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Sobreviventes e vencedores

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As cinco décadas de história dos fundos de investimento no Brasil têm muitos dos componentes de um bom filme de aventura. Desbravadores de uma selva econômica repleta de imprevistos e armadilhas, eles alternaram, desde 1957, momentos de glória e ruína — e sempre foram salvos de última hora, em situações-limite, por sorte ou por alguma ironia do destino.

Como no cinema, tudo começou em clima de tranqüilidade. De olho nas boas oportunidades que poderiam surgir abaixo do Equador, os Rockefeller resolveram fazer negócio com a poupança da classe média brasileira criando o Crescinco, primeiro fundo de investimento do País. Em plena era desenvolvimentista, o fundo aplicava em ações sob a influência do espírito empreendedor de JK e do crescimento da indústria nacional.

Dez anos depois, já nos tempos do regime militar, os fundos deparariam com sua primeira emboscada: o Decreto-Lei 157, que permitia aos cidadãos utilizar parte do imposto de renda para comprar ações e, desta forma, criava uma demanda não apenas extraordinária, como absolutamente artificial por esses papéis e por cotas de fundos que neles investiam. A farra seria interrompida pelo crash da bolsa em 1971, quando os preços, de tão inflados, não se sustentavam mais. Para os fundos, restaria o trauma, alimentado pela desconfiança dos investidores.

Debilitada, a indústria de fundos padeceu por anos. Só conseguiu sobreviver graças ao inimigo, os fundos 157, que, mal ou bem, garantiam alguma demanda por ações depois de todo o estrago. Para contornar a aversão dos investidores, o jeito foi abusar da ousadia e criar os primeiros fundos de renda fixa, improvisando títulos privados com esse perfil. Tempos depois, em 1986, já em meio à guerra contra a inflação, mais uma armadilha: diante do congelamento promovido pelo Plano Cruzado, investidores voltaram a formar filas nas agências bancárias para comprar cotas de fundos de ações. Mas, assim como em 1971, o sonho não duraria muito.

Indomável, a inflação destruía a economia. Mas também criava uma rede de proteção para os fundos, principalmente os de renda fixa, ao reduzir os efeitos da corrosão do dinheiro. Tudo parecia sob controle até que um golpe terrível seria lançado pelo jovem presidente Fernando Collor e atingiria não só o dragão, como também os fundos, ao confiscar por 18 meses os recursos das aplicações e das contas correntes.

Mais uma vez, os fundos foram salvos pelo gongo. Meses após o bloqueio vieram os FAFs — Fundos de Aplicação Financeira —, que, por usufruir de liquidez diária, despertaram grande interesse. O efeito foi imediato: em um ano (1991), as aplicações em fundos cresceram 88%. O combate vitorioso contra a inflação, porém, viria apenas em 1994, com o Plano Real. Mas os fundos logo ganhariam uma nova aliada — a elevada taxa Selic, utilizada para manter a restritiva política monetária do governo FHC.

Apoiados no “maravilhoso” mundo dos mais elevados juros do planeta, os fundos enfrentaram as crises internacionais, a maxidesvalorização do real, a introdução do “come cotas” e a marcação a mercado, entre outros pequenos abalos. Enquanto isso, não perderam tempo: organizaram-se, ganharam transparência, adotaram práticas de auto-regulação e cresceram ano após ano.

Hoje, sem as facilidades trazidas pela inflação ou pelos juros estratosféricos, os fundos de investimento vivem sua melhor fase. Deixaram a selva eletrizante em que sobreviveram ao longo de décadas para ocupar um espaço consistente na economia do País, financiando companhias (por meio de fundos de ações ou de renda fixa), incentivando a inovação (com os fundos private equity ou venture capital), proporcionando novas fontes de captação (com os fundos de direitos creditórios — FIDCs) e servindo como veículo para investimentos em ativos de outros países (depois da Instrução 450, da Comissão de Valores Mobiliários). Sem artifícios ou redes de proteção, caminham com maturidade por uma trilha mais previsível e confiável. Como nos filmes, eles venceram.


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