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Tacada de quatro mestres
Sem ativos, mas repleta de projetos turísticos de alto padrão no Brasil, a Invest Tur capta nada menos que R$ 945 milhões com investidores

, Tacada de quatro mestres, Capital AbertoEles venderam brisa. O trocadilho da frase ao lado serve para resumir um pouco da recente e ainda curta trajetória da Invest Tur, uma empresa que nasceu focada em projetos imobiliários turísticos. Até outro dia, ela era apenas uma idéia na cabeça de um quarteto, liderado pelo sonhador — ou visionário, com se veria depois — Carlos Novis Guimarães. Juntos, assumiram o papel de missionários fervorosos e saíram mundo afora pregando que a companhia seria um ótimo investimento para quem quisesse apostar nas belezas do Brasil.

Guimarães, José Romeu Ferraz Neto, Márcio Botana Moraes e Joaquim Ferraz não gastaram saliva à toa: em julho de 2007, sem uma linha telefônica, nem sede e muito menos um ativo que gerasse receita operacional, a Invest Tur foi à bolsa e levantou nada menos que R$ 945 milhões. A maior parte dos investidores, 70%, é formada por fundos de fora, especialmente norte-americanos, seguidos de ingleses, franceses e até asiáticos, baseados em Cingapura. Individualmente, o maior acionista é a companhia portuguesa Espírito Santo Tourism.

Na tentativa de fisgar investidores, os executivos da Invest Tur fizeram uma promessa: despejar os recursos arrecadados com a oferta, 100% primária, em uma série de projetos turísticos e de lazer. “O governo está comprometido em fazer obras de infra-estrutura, divulgar uma imagem melhor do Brasil no exterior e sediar a Copa de 2014 será uma ótima oportunidade”, diz, inegavelmente entusiasmado, Carlos Novis Guimarães, que fica baseado em Nova York e é presidente do conselho de administração da companhia. Ele cita a estimativa do Ministério do Turismo de que o País deverá receber, em 2014, 500 mil visitantes estrangeiros acima dos habituais. Também tem fé que o governo cumpra a promessa de colocar dinheiro em obras de infra-estrutura, melhorando áreas básicas como de transporte, saúde e segurança pública.

Quando venderam o país lá fora, exaltaram a praça verde-amarela, com seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de território e a pujante floresta Amazônica, que contém 20% da biodiversidade brasileira. Falaram do litoral fluminense, com destaque para a bela Paraty, e do Cristo Redentor, que recentemente (e num Rio de Janeiro ainda sem dengue) foi proclamado como uma das “Novas Sete Maravilhas do Mundo”. Destacaram, ainda, o clima tropical, o povo e o mar, que contam com o privilégio de não serem afetados por desastres naturais, como furacões e tornados que causam catástrofes mundiais.

Da estréia na Bovespa aos dias atuais, a companhia conseguiu ter bem mais que uma linha telefônica. Comprou um punhado de terrenos, onde planeja construir empreendimentos de lazer. A mais real e mais robusta conquista, por enquanto, foi a aquisição, em outubro do ano passado, do controle do Txai — um dos mais sofisticados resorts do Brasil. Hospedar-se em um dos seus 40 bangalôs, com piscina privativa, na bela praia de Itacaré (BA), pode sair bem mais que US$ 500, com a contrapartida em tranqüilidade e muitos mimos dos funcionários. A compra desse “hotel butique”, inaugurado em 2000, somou por volta de R$ 15 milhões e incluiu a marca Txai, que deve ser explorada em outros resorts.

Mais do que um negócio em si, a aquisição explica o embrião da Invest Tur. Afinal, o resort pertencia aos atuais sócios e idealizadores da Invest Tur, ao lado de Guimarães. José Romeu Ferraz Neto, Márcio Moraes e Joaquim Ferraz são proprietários do grupo RFM, fundado em 1979 e que já executou grandes empreendimentos — a exemplo do próprio Txai, do Club Med de Trancoso (BA) e do edifício comercial Caesar Towers (SP) — e até mesmo obras menores, mas com o seu charme, como a ampliação da butique Daslu, a reforma do antigo prédio do Fasano e do tradicional restaurante La Tambouile, todos na capital paulista.

