que os títulos públicos prefixados fiquem ainda mais atraentes, enquanto no crédito privado os títulos high yield deve ser o destaque. No entanto, as gestoras alertam sobre o outro lado da moeda, já que uma alta de juros pode impactar negativamente o custo de capital de algumas empresas.

Leia também: Títulos públicos ganham relevância na carteira das gestoras

“A princípio, o nosso cenário base não é de alta de juros, mas a gente tem conversado com bastante gente de mercado e entende o argumento. Acho que, eventualmente, até politicamente pode ser um bom caminho para o Banco Central subir juros agora, para o Galípolo [Gabriel, que pode ser indicado pelo governo como presidente do BC] ser o portador de boas notícias quando ele assumir. A grande verdade é que o BC meio que se colocou em corner”, afirma o sócio e gestor de portfólio da TAG Investimentos, Marco Bismarchi.

Na renda fixa, o gestor acha que tem espaço para o título público prefixado ficar ainda melhor, enquanto as NTN-B não devem ter impacto com juros mais altos, principalmente as mais longas uma vez que as grandes diferenças vão estar na parte do meio curva. “O risco para a parte mais longa seria, eventualmente, mais inflação e juros mais abertos, caso tenha um pouco de desancoragem. Então, basicamente, a gente acha que é possível (subir juros)”.

De acordo com Carlos Lima, da Reag Asset Management, esse cenário de juro mais alto por mais tempo desestimula a saída do investidor da renda fixa. “Se for o cenário precificado hoje, com alta, mas de corte logo depois, ainda é um cenário favorável. No geral, é um cenário relevante para fundos que possuem isenção. Todos os produtos, na verdade, serão beneficiados”.

Apesar de a maioria do mercado considerar uma taxa de juros a 12% em 2025, há quem pense o contrário, como é o caso da SOMMA Investimentos. Mesmo assim, com juros altos por mais tempo, os gestores veem a alocação de títulos públicos como importante para qualquer portfólio.

O gestor de crédito privado da SOMMA Investimentos, Eduardo Lobo, disse que o cenário base para a gestora em 2025 é de queda da Selic, mas reconhece que o momento atual é de volatilidade e pode haver alterações.

gestores, Gestores avaliam impactos nos ativos após piora na projeção da Selic, Capital Aberto

“Independentemente do movimento na taxa de juros, a taxa Selic deve permanecer em níveis elevados no ano que vem. Dessa forma, acreditamos que o mercado de renda fixa continuará aquecido e com bastante demanda do investidor, que deverá continuar enxergando essa classe de ativo como uma das mais atrativas na relação de risco e retorno”, conta Lobo.

E o crédito privado também

Já o crédito privado, dividido dentro da TAG em high grade e o high yield, Bismarchi acha que o primeiro já andou bastante, por isso a gestora está ficando um pouco mais neutra, já que o spread de crédito fechou.

“Do lado do high yield, tem que ser mais cauteloso, no sentido de que a alta de juros pode impactar um pouco mais as empresas na parte de custo de capital, mas a gente acha que tem boas oportunidades ainda com taxas interessantes”, analisa o sócio e gestor da TAG Investimentos.

Dentro dos títulos de crédito privado, que podem se beneficiar de juros altos por mais tempo, Bismarchi chama a atenção para os títulos isentos, como as debêntures de infraestrutura, Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), além de Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) e fundos imobiliários. “Pela isenção fiscal de impostos, esses títulos têm uma vantagem competitiva em relação às debêntures simples, por exemplo”.

Lima lembra também que a demanda forte do crédito privado levou a um movimento importante de fechamento de spread no curto prazo, com muitas empresas buscando esse mercado como forma de alongar o perfil da dívida e a redução dos spreads. “Um movimento importante do segundo semestre de 2023 para cá, como reflexo da demanda. Houve um volume relevante de debêntures, mas que tem limite também, embora ainda tenha oportunidades para as empresas acessarem este mercado”.

Assim como o visto em 2024, a demanda das empresas por crédito privado deve permanecer aquecida no próximo ano, uma vez que as empresas continuam muito bem situadas, principalmente aquelas que emitem debêntures grandes no mercado, que possuem rating ‘AAA’, ‘AA’ ou ‘A’, explicou o gestor de renda fixa e crédito privado da EQI Asset, Alejandro Schiuma. “Quando a gente observa o comportamento dos spreads de crédito nos últimos 12 meses, os níveis de negociações estão abaixo daqueles vistos antes do evento Americanas, no começo do 2023”.

Para o gestor da EQI Asset, há um comportamento benigno vindo por aí, o que deve beneficiar tanto as debêntures incentivadas, aquelas que seguem a lei 12.431, ou os novos instrumentos após a alteração da regulamentação por parte do CMN (Conselho Monetário Nacional). “A gente deve ter esses dois segmentos como principais fontes demandadoras de recurso para 2025. Vale lembrar, não obstante, que o spread de crédito, especialmente nos segmentos isentos, já se mostra em níveis historicamente baixos, ainda assim, com um pequeno potencial de compressão”.

Do ponto de vista da demanda por crédito, o cenário de juro mais alto, segundo a Bloxs, plataforma que estrutura operações de mercado de capitais, não é necessariamente um problema, já que há oportunidades de gerar bons papeis.

“Como estruturamos as operações olhando muito para o cenário, além de olhar para a área de atuação da empresa, trazemos estratégias que são em linha com todas as movimentações econômicas, tanto no intuito de montar pontas defensivas na carteira, quanto no momento de montar uma posição mais ativa”, analisa o gerente de Contas da Bloxs, Vinicius Politi Bratfisch.  

Indagado sobre a possibilidade de que juro alto possa dificultar a vida das pequenas e médias empresas – público atendido pela Bloxs – o executivo ressaltou que os processos e as diligências são rigorosos para dar acessibilidade de crédito saudável para o empreendedor.


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