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Todas as fichas na gestão
Ex-executivos de bancos saem em busca de investidores para formar o primeiro fundo de participações exclusivamente dedicado a operações de Management Buy Out

Eles não queriam ser acionistas minoritários. E nem correr o risco de precisar armar ações defensivas para se proteger de conflitos com o controlador. Eles queriam era estar na gestão, sem o perigo de acabar como meros espectadores que assistem às decisões da administração pelo buraco da fechadura.

Fixados nesta idéia, Eduardo Faria, ex-diretor da Foreign & Colonial em Londres e da Corretora Icatu, e Fabiano Ramos, ex-Merrill Lynch e ING Barings, decidiram formar a FR Capital e lançar o primeiro fundo de participações exclusivamente voltado a adquirir o controle acionário de companhias em parceria com seus executivos, no modelo conhecido internacionalmente como Management Buy Out (MBO). Lançado à captação oficialmente em maio deste ano, o fundo Paradigma MBO veio a mercado com o desafio de encontrar executivos audaciosos dispostos a investir suas poupanças na aquisição compartilhada de controle e investidores interessados em se juntar a eles nessa empreitada.

Em linhas gerais, o Paradigma MBO capta recursos de investidores de longo prazo – fundos de pensão, milionários de olho em negócios atraentes ou mesmo escritórios de famílias (family offices) em busca de oportunidades de aplicações para o seu patrimônio – e sai à procura de companhias com bom potencial de lucratividade e alguma chance de venda de controle por problemas de sucessão, necessidade de capital ou redefinição estratégia do grupo controlador. Nelas precisam encontrar também executivos com patrimônio e entusiasmo razoáveis para assumir parte do investimento e deixar a vida de executivo para se tornar dono do negócio.

A missão não é das mais fáceis. Além de enfrentar os obstáculos que afligem toda a indústria de private equity – concorrência desleal com as elevadas taxas de juros na captação de recursos e uma associação infeliz do histórico desses fundos com aquisições mal sucedidas de empresas em estágio inicial (start ups) – eles precisam encontrar oportunidades que combinem as chances de saída do controlador com a disponibilidade de capital e o interesse dos executivos.

Ramos conta que já avaliou diversas empresas, entre companhias de capital aberto e fechado, e que hoje está em negociação com dez delas. Em todas os executivos concordaram com a aquisição compartilhada e estão começando a planejar o formato do negócio. “Duas estão em estágio mais avançado e já iniciamos a negociação com o acionista controlador”, conta Ramos sem dar mais detalhes e receoso de deixar escapar as pistas do seu achado. No universo das companhias sob a mira do fundo, 60% são divisões de multinacionais que agora estão fora do foco estratégico de suas matrizes e que contam com um quadro de diretores pouco confortáveis com a idéia de ver a empresa em poder de terceiros.

Mas a dificuldade maior é mesmo a captação dos recursos. “A proposta vem sendo muito bem recebida, mas o mercado passou por uma fase difícil. Além do mais, o processo de captação é burocrático e leva tempo”, afirma Ramos. Ele conta que investidores com cerca de R$ 100 milhões já confirmaram o interesse no fundo e estão colhendo as autorizações e preparando a papelada para fazer o aporte. Mas são necessários ainda outros R$ 100 milhões para que o fundo possa começar com pelo menos três empresas em carteira.

O Paradigma nasceu para ser uma alternativa aos fundos de governança corporativa hoje administrados por instituições como a Dynamo, a Bradesco Templeton e a Fator Doria Atherino. Sua tese de investimento se sustenta em um modelo de risco e retorno totalmente atípico na filosofia dos fundos de participações. Embora mais conservador no risco, o Paradigma tem a mesma pretensão de retorno dos fundos de governança e das carteiras private equity mais tradicionais.

Para realizar a façanha, Ramos e Faria apostam todas as suas fichas em um só elemento: a criação de valor na gestão da companhia. Em cada empresa investida, o Paradigma implementará, junto com os sócios-executivos, a metodologia de criação de valor desenvolvida pela Stern Stewart e baseada no indicador chamado EVA (Economic Value Added).

Pelo modelo EVA, a companhia só é de fato lucrativa quando suas atividades remuneram o custo de capital dos acionistas e da dívida tomada com terceiros. Trata-se de um conceito moderno de lucratividade que, quando aplicado, muitas vezes leva companhias historicamente lucrativas a perceberem que os resultados positivos não eram suficientes para remunerar o custo de oportunidade do capital investido e que o negócio não criava valor para os acionistas.

No modelo idealizado para o Paradigma, a criação de valor permite aos gestores proporcionar retornos competitivos sem abrir mão dos pré-requisitos estabelecidos para mitigar o risco. O primeiro deles é não ser minoritário. Para Faria, essa não é apenas uma forma de evitar os potenciais conflitos e as estratégias necessárias para preveni-los, mas também um caminho para escapar das ineficiências provocadas por um mercado de capitais pouco pulverizado. “No Brasil não temos a chance de nos defender de um controlador ruim ou de uma gestão mal conduzida adquirindo ações no mercado, ou seja, fazendo uma compra hostil”, afirma.

Ao alinhar interesses, a união com os executivos para compra da companhia também é uma das estratégias de redução de risco. Outra é a opção por empresas maduras, líderes em seu segmento, com baixo endividamento e fluxo de caixa previsível. O desafio, é claro, fica sendo o retorno competitivo, uma vez que todos os redutores de risco (a compra do controle, inclusive) elevam o preço de entrada no negócio e, portanto, o seu potencial de valorização para os investidores – questão que os gestores do fundo esperam solucionar com uma administração voltada à criação de valor.

As aquisições de controle em parceria com os executivos da companhia têm uma história incipiente no Brasil. Aconteceram em filiais de grupos multinacionais e algumas empresas médias brasileiras, muitas delas do ramo de tecnologia administradas por executivos arrojados e sócios decepcionados com os lucros fantásticos que deixaram de ser entregues pela nova economia. Em mercados desenvolvidos, os MBOs ocorrem com mais freqüência, favorecidos pelo ambiente propício do capital pulverizado.

Nesses mercados, observa-se que eles sofrem de perto os efeitos da instabilidade macroeconômica. É o que mostra um estudo do Centre for Management Buy Out Research (CMBOR), instituto inglês dedicado apenas à pesquisa de MBOs. Em um balanço das operações realizadas somente em Londres no ano de 2002, o CMBOR calcula que os valores transacionados, de 2,8 bilhões de libras (US$ 4,5 bilhões), foram os mais baixos dos últimos cinco anos e 40% inferiores aos de 2001, por conta das incertezas no cenário econômico.

Mais recentemente, a melhora de expectativas ajudou a reverter o desempenho dos MBOs no mercado londrino. Apenas nos meses de abril a junho, o total de MBOs chegou a 3,8 bilhões de libras (US$ 6,3 bilhões), mais do que em todo o ano de 2002. A mudança de humor vista recentemente na economia brasileira pode ser também um incentivo para que o Paradigma desenvolva o mercado de MBOs no país.


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