Fazer o site de RI de uma bolsa de valores que acaba de abrir o capital não é tarefa simples. Está implícita aí a missão de ser um bom exemplo, principalmente quando se trata da maior bolsa de valores da América Latina. Ao mesmo tempo, o espaço para se diferenciar não é tão grande quanto parece. Apesar de os websites terem surpreendido pouco nos últimos anos, devido a um movimento coordenado de adesão a soluções muito parecidas, a evolução da comunicação on-line fez com que as principais ferramentas da atualidade fossem introduzidas por grande parte das companhias recém-listadas.

Ainda assim, o site da Bovespa Holding, lançado junto com a sua abertura de capital, em outubro, fez a diferença. Além de incluir as seções e ferramentas que caíram no gosto dos investidores em anos recentes — como a área sobre Fatores de Risco e o serviço RSS —, a Bolsa inovou em transparência sobre dados operacionais e deu exemplo de agilidade junto com sua nova parceira, a BM&F. No mesmo dia da assembléia que aprovou a união das duas bolsas, os investidores tinham à disposição, na página de cada uma delas na internet, o link para um ambiente com todas as informações já existentes sobre a nova companhia — procedimento não muito comum em operações complexas como essa.

A idéia de caprichar na divulgação dos dados operacionais surgiu como forma de compensar a ausência de uma prática que ganhou adeptos recentemente: a divulgação de projeções sobre resultados futuros, o chamado guidance. “Atuamos num segmento que depende de fatores desassociados do nosso desempenho como empresa”, afirma Charles Toledo, diretor-adjunto de RI da Bovespa, referindo-se a variáveis como política externa dos países, câmbio e juros. “Por isso optamos por não fornecer guidance aos investidores”, completa.

As informações operacionais aparecem na seção de notícias, sob o título “banco de dados”. Sua apresentação lembra a de uma planilha gerencial, mas o detalhe e o histórico nela contidos são de grande valia. O volume financeiro negociado em cada mercado, por exemplo, está aberto desde janeiro de 2000. Há, também, a evolução, ao longo dos anos, de dados como concentração de mercado mensal; participação de investidores no volume financeiro total; valor de mercado anual e diário; número de contas de custódia ativas; montante dos valores mobiliários em depósito e número de pregões. “Com estas informações, analistas e investidores podem usar diversos modelos de cálculos para chegar a projeções próprias”, acrescenta o executivo.

Para Leila Almeida, gerente de análise do escritório de consultoria em investimentos Lopes Filho & Associados, os dados operacionais de uma bolsa de valores são comparáveis aos de produção em uma indústria. Ou seja, constituem informações essenciais. Falta, ainda, na opinião da analista, a empresa deixar mais claro quais desses dados são realmente úteis para se fazerem projeções da Bovespa. Segundo Toledo, a previsão é que os dados sejam mantidos na página da BM&F Bovespa na internet.

PESQUISA DE MERCADO — O site da Bovespa Holding foi desenvolvido dentro de casa. “Nós entendemos que, em função da estrutura de que a Bovespa já dispõe, esta seria a melhor solução”, diz Toledo. No entanto, o executivo acredita que a contratação de terceiros possa ser uma boa opção para empresas menores que queiram desenvolver seu site de relacionamento com os investidores. Uma das vantagens do projeto interno foi a realização de larga pesquisa nas áreas de RI, nos websites das principais companhias abertas brasileiras. “Fizemos reuniões com as empresas que são referências no setor no Brasil e tomamos informações na rede sobre os melhores sites de RI no mundo para levantar as ferramentas mais procuradas pelos usuários”, afirma a supervisora de internet da Bovespa, Renata Martins.

Ela cita três ferramentas que julga como principais: o conteúdo personalizado para cada tipo de público (analistas, investidor institucional e investidor pessoa física); o e-mail alerta (que envia informações atualizadas para endereços cadastrados); e o kit do investidor (textos simplificados com dados da companhia). Quanto à segmentação do conteúdo, a idéia é disponibilizar informações seguindo critérios que melhor atendem a cada público. “Os dados são apresentados em linguagem mais didática aos investidores pessoa física e com mais detalhes para os analistas, que buscam as planilhas e os relatórios financeiros”, explica Renata. O desenvolvimento do site da Bovespa Holding custou cerca de R$ 35 mil.

Leila Almeida elogia as ferramentas disponíveis no site da Bovespa. A analista, no entanto, chama a atenção para os exageros no uso de e-mail alerta por algumas companhias: “Vários deles já são classificados como spam pelo nosso servidor, tamanha a quantidade de mensagens enviadas, a maioria de pouca relevância e encaminhadas de modo automático”, critica.

Renata Martins destaca que o site da Bovespa Holding possui, em média, 53 mil page views diárias, com picos diretamente relacionados à divulgação de resultados. A homepage de pessoa física é a mais acessada, seguida de perto pela de analistas e, depois, com boa distância, pela de investidores institucionais.