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Benjamin Graham, o pai da análise fundamentalista – Parte 1

, Benjamin Graham, o pai da análise fundamentalista – Parte 1, Capital Aberto

Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula

Benjamin Graham (1894-1976) nasceu em Londres e se mudou com seus pais para Nova York quando tinha apenas um ano de idade, fugindo dos alemães, durante a Primeira Guerra Mundial. Mesmo perdendo o seu pai cedo e vivendo em uma situação de pobreza, ele conseguiu entrar para a Universidade de Columbia e iniciar uma brilhante carreira executiva e acadêmica.

A obra de Graham, que é considerado o “pai da análise fundamentalista”, atravessa o tempo como uma das poucas teorias que sobreviveram à dura prova das diversas crises do mercado financeiro mundial. O fato de o trabalho ter sido construído durante um período fértil em volatilidade — duas grandes guerras e o crash da Bolsa de Nova York, em 1929 — certamente inspirou Graham a solidificar suas ideias em terreno firme para que o tempo e os fatos nunca as enterrassem. Ao longo dos séculos, muitos tentam sobreviver à História, mas só os gênios conseguem.

Autor de livros clássicos, “bíblias” do investimento, como Security Analysis e Intelligent Investor, Graham deixou farto legado como analista e gestor de recursos. “Reitor” das profissões ligadas a investimento, ele tem frequência garantida nas melhores rodas acadêmicas nos campos de finanças e economia e no rol de grandes personagens em qualquer área.

Poucos, no entanto, conhecem outras facetas dessa figura: dramaturgo da Broadway, propagador de cultura geral (com citações que vão dos elementos da mitologia grega a frases de escritores famosos e nem tão conhecidos), debatedor inflamado como congressista, economista com propostas discutidas até em Bretton Woods, professor e profundo conhecedor da área de seguros.

O campo da valuation continua cada vez mais apaixonante no século 21. A precificação correta dos ativos tem importância fundamental no desenvolvimento global. Dentro da melhor definição resumida do estudo das ciências econômicas — a arte de alocar recursos escassos — é imperioso mensurarmos de forma correta o valor intrínseco de cada atividade, seja agrícola, industrial ou de serviços. Quando a poupança existente é direcionada para empresas/setores de maior retorno, o resultado é um crescimento mais harmônico, cabendo aos governos contribuir para preencher lacunas, sobretudo no campo da regulação, em que o mercado normalmente necessita de limites.

A atual conjuntura parece perfeita para revisitarmos as teorias do mestre Graham. Após oito anos de “taxa de juros zero” no mundo desenvolvido, o objetivo principal das autoridades foi atingido — evitar o caos de falências em série. Porém, passado tantos anos, mais um mistério se anuncia: por que, com o custo de oportunidade próximo a zero, as economias não reagem? Será que a teoria de Larry Summers, que diz que o mundo caminha para uma “estagnação secular”, está se confirmando? Como alocar recursos de forma eficaz nesse cenário? A farta e fácil alavancagem entre 2003 e 2008 gerou distorções injustificadas em termos de fundamentos refletindo no preço dos ativos (a chamada bolha), o que resultou na pior crise financeira da História. O que terá acontecido nos últimos anos, com a prevalência do juro zero e a recuperação nas cotações? Cabe ressaltar o exemplo do S&P, que triplicou de patamar, dos 700 pontos de março de 2009 para os 2.100 atuais.

Para a situação do Brasil, após a depressão de 2015/16, nunca as lições de Ben Graham foram tão atuais. Nos últimos cinco anos, o Ibovespa transitou no terreno negativo (casos de 2011, 2013, 2014 e 2015) ou positivo/abaixo do CDI (exemplos de 2010 e 2012), o que vem minando completamente a confiança dos investidores na compra de ações.

A lição número um de Graham: “O primeiro passo para se fazer dinheiro com ações é não perder dinheiro. O bom investimento se traduz em operações que prometam a segurança em relação ao principal investido e um retorno mínimo satisfatório a ser definido”. Em outras palavras, a entrada em um investimento só pode ser justificada por uma relação retorno/risco bastante favorável. A recomendação é sempre comprar algum ativo só se o preço negociado estiver claramente abaixo de seu valor intrínseco, avaliação realizada a partir de estimativas do que Graham alcunhou de “poder de lucrar” (“earning power”) das empresas. “O earning power será função direta da consistência de faturamento e margens e capacidade de controle de custos no longo prazo, sempre desconsiderando os anos excepcionais (positivos ou negativos).” Segundo o mestre, se o mercado prestasse atenção a esse conceito, certamente as bolhas e as depressões seriam minimizadas.

Qualquer outra modalidade de compra de ativos que não se encaixasse nas características de investimento era definida por Graham como “especulação”, que se baseia na concentração de atenção na tendência de variação de preços e não nos fundamentos da empresa. Sua grande mensagem aos analistas do passado, que foge completamente ao senso comum, é que “a especulação não deve ser ignorada”; ao contrário, é obrigação do analista entendê-la para que seja usada a seu favor na hora de identificar distorções de mercado. Portanto, é função de gestores e analistas a determinação de patamares de preço de compra e venda de papéis baseado em fundamentos, para que as ocasiões de forte especulação (tanto de pessimismo quanto de otimismo) sejam aproveitadas de forma inteligente.

As lições são muitas e não cabem em um só texto, limitado pelo espaço. Continuaremos no próximo artigo.


*Alexandre Póvoa ([email protected]) é presidente da Canepa Asset Brasil e autor dos livros Valuation, como Precificar Ações e Mundo Financeiro, o Olhar de um Gestor


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