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O futuro
Depois de servir à dívida pública durante anos, fundos de investimento assumem o instigante desafio de serem os intermediários entre companhias e mercado

, O futuro, Capital Aberto

Os primeiros 50 anos da indústria de fundos não foram fáceis. Seis moedas diferentes, oito planos econômicos, congelamentos de preços, confisco de recursos, uma inflação que bateu o recorde anual de 2.477% (em 1993), vários regimes cambiais, choques internos e externos, uma enlouquecedora esquizofrenia tributária. Mesmo assim, a indústria continuou existindo e prosperando, e hoje chega a R$ 1 trilhão de patrimônio. O que esperar do futuro? Para os especialistas, a indústria de fundos brasileira aproxima-se da maturidade. Deverá manter-se em uma trajetória de crescente sofisticação e diversificação, provocada por mudanças legais — como a permissão para os fundos investirem no exterior — e econômicas — como a queda dos juros e a melhora no perfil da dívida pública. Os especialistas acreditam que, além desses movimentos, seis outros grandes vetores deverão moldar a indústria de fundos nos próximos anos:

, O futuro, Capital Aberto1 — Crescente importância do gestor
A globalização dos mercados apresenta uma grande vantagem e uma equivalente desvantagem para o investidor. A vantagem é que ele pode procurar excelentes oportunidades em mercados internacionais. A desvantagem é que os investidores internacionais também podem procurar excelentes oportunidades no mercado local. No longo prazo, a tendência é de uma convergência das rentabilidades, o que é um mau negócio para o investidor brasileiro mais adiante. “Taxas de retornos muito elevadas não são sustentáveis no longo prazo”, diz Luis Stuhlberger, sócio da corretora Hedging-Griffo. Isso fará com que a indústria de fundos apresente ao investidor produtos muito parecidos. As diferenças virão da competência ou não do gestor em procurar as melhores oportunidades do mercado.

2 — Estabilidade regulatória
Julius Buchenrode, ex-diretor de gestão do Chase Manhattan Bank e hoje sócio de uma empresa de securitização de recebíveis, relembra, sem muita saudade, como eram conflituosas as relações entre a indústria de fundos e as autoridades, especialmente o Banco Central (BC), responsável pela fiscalização dos fundos de renda fixa até 2003. “Havia uma grande insegurança regulatória”, afirma. “Era comum vararmos a noite discutindo mudanças na lei com os técnicos do BC, sairmos da reunião com tudo acertado e sermos surpreendidos, no dia seguinte, com a publicação de algo totalmente diferente no Diário Oficial.” Buchenrode perdeu a conta de quantas vezes viu o sol nascer das janelas do prédio do BC, em Brasília. Hoje, avalia, cenas como essa seriam bastante improváveis. “As relações estão mais profissionais, abertas e produtivas.” Outros especialistas, mais discretamente, dizem que o último susto regulatório foi o traumático episódio da marcação a mercado, em maio de 2002. “O BC percebeu que a decisão de antecipar a marcação drenou R$ 50 bilhões da indústria em poucos meses e prejudicou o próprio governo, por dificultar a rolagem da dívida pública”, diz um experiente gestor, que, por estar ainda na ativa, prefere a discrição. “Eles aprenderam da pior maneira que mudar as regras do jogo é uma bobagem, para dizer o mínimo.”

