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Nem tudo são flores
Mercados baixistas abrem o apetite de investidores de private equity, mas, na crise, sobram espinhos até para eles

, Nem tudo são flores, Capital AbertoEsta crise é boa para a indústria de private equity em mercados emergentes? A provocação foi atirada à platéia de cerca de 350 pessoas do quarto fórum anual da Associação de Private Equity de Mercados Emergentes (Empea, na sigla em inglês), realizado entre 4 e 5 novembro, em Londres. Com controles remotos em punho, os participantes deram suas respostas. Para a maioria deles (57%), a crise não podia ser considerada boa, enquanto 39% pressionaram o botão do “sim” e 4% não souberam responder. Deu-se início, então, a um caloroso debate entre investidores otimistas e outros temerosos com as conseqüências da crise para o private equity. “Os mercados emergentes estão mais bem preparados”, argumentou, de um lado, um convicto Antonio Bonchristiano, co-presidente e fundador da prestigiada GP Investimentos. “Mas muita , Nem tudo são flores, Capital Abertogente perdeu muito dinheiro”, retrucou Ahmed Heikal, presidente da egípcia Citadel Capital, uma das maiores gestoras de private equity do mundo árabe.

Ao fim do duelo, reviravolta: 55% dos ouvintes acreditavam que a crise era boa, 40% expressavam pessimismo e 5% estavam indecisos. Falta contar um detalhe: a maioria da platéia era formada por gestores de fundos private equity, conhecidos como General Partners (GPs, no jargão do mercado), que têm todo o interesse em atrair clientes. “Eles precisam acreditar que a crise é boa”, admitiu Bonchristiano, que, minutos antes, havia defendido com desenvoltura o saldo positivo da crise, como a depreciação dos ativos.

Portanto, é bom desconfiar quando um gestor de private equity afirmar que este é um “momento único”, “o melhor”, para fazer investimentos em capital de risco. Nem tudo são flores para quem atua hoje nesse segmento. Excelentes oportunidades de compra costumam aparecer em períodos de crise, na esteira do barateamento do valor atribuído às empresas. Contudo, as discussões travadas por quem mais entende de private equity no mundo, presenciadas pela reportagem da CAPITAL ABERTO na conferência de Londres, apontam que há desafios variados adiante.

SOBRECARREGADOS — Um deles, sem dúvida, é a superexposição de investidores institucionais, como seguradoras e bilionários fundos de pensão e de universidades norte-americanas (os chamados fundos endowment), a essa classe de ativos. Aplicadores de longo prazo, eles foram os maiores patrocinadores do desenvolvimento da indústria de private equity nos últimos anos. , Nem tudo são flores, Capital AbertoPorém, têm obrigação de gerar retorno anualmente e limites de exposição a investimentos alternativos.

Por causa do tombo fenomenal das ações este ano, teme-se que a participação do private equity, cuja volatilidade é bem menor que a do mercado acionário, tenha ficado grande demais nas carteiras desses poderosos clientes. Com isso, eles tendem a parar de aportar no segmento nos próximos meses ou até a iniciar um ciclo de desinvestimentos, diz a norte-americana Patricia Cloherty, veterana gestora de fundos private equity e presidente da Delta Private Equity Partners (veja entrevista na página 18), que possui mais de US$ 500 milhões de investimentos privados na Rússia.

Notícias divulgadas pela imprensa internacional há algumas semanas dão conta de que a companhia de investimentos da Universidade Harvard, detentora de US$ 43 bilhões sob gestão, planeja vender US$ 1,5 bilhão dos seus US$ 5,16 bilhões comprometidos com private equity. Segundo a agência Bloomberg, a renomada escola é apenas uma da série de investidores institucionais que devem se livrar de fatias de private equity em 2009. No ano fiscal encerrado em 30 de junho de 2008, o portfólio geral da Harvard obteve retorno de 8,6%, muito aquém dos 23% do período anterior e da média de 20% ao ano atingida nos quatro últimos exercícios. De acordo com Laurence Allen, diretora da consultoria NYPPEX, especializada em mercado secundário de private equity, os fundos endowment querem vender para fazer caixa num período de retornos ainda menores.

Ao longo de 2008, surgiram sinais de que o ciclo de ouro das captações de private equity está se encerrando. Relatório divulgado em novembro pela Preqin, consultoria norte-americana de investimentos em ativos alternativos, traz um clima de fim de festa. Depois de entrevistar 100 “Limited Partners” (ou LPs, como são alcunhados os investidores que entregam seus recursos aos GPs), donos de um patrimônio somado de US$ 1,7 trilhão, ela percebeu que muitos estão se aproximando ou, em alguns casos, até extrapolando suas metas de alocação de recursos em private equity. Um ano atrás, só 29% dos LPs tinham atingido ou estavam acima de suas metas. Agora, quase a metade (48%) está nesse estágio (veja quadro na página 12).

Dados da Preqin também revelam que a captação de recursos por private equity no terceiro trimestre de 2008 encontrou seu menor nível desde 2005. Um total de 129 fundos fechados para aportes nesse período levantou US$ 88 bilhões — uma retração de 51% ante os US$ 180 bilhões captados por 215 veículos no segundo trimestre. O prazo em que os fundos permanecem abertos se alongou de uma média de 9,5 meses, em 2004, para 14,2 meses, em 2008, sugerindo que os gestores agora têm de passar mais tempo na estrada para angariar investidores.

