A ata da reunião do Copom divulgada hoje (6) pelo Banco Central (BC), relativa ao encontro da semana passada, manteve a indicação de que a Selic cairá meio ponto percentual, pelo menos nas próximas duas reuniões, em março e abril. “Os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o documento. Com isso, os juros, que haviam caído de 11,75% para 11,25% no dia 31, recuarão para 10,25% já em maio. Mas, agora, fica a pergunta: quais serão os passos seguintes?
“Nossa leitura é que o BC provavelmente está querendo começar a discutir quando tira esse guidance de corte de 0,50 pontos percentuais”, diz o economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart. “Então pode haver dúvida se em junho o corte vai ser de 0,50 ou 0,25 pontos percentuais, porque o Copom já não quer se comprometer tão de antemão com dois movimentos de meio ponto percentual.”
“O Comitê ressalta que é importante seguir monitorando com bastante atenção as diferentes variáveis do mercado de trabalho, em particular com um acompanhamento minucioso da dinâmica dos rendimentos reais, que apresentaram maior crescimento nos últimos meses”, diz a ata.
Em outro trecho, o documento afirma que “o Comitê também discutiu, em maior profundidade, a relação entre o mercado de trabalho e os preços na economia”. Goulart analisa o motivo da cautela: “Existe a preocupação com os dados do mercado de trabalho doméstico, com a pressão de salários reais que aconteceu no final de 2023 e culminou na virada do ano com alguma pressão sobre a inflação de serviços subjacentes.”
O economista André Perfeito acrescenta: “Chamaram a atenção as preocupações do colegiado com a dinâmica do mercado de trabalho e como o Copom irá acompanhar seus desdobramentos na inflação de serviços”. Para ele, o movimento pode vir a preocupar. “Isso é um ponto importante, uma vez que a piora na dinâmica de serviços na inflação pode acender o sinal amarelo nas mesas da Faria Lima.”
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Cenário global
Sobre o cenário global, a ata aponta tanto fatores que podem desacelerar quanto que podem pressionar os preços (e consequentemente interferir no rumo dos juros). Entre os riscos de alta, destaca a “maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada”. Entre possíveis freios, enumera dois fatores: a “desaceleração da atividade econômica global” e os “impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global”, ambos mais fortes do que o esperado.
Levando tudo em conta, o comitê avalia que a conjuntura, particularmente no cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária no Brasil
Ao detalhar os argumentos, a ata diz que “reversão de choques de oferta, a inflação ao produtor bem-comportada na China e nos Estados Unidos e a dinâmica recente de preços de commodities permitem extrapolar um cenário benigno para a inflação de bens”.
Mas pondera: “No entanto, permanece grande incerteza sobre a demanda global futura e qual a extensão do movimento residual de preços relativos entre bens e serviços que ainda poderia ocorrer.” Como potenciais fontes de volatilidade e incertezas, o Copom também cita tensões geopolíticas e a aumento no custo dos fretes.
Na opinião de Goulart, da Novus Capital, os aspectos positivos devem falar mais alto. “O cenário global está mais favorável, com o princípio de corte de juros lá fora e os números de inflação de forma geral mais positivos”, afirma. Como resultado, ele prevê a valorização do real. Afinal, a queda de juros no exterior atrai investidores e dólares para o Brasil. “O câmbio mais apreciado é a forma como a política monetária externa bate na política monetária doméstica.”
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