As últimas semanas foram marcadas por reposicionamento do mercado em relação às big techs, ou “Magnificent 7”, que tiveram uma onda de valorização no primeiro semestre e agora passam por um sell-off. O movimento de queda dos papéis, na visão do mercado, é apenas de uma correção natural e pontual dos preços. Gestoras de fundos de ações no exterior com exposição a essas companhias aproveitaram os preços elevados para vender e fazer caixa. Agora, olham também para empresas em menos evidência e outros mercados além dos Estados Unidos.
Com a possibilidade de corte de taxas pelo Federal Reserve (FED) a partir de setembro, setores mais cíclicos devem ganhar impulso com os juros mais baixos e as expectativas mais favoráveis para as eleições de Donald Trump. O candidato deixou claro que trabalharia para reduzir os impostos corporativos, apoiados sobre o forte desempenho das ações de tecnologia até a metade do ano, o que provoca o chamado rotation trade.
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Para algumas casas que possuem fundos de ações com alocação nessas empresas, como a Janus Henderson, esse sell off, como outros que já ocorreram, tende a ser mais em função do posicionamento extremo e de alguma digestão após períodos de retornos muito fortes. Segundo executivo da gestora, a Janus continua a esperar que, em um setor em que o vencedor leva a maioria, como o de tecnologia, se uma empresa acabar dominando um grande mercado, ela não permanecerá com uma capitalização pequena por muito tempo.
“Continuamos a destacar que analisar as avaliações no setor de tecnologia por meio de uma lente tradicional pode ser um desafio, pois as estimativas de consenso muitas vezes estão erradas, dada a natureza dinâmica do setor”, aponta Richard Clode, gerente de portfólio de tecnologia na Janus Henderson. “Acreditamos que a melhor maneira de resolver o desafio da avaliação no setor de tecnologia é identificar as empresas que vão gerar lucros significativamente maiores do que o mercado espera nesse momento, o que também implica que elas são muito mais baratas do que o mercado pensa atualmente.”
Embora ainda sejam companhias de destaque e venham entregando de forma consistente há bastante tempo, o mercado questiona se o que é esperado delas é realista ou não. Esta dúvida somada ao tom dado pelos primeiros balanços, de Alphabet e Tesla, todos passaram a olhar mais atentamente esse setor e se reposicionar, embora para alguns esse movimento tenha se iniciado antes. O mercado teve uma reação adversa ao nível de investimento que está sendo feito em inteligência artificial (IA) das companhias.
“Temos visto esse nicho com um certo cuidado já tem algum tempo, e é onde a gente tem muitos detalhes. Na questão de portfólios, já tínhamos alguma preocupação com o momento dessas empresas, aquela consistência na alta delas, porque vemos um nível de valuation bastante esticado, de certa forma, refletindo expectativas de lucros não muito condizentes com o que a gente acha que é possível entregar”, comenta Daniel Popovich, portfolio manager da Franklin Templeton.
No final de maio, a Franklin Templeton, que possui fundos como o Clearbridge Ações EUA Growth com as megacaps na carteira, ficou “neutra” na preferência entre setores, e realizou outra mudança. A gestora, que tinha também uma preferência por ações em relação à renda fixa, também ficou neutra nesses termos, vendo tanto um ótimo potencial de retorno de longo prazo para ações quanto um potencial interessante para a renda fixa.
“Se separarmos como estão essas megacaps do resto dos índices, estamos num cenário bem diferente, então, para outros mercados, temos uma visão mais positiva. A gente acha que o nível de valuation não está barato, mas está mais adequado”, comenta Popovich.
A casa tem optado por uma gestão ativa no nicho de ações, preocupada com o nível talvez exagerado de valuation, vendendo parte do que estava investido em ações para a renda fixa. Com um primeiro semestre do ano muito forte em termos de retorno para ações, o executivo da Franklin Templeton observa que há uma visão positiva para elas a longo prazo, mas que este ano já entregou bastante. “Talvez seja hora de tirar um pouco o pé do acelerador, não é a hora de chamar riscos excessivos e voltar um pouco para a renda fixa e pegar um pouco desse carrego atrativo que a gente vê nas taxas, especialmente dada a discussão de juros mais altos por mais tempo.”
