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Conflito no Oriente Médio e inflação global de ativos reforça apetite por ouro
Preço por libra onça no mercado spot alcança R$ 2,6 mil, alta de 30% no ano; tendência para o metal ainda é de alta
Ruy Alves, gestor de multimercado da Kinea

O atual conflito no Oriente Médio eleva o risco geopolítico e, somado a um movimento de inflação de ativos ao redor do mundo diante do dólar, contribui para a valorização do ouro e o consequente apetite de gestoras pelo ativo. Somente em 2024, o metal já acumula alta de pelo menos 30%, alcançando US$ 2.6 mil por libra onça no mercado spot. Uma referência usada por gestores por ser “fidedigna” ao valor spot do metal é o ETF IAU, da BlackRock, negociado na bolsa de Nova York (NYSE), cuja cota já engordou 38,6% em 12 meses, e está acima de US$ 50. As gestoras consultadas pela Capital Aberto enxergam espaço para novas altas do ativo.  

Entre os gestores procurados, há quem já tenha se posicionado favoravelmente ao metal desde 2022, a exemplo da Kinea, do Itaú, e as casas que deram passos mais largos em direção ao investimento neste ano. Também existe a parcela de gestoras que já teve ouro em suas carteiras de fundos multimercados no passado e agora reavalia fazer posições. “Sempre olhamos [para o ativo]. Podemos voltar”, comenta Mario Barbosa Filho, sócio da Argumento Gestão de Investimentos.  


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A Empiricus Gestora, por exemplo, aumentou a exposição de seu fundo multimercado Empiricus Money Rider Hedge Fund ao ouro neste ano, de 5% para 8%. O fundo inclui diferentes classes de ativos, entre eles títulos, derivativos, commodities e ações de grandes companhias internacionais – a exemplo da canadense de tecnologia Constellation Software, holding que também atua nos Estados Unidos, e da Instacart (uma espécie de Ifood dos EUA, que estreou na Nasdaq em setembro de 2023), para citar algumas.  

“Eu acho que tem um espaço grande ainda para [o ouro] subir”, disse João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão. A gestora tem exposição a ouro em outros fundos e, ainda, um fundo passivo do metal. Suas posições em ouro aumentaram em 2019, quando a casa ainda investia, então, uma parcela “ínfima” no ativo – apenas 0,5%. Na época, a decisão foi tomada devido ao conflito entre Estados Unidos e Coreia do Norte, o qual gerou tensão geopolítica.

“Agora estamos percebendo uma inflação global de ativos. O dólar está perdendo valor frente a outros, como ações, metais, e renda fixa que, de certa forma, ainda engorda no mundo”, continua Piccioni. Além do risco geopolítico, que ainda leva bancos centrais e investidores a buscarem ativos reais considerados mais seguros (mesmo que não pague juros), alguns outros fatores explicam o avanço do ouro.

Um deles é macroeconômico. “Desde a pandemia, economias emitiram quase US$ 10 trilhões, o que acabou gerando um ambiente de déficits fiscais persistentes. Os Estados Unidos, por exemplo, estão enfrentando déficits elevados e a impressão de moeda lá continua em alta. Acaba gerando um ambiente no qual as moedas, que chamamos de fiduciárias, como o próprio dólar, podem estar se desvalorizando frente a ativos reais, como o ouro”, avalia Felipe Sze, gestor e sócio da Gauss Capital. A gestora aumentou exposição de seu fundo carro-chefe ao metal, o GAUSS FIC FIM, em julho.

Ainda segundo o gestor da Gauss, o mercado imobiliário americano também teve uma valorização forte, o que reforça essa tendência de valorização dos ativos reais frente ao dólar. A demanda por ouro de bancos centrais continua, inclusive pelo BC da China. “Mesmo que o banco central chinês diga oficialmente que não está mais aumentando suas reservas de ouro, algumas outras fontes, inclusive um estudo da Goldman Sachs, mostram que, na verdade, a China continua comprando ouro”, diz Sze.

Ruy Alves, gestor multimercado da Kinea, reitera que o chinês tem poucas oportunidades de investimento. Desse modo, há uma demanda dos investidores chineses que saíram do mercado imobiliário (em crise no país asiático) e, também, de compradores de joias da Índia. O setor de alta tecnologia também é comprador devido ao emprego do metal em satélites e equipamentos hospitalares.  

Início da alta

A forte trajetória de valorização do ativo teve início no segundo semestre de 2022, após a eclosão da guerra entre Ucrânia e Rússia. “Desde então, o ouro está num processo de ascendência. Não é um processo que começou agora, mas o conflito atual não deixa de ser uma cerejinha no bolo para quem quer especular neste momento”, comenta Alves, da Kinea.

À época, os EUA congelaram as reservas russas e o mundo começou a perceber que não era garantido ter dólares como reserva, lembram os gestores.  

O retrato gerou uma corrida por ouro. É que se trata de uma moeda comum no mundo, com mais de 6 mil anos de história como ativo de reservas. Gradualmente, a partir daquele momento, a demanda começou a crescer, seja a partir dos bancos centrais de diversos países como também por investidores.


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