Hoje, gestores oferecem fundos com baixa liquidez, que só permitem resgates a cada 90 dias, pois há investidores dispostos a esperar

3 — Prazos mais longos, voluntariamente
No início do Plano Real, em 1994, uma decisão das autoridades pretendeu alongar artificialmente os prazos dos fundos, procurando assim facilitar a rolagem de títulos mais longos da dívida pública. O investidor que quisesse aplicar em fundos com liquidez diária teria de se conformar com produtos em que a rentabilidade seria reduzida pela incidência de pesados depósitos compulsórios. Quem não quisesse pagar o compulsório teria de se conformar com uma liquidez a , O futuro, Capital Abertocada 60 dias. Na prática, apenas os pequenos clientes tiveram de amargar essa falta de liquidez. “Os grandes investidores resolveram o problema com a criação de fundos exclusivos”, diz Alexandre Zákia, diretor de produtos de investimento do Banco Itaú. A regulamentação dizia que o investidor que resgatasse o dinheiro antes do vencimento teria de abrir mão de sua rentabilidade, que seria redistribuída entre os demais cotistas do fundo. “Nos fundos exclusivos só havia um cotista e, portanto, a punição não tinha efeito.” Hoje, diversos gestores oferecem fundos com liquidez de 30, 60 ou 90 dias e encontram clientes dispostos a deixar seu dinheiro parado por esse período. “O investidor percebeu que abrir mão de uma parte da liquidez pode ser um bom negócio em termos de rentabilidade”, diz Zákia. Nada mais lógico, desde que essa seja uma decisão voluntária. Pensando nisso, os gestores de fundos específicos, como os imobiliários e os , O futuro, Capital Abertode participação — versão nacional dos fundos de private equity —, embutem cláusulas restritivas à liquidez em suas carteiras. É um bom negócio para os investidores (que ganham mais) e para a indústria (que vende mais produtos).

4 — Espaço para imóveis e bons projetos
Fundos específicos, como os imobiliários e os de private equity (que investem em ações de empresas fechadas com grande potencial de crescimento para vendê-las posteriormente), sempre serão minoritários na indústria. São produtos sofisti- cados, de longo prazo, que exigem uma análise criteriosa de riscos e estão sujeitos a oscilações que não podem ser totalmente controladas, mesmo pelo mais competente dos gestores. Ainda assim, há amplo espaço para o crescimento desses produtos no mercado brasileiro. Nos Estados Unidos, os fundos imobiliários representam 3,7% do mercado, ao passo que, no Brasil, são apenas 0,3% do patrimônio da indústria. Seu mercado ainda é dominado por empresas independentes, como os grupos Ourinvest e Rio Bravo. “A perspectiva é de um grande crescimento devido à queda na taxa de juros”, diz Fábio Nogueira, diretor da Brazilian Mortgages, empresa securitizadora vinculada ao Ourinvest. O mesmo vale para os fundos de investimento em participações, equivalentes aos fundos americanos de private equity. Nos EUA, eles respondem por 2,2% da indústria. Aqui, apenas 1,3%.

Em 1984, as ações representavam 21% do patrimônio líquido dos fundos norte-americanos. Hoje são 57%

5 — Financiadores e fiscais das empresas
“Nos anos 80, quando comecei a trabalhar, os corretores de ações eram os fornecedores de liquidez para o mercado”, diz Stuhlberger. “No início dos anos 90, esse papel passou para os gestores de fundos.” Uma rápida análise dos números do mercado americano corrobora essa tese. Segundo dados recentes do Investment Company Institute (ICI), organização que analisa o mercado global de fundos, o patrimônio total dos fundos nos Estados Unidos cresceu 2.700%, de US$ 370 bilhões em 1984 para US$ 10,4 trilhões em 2006. Boa parte desse crescimento pode ser creditada à exponencial valorização do mercado de ações no período, que se tornou proporcionalmente mais representativo a cada ano nessa montanha de dinheiro. Em 1984, as ações correspondiam a 21% do portfólio total dos fundos. Em 2006, 57%. Os fundos são os grandes financiadores das empresas americanas: no fim de 2006, havia US$ 5,9 trilhões investidos em fundos de ações. “O Brasil deverá vivenciar um movimento parecido, pois, com a queda dos juros, haverá mais incentivo para investir em ações”, diz Stuhlberger. Acredita-se que o papel dos bancos comerciais ficará cada vez mais restrito ao financiamento das empresas de menor porte ou sem possibilidades de crescimento para acessar o mercado de capitais. Mesmo nesses casos, os bancos terão de competir com o crescente movimento dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), que estrearam no mercado em 2002 e já somam um patrimônio de R$ 20 bilhões, cerca de 2% do total da indústria, apenas com créditos privados. Empresas fechadas e de menor porte têm recorrido aos FIDCs como veículo para a cessão de seus recebíveis e a captação de recursos com investidores. A crescente importância dos fundos no financiamento das empresas terá um subproduto extremamente benéfico para toda a economia: a transparência. A empresa que quiser crescer com o dinheiro dos fundos terá de abrir capital, listar suas ações em bolsa e, obviamente, seduzir os gestores, divulgando números e informações e elevando o grau de informação e profissionalização da economia como um todo.

