O cenário local adverso tem contribuído para a grande demanda que temos visto na renda fixa brasileira este ano, uma vez que a deterioração das contas públicas parece eminente. Recentemente, um adendo a mais tem influenciado fortemente a curva de juros, que é a disparada do dólar, favorecendo, além do crédito privado, a demanda de títulos públicos por parte dos gestores.
E, com a taxa Selic em 10,50% ao ano e sem expectativa de corte pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tão cedo, o título público, utilizado pelo governo para financiar a dívida, se mostra a melhor saída para se proteger em cenário de grande volatilidade.
O aumento da procura por título público tanto é verdade que, em junho, os investimentos no Tesouro Direto somaram R$ 5,68 bilhões, totalizando mais de 760 mil operações, registrando o maior número da série histórica, de acordo com o Ministério da Fazenda. No mês passado, os resgates foram de R$ 3,27 bilhões, o que resultou numa emissão líquida de 2,41 bilhões.
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Entre os títulos mais procurados pelos investidores em junho, destaque para o indexado à inflação, como Tesouro IPCA+, Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais, Tesouro RendA+ e Tesouro Educa+. Juntos, totalizaram R$ 3,06 bilhões em vendas, ou 53,8% do total. Na sequência, aparecem os títulos indexados à taxa Selic, que somaram R$ 2,05 bilhões, ou 36,1% das vendas, enquanto os títulos prefixados totalizaram R$ 575,2 milhões em vendas, ou 10,1% do total.
Para o economista e investidor da Corano Capital, Bruno Corano, a situação fiscal brasileira não é boa, com incêndios que precisam ser apagados de vez em quando pelo governo. Com isso, é possível encontrar um título de cinco anos, com vencimento em 2029, que paga IPCA +6,2%.
Segundo ele, há muitos fundos de pensão, inclusive, comprando para bater a meta atuarial por um bom tempo. “A taxa pode chegar a IPCA+7, IPCA+ 8? Acho muito difícil. A taxa deve ficar mais ou menos neste patamar e começar a dar uma aliviada daqui a pouco. Na minha opinião, o Copom vai ter que manter a taxa de juros neste momento. Não deve subir agora”.
O que dizem as gestoras
Na avalição do executivo de fundos de Renda Fixada BB Asset, Flavio Mattos, atualmente vale muito a pena acessar títulos públicos de médio e longo prazo, já que quanto mais longo mais prêmio e mais ganho. “No entanto, precisa ter tempo para esperar, mas já há uma maturidade do investidor sobre Tesouro Direto”.
Atualmente, a gestora possui exposição a títulos indexados à inflação, prefixados e dois ETF, sendo que um ETF é de título prefixado, chamado de fixa11, que replica uma carteira de dois anos e meio de duration, com taxa de 11,91%. Já o outro ETF é de IPCA, que replica a NTN-B com até cinco anos de vencimento, a taxa média de 6,60%.
Em relação aos títulos indexados à inflação e os prefixados, a estratégia da BB Asset é ganhar no cenário de volatilidade. Isso porque, se a inflação for contida, o ganho é maior no prefixado. “Porém, o título mais seguro é o de inflação. Com uma meta de 4% ao ano, mas, se por acaso for um pouco maior, de 4,5% ao ano, a perspectiva de ganho é maior, além dos 6,5% que comprou de cupom real”, explica Mattos.
O executivo ressalta que a BB Asset não está com muita sede ao pote, se posicionando no título pré-indexado porque a taxa continua piorando, querendo acertar o melhor momento, uma vez que o prêmio na curva de juros é muito significativo, com o mercado projetando Selic a 11,5%. “No médio e longo prazo, é uma oportunidade de entrada. Os fundos indexados estão aderentes à estratégia de título pré e IPCA”.
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Historicamente, de acordo com o executivo da BB Asset, estamos num momento de maior volatilidade, com a curva de juro de longo prazo em ascendência. “Se ele (investidor) está comprando para manter a médio e longo prazo, está fazendo um excelente negócio. Quando vai investir via fundos, ou acessar o Tesouro Direto, precisa entender o prazo”.
Essa subida da curva de juros pode ser explicada pela dúvida em relação ao risco fiscal brasileiro e a alta do dólar, que tende a impactar fortemente a inflação. Ontem, durante coletiva de imprensa, para explicar os resultados de junho, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Heleno Borges, disse que a LTN de 72 meses, por exemplo, passou de 11,89% ao final de maio para 12,51% em junho. No caso da NTN-B de 40 anos, um benchmark de referência, saiu de 6,18% para 6,50% ao final do mês passado.
Para o head de renda fixa da Faz Capital, Filipe Arend, essa abertura expressiva da taxa aconteceu porque o mercado tem apostado que não vai ser possível cumprir a meta fiscal em 2024 e nem nos próximos anos.“Olhando para a inflação, a gente vê que os núcleos saem rondando bastante em cima da meta de 3%. As projeções de inflação também continuam subindo, tanto quando a gente olha para projeções de economistas quanto para os preços de mercado”.
Por conta desse cenário de volatilidade, a Faz Capital afirma que as alocações têm sido feitas pensando mais no carrego dos papéis primeiramente, para que então futuramente sejam realizadas as alocações caso o cenário permita.
Outra gestora posicionada em títulos públicos é a TAG Investimentos, que vê o atual patamar dos juros bem interessantes, aproveitando para montar posição. Hoje, segundo o sócio e portfólio Manager da gestora, Marco Bismarchi, a casa está posicionada entre 15% e 20% em NTN-B, com o objetivo de se proteger da alta da inflação, que tem impactado o mundo inteiro.
“Temos trabalhado nas NTN-B, com vencimento em 2032, pegando a curva que não é tão longa. No prefixado, temos optado por vencimento até 2027, 2028, no máximo, com o que a gente consegue ver de política monetária”, conta o sócio e portfólio Manager da TAG Investimentos.
Bismarchi ressalta que a estratégia foi reduzir exposição aos fundos multimercados que sofreram muito nos últimos dois anos para taxas mais seguras. “O mais curioso, agora, é ver como o Copom vai se comunicar. Vamos entrar 2025 mais dovish”.
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