“INVERNO NUCLEAR” — A dificuldade de se levantarem recursos em tempos difíceis foi tema de um dos workshops da conferência da Empea. Nas palavras de Paul Marson-Smith, sócio da inglesa Gresham Private Equity, a crise de crédito pode ser considerada um “inverno nuclear” para o segmento — fazendo alusão à expressão clássica sobre os efeitos glaciais catastróficos, caso ocorresse um bombardeio nuclear durante a guerra fria. Exageros à parte, o fato é que os gestores estão sentindo frio na espinha. “Provavelmente, o primeiro trimestre de 2009 vai estar congelado”, diz Paul Denning, CEO da Denning & Company, empresa californiana que auxilia GPs a atrair clientela. “Comprometimento com private equity é a última coisa em que os LPs querem pensar agora”, atesta Natalie Braun, sócia da SVB Capital, braço de private equity do SVB Financial Group, dos Estados Unidos.

A propagada idéia de que os emergentes poderiam ser os salvadores da pátria também caiu por terra. Com os norte-americanos, europeus e japoneses em recessão, não dá mais para dizer que países como Brasil, Rússia, Índia e, sobretudo, China vão segurar a onda. “A China ainda vai surpreender com a sua desaceleração econômica”, assegura Bill Emmott, autor de diversos livros de economia e ex-editor-chefe da revista britânica The Economist. Suas previsões para a Ásia, destino de 75% dos investimentos em private equity nos mercados emergentes, são desestimulantes: a China vai sofrer em decorrência da diminuição das exportações e por não ter um consumo doméstico forte. A Índia, com sua indústria de tecnologia altamente dependente de financiamento externo, tampouco escapará da crise. Os preços das commodities em baixa , por sua vez, serão os vilões dos outros emergentes, como Rússia e América Latina.

MUITO ALÉM DO PIB — Até pouco tempo atrás, dois fatores básicos dirigiram o fluxo do private equity em mercados emergentes. Indicadores macroeconômicos melhorando e PIBs em expansão acelerada faziam com que investimentos nesses países fossem uma barbada. A desaceleração bagunçou o tabuleiro. “Os investidores estão muito mais cautelosos”, diz Ahmed Heikal, da Citadel. Cabe um aviso. O “inverno nuclear” não é o fim. “Não deve ser desculpa para desistir”, reforça, inclusive, o apocalíptico Paul Marson-Smith.

Quem conhece o mercado tem consciência do que precisa ser feito. Para Natalie Braun, o momento é difícil para convencer alguém a investir em private equity. No entanto, é propício para se construir relacionamentos. “Em vez de focar no que está acontecendo agora ou nos próximos meses, é importante educar o investidor, ajudá-lo a conhecer o segmento e despertar seu interesse, porque ele virá procurá-lo depois.”

Por isso, a capacitação dos profissionais da área se mostra cada vez mais importante. É nas horas de estresse que as peculiaridades de cada um falam mais alto. “Se você quiser ter sucesso em mercados emergentes, é necessário achar equipes talentosas, com a habilidade para lidar com diferentes circunstâncias de liquidez”, ensina David Pierce, CEO da firma de investimento Squadron Capital, sediada em Hong Kong. Muitas vezes, os LPs têm dezenas de milhões de dólares para investir, mas não têm noção do ativo em que aplicar todo esse volume. E entregam a fortuna a um GP que, espera-se, saiba rentabilizá-la muito bem. É natural, portanto, que fechem negócio com um gestor para lá de confiável. “São independentes? Trabalham para a gente? Prestam contas?”, costuma perguntar Kathleen Bacon, diretora da Harbourvest Partners, consultoria que ajuda os LPs a “caçar” os GPs mais adequados.

Os questionamentos de Kathleen ilustram outra tendência: o aprimoramento da governança. Os gestores devem aproveitar a época de captações em baixa para cuidar dos investimentos já realizados. Mais do que nunca, é preciso avaliar como as empresas do portfólio estão se saindo na crise e se estão estruturadas para trazer os resultados esperados. Para Vincent Neate, sócio da KPMG no Reino Unido, o aumento da cobrança por transparência, tanto por cotistas dos fundos quanto por reguladores, é inevitável. E por um motivo simples: os fundos de private equity tomaram proporções gigantescas e seus riscos para a comunidade financeira não podem ser ignorados. “Quanto mais transparência, melhor para todos”, ressalta Javier Echarri, secretário-geral da Associação Européia de Private Equity e Venture Capital (EVCA). Códigos de ética e conduta para a autoregulação do setor surgem no mundo inteiro. A EVCA tem o seu desde 2005. Países como Reino Unido, Dinamarca e Suécia também. O Brasil, em breve, terá um código — a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) elaboram, em conjunto, regras compulsórias para todos os seus membros.

LIQUIDAÇÕES E OFERTAS — Nesse terreno mais pedregoso, uma das figuras que podem sair ganhando com a desgraça alheia são os gestores mais experientes e com uma coleção de boas histórias para contar. Vida dura mesmo terão os novatos, aqueles que pretendem abrir ou têm fundos abertos para captações. As casas que conseguirem apresentar uma trajetória ascendente até em apertos de liquidez sairão na frente. E se tiverem captado milhões durante o último ciclo de fartura, é hora de desembolsar. Não vai faltar pechincha. Bancos fecharam as torneiras de financiamento barato e os mercados de capitais paralisaram. Onde as empresas obterão seu funding? Na era da escassez de crédito, o private equity estará praticamente sozinho na jogada.

Outro personagem que deve se dar bem é o investidor do mercado secundário. Duncan Littlejohn, diretor da Paul Capital para a América Latina, está de olho nas oportunidades geradas por saídas de fundos de pensão, seguradoras e fundos endowment do mercado de private equity. Há pressa para desinvestimentos. Com o toque de recolher, eles devem vender suas participações a preço de banana, aposta Littlejohn. Muitas operações do tipo são aguardadas para o ano que vem, fazendo com que o ambiente de negócios fique, de fato, interessante. Afinal de contas, a crise não tem só espinhos.


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