Carlos Guimarães, que responde pela presidência do conselho, se juntou ao grupo depois, apesar de os quatro serem conhecidos de velha data. Após peregrinar como executivo de bancos de investimentos, entre os quais Lehman Brothers e Citigroup, e ficar dois anos em Washington a serviço do BID tocando projetos relacionados a países emergentes, Guimarães percebeu que vender o País seria uma tacada de mestre. E foi isso que fez, contando com o assessoramento da turma do Credit Suisse local, liderada por José Olympio. “Mostramos aos investidores um ‘pipeline’ de oportunidades, algumas das terras já com aprovação ambiental, e eles abraçaram o nosso projeto”, diz.

Os investidores colocaram dinheiro numa empresa que, no dia da estréia em bolsa, tinha, além da boa vontade, 62 projetos identificados, sendo 39 em estágio avançado. No total, eles demandariam US$ 1,2 bilhão. Passados nove meses de gestação, a Invest Tur fez 15 aquisições, sendo cinco somente este ano. Gastou 33% do capital levantado no IPO comprando terrenos, especialmente na Bahia.

Em janeiro, adquiriu 49% de um terreno de R$ 3,9 milhões de um projeto do grupo espanhol Singlehome. Juntos, a Invest Tur e o grupo espanhol vão aportar R$ 167 milhões em Trancoso, num empreendimento que vai contemplar hotel e residências de luxo. A previsão de abrir as portas está marcada para 2011.

Em paralelo, anunciou parcerias com grupos renomados no setor de turismo e hotelaria. Uma delas foi com a Sixsenses, sediada em Bangkok (Tailândia) e especializada em administração de hotéis para alta renda. A bandeira Sixsenses, segundo Guimarães, será fixada em pelo menos três empreendimentos. Um deles tem um apelo em voga no momento: o EVA by Sixsenses, uma marca com foco na redução da emissão de carbono.
Outra parceria será com o grupo Starwood, um grande franqueador e operador de hotéis que tem, entre suas nove bandeiras, etiquetas conhecidas internacionalmente como Le Meridien, Sheraton e St. Regis. São mais de 900 propriedades em aproximadamente uma centena de países. Uma dessas marcas poderá batizar um dos projetos da Invest Tur, segundo comunicado enviado à CVM no fim de março.

Somente no ano passado, a Invest Tur anunciou o lançamento de 10 empreendimentos que vão demandar investimentos de R$ 933 milhões nos próximos seis anos. Do total, quatro são na Bahia, um em Alagoas, um no Ceará, um no Rio e outro em Santa Catarina. Até mesmo o estado de São Paulo — cuja capital está longe de oferecer brisa, sombra e água fresca — será contemplado com uma obra. Está prevista a construção de um hotel butique na Avenida Brigadeiro Faria Lima, com área de 4 mil metros quadrados, 120 quartos e 120 residências, orçado em R$ 106 milhões.

Ao divulgar seu primeiro balanço, a Invest Tur anunciou prejuízo de R$ 49,7 milhões em 2007, devido, principalmente, às despesas de R$ 70,5 milhões com sua oferta inicial de ações. Não fossem esses gastos, a empresa teria lucro de R$ 20,7 milhões, graças às receitas financeiras resultantes das aplicações dos recursos da oferta, de R$ 38,6 milhões. A receita operacional ainda é zero, já que os seus projetos ainda não saíram totalmente da prancheta. Segundo Guimarães, a empresa ainda não consolidou as receitas do Txai, adquirido no ano passado, o que deve fazer somente este ano. A CVM permite o procedimento e concede um prazo de 90 dias para a incorporação dos resultados.


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