Um produto para a classe média

Desde o início dos anos 90, os fundos atendem a uma ampla gama de clientes, desde pequenos poupadores individuais a grandes investidores institucionais, como as fundações de previdência privada. Mas esse panorama promete mudar nos próximos anos. “Os fundos deverão tornar-se um produto voltado para os investidores de classe média”, diz Luiz Kaufman, superintendente-geral da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

O motivo é simples: a queda das taxas de juros mudará drasticamente o perfil das aplicações financeiras, e itens como imposto de renda e, em menor escala, taxas de administração, serão cada vez mais relevantes na rentabilidade líquida dos fundos. Isso deverá estimular uma migração dos clientes de renda mais baixa para aplicações isentas de imposto — como as cadernetas de poupança — ou sem taxas de administração, como os Certificados de Depósito Bancário (CDB).

Já os investidores maiores e mais sofisticados, como os fundos de pensão e as seguradoras, deverão recorrer cada vez mais a estruturas financeiras complexas, para ter acesso a impostos menores ou a produtos internacionais mais rentáveis. Os grandes investidores deverão tornar-se usuários freqüentes de produtos desenvolvidos sob medida e atuar como fornecedores de recursos de longo prazo.

Essa perspectiva para o futuro guarda semelhanças com o que ocorre em mercados desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, os investidores de renda mais baixa, com menos dinheiro disponível, optam por contas de poupança (as chamadas saving accounts) ou deixam sua reserva financeira em produtos previdenciários individuais ou corporativos. Os investidores pessoa física de alta renda compram diretamente produtos como ações e títulos de empresas, ou servem-se de consultores financeiros privados. Finalmente, vale lembrar que os grandes participantes do mercado hoje não só atuam no modelo de bancos autênticos, como estão desprovidos das restrições de alavancagem e de atuação que caracterizam as instituições financeiras tradicionais.

6 — Fundos de risco, mas nem tanto
Outro dos vetores que devem moldar o mercado, especialmente no varejo, é o crescimento de produtos de risco que rendem mais do que as aplicações conservadoras, mas, ao mesmo tempo, protegem o investidor contra as volatilidades elevadas do mercado. O melhor exemplo recente vem da Espanha. Em 2003, o governo espanhol alterou a legislação fiscal e permitiu aos investidores trocar de aplicação sem ter de pagar imposto sobre os ganhos de capital. A baixa taxa de juros estimulava uma grande fatia de aplicadores a olhar a bolsa com mais atenção. Muitos investidores, porém, temiam os riscos do mercado, e a saída encontrada pelos gestores foi lançar fundos que garantissem, no mínimo, o capital aplicado. “Produtos desse tipo são muito importantes para a educação do investidor”, diz Alfredo Setubal, presidente da Anbid e vice-presidente executivo do Banco Itaú. “Permitem a quem não conhece os mercados de risco investir com a garantia de que seu capital está protegido.” Para os especialistas, esses fundos — que ainda são pouco representativos dentro do total da indústria brasileira — poderão ganhar importância no País devido à rentabilidade proporcionalmente mais atraente da bolsa de valores.


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