A Empiricus, que possui uma família de fundos dedicada ao segmento de tecnologia, o Empiricus Tech Select FIA BDR Nível I, o Empiricus Moneybets FIA BDR Nível I e o Vitreo Blockchain FIA BDR Nível I. O Vitreo mescla sua exposição entre as big techs e companhias que navegam mais pelo tier 2 e que estão um pouco mais abaixo do radar. Apesar de se manter otimista para as grandes empresas, a Empiricus reduziu sua alocação.
“Ainda continuamos construtivos para as Big Techs de forma geral. Apesar disso, um pouco antes da metade do mês, reduzimos a exposição do portfólio nas ações. Fizemos o movimento mais sob uma ótica Top Down, com o intuito de reduzir o risco das carteiras. De lá para cá, estamos esperando uma janela mais interessante para retomar o peso nas ações”, comenta João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão.
A Empiricus tem preferido investimentos majoritariamente em companhias americanas, mas detém investimento em empresas holandesas (Synopsis, Elastic), na chinesa BYD e até recentemente na Taiwan Semiconductor (TSM). Não restringimos geograficamente a seleção dos ativos, até mesmo porque várias dessas companhias possuem uma atuação global.
Sobre as empresas menores, a gestora está de olho no tier 2, segunda camada das companhias que possuem potencial para avançar sem a pressão de estarem liderando os ETFs setoriais.
Europa e Ásia ficam atrativas
Já Franklin Templeton continua monitorando o portfólio, e se os resultados das big techs desapontarem o mercado e ocorrer uma correção relevante em relação ao preço de negociação, maior do que visto até agora, há boas chances de até voltar a aumentar a posição em ações. Por ora, em termos de ações, a Franklin tem olhado para outros estilos de investimento e outras geografias. Apesar da preferência para os EUA, com mais espaço para empresas de valor, mais ligadas a setores cíclicos, ela tem aumentado progressivamente seu posicionamento na Europa.
A Janus Henderson também tem avaliado para esses mercados. “Continuamos a monitorar as oportunidades de risco/recompensa mais atraentes, tanto do ponto de vista do subsetor quanto do ponto de vista geográfico, e, mais recentemente, reduzimos um pouco a exposição aos EUA e aumentamos a exposição à Europa e à Ásia”, aponta Clode.
Com uma retomada no crescimento econômico na Europa, que deve surgir um efeito positivo, e a decisão dos bancos centrais em começarem os seus ciclos de corte de juros, esses mercados começam a ficar mais atrativos. Empresas menos “gigantes” ou de nichos diferentes do que a IA também passam a ficar em evidência.
Para Thiago Almeida, sócio da Catarina Capital, gestora especializada na gestão de investimentos em tecnologia, o que deve acontecer agora é uma estabilização ou talvez uma perda de força de crescimento da valorização das ações das big techs e uma tendência de valorização ainda interessante nesse segundo hall de ativos de tecnologia.
“Temos até um fundo de capital proprietário pequeno, que tem uma alocação mais abrangente em tech, tanto nas big techs quanto em empresas mais setorizadas, em tecnologia. Esse fundo está, sim, com uma posição de caixa hoje, até porque a gente acha que realmente temos agora, nesse earnings, uma tendência maior à correção, até pela alta explosiva que tivemos nos anteriores”, comenta Almeida.
O executivo não diria que é a hora de vender, pois acredita nos fundamentos do setor e em uma visão de longo prazo, mas aponta que, de fato, estamos em um momento que não é de tão forte crescimento como houve no começo do ano.
A alocação da casa é bastante ampla e “foge” do básico de apenas as Magnificent 7. “São mais de 80 papéis monitorados aqui em tecnologia, papéis globais. É lógico que as Magnificent Seven estão incluídas nisso, mas o grosso da alocação tem sido entre semicondutores, ações de CyberSecurity e multinuvem”, diz o sócio. No produto abrangente, a exposição é um pouco mais ampla, com cerca de 20 a 25 papéis.
Para Almeida, em uma visão de longo prazo, há um upside potencial maior em ativos que estão surfando essas três ondas de bases tecnológicas evidentes para o mundo hoje: novos semicondutores, principalmente a parte de processamento gráfico, toda a parte de CyberSec e toda a parte de soluções de gestão de nuvem.
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