Na cola dos acionistas
Diante das dificuldades de reunir quórum nas assembléias, Renner lança novos paradigmas para esses encontros

, Na cola dos acionistas, Capital AbertoPara quem gosta do tema, o encontro já é pouco atraente. Para quem não é muito chegado ao assunto e ainda está a quilômetros, milhas e mares de distância, pode ser um pouco pior. Não tem saída, empresas de capital aberto são obrigadas a fazer assembléias. E pior: a Lei das S.As obriga que elas sejam realizadas na sede da empresa, mesmo que o seu “QG” se situe em grandes centros. Quando se possui apenas um acionista controlador, tudo bem. O evento torna-se mero cumprimento de obrigações. Mas, quando a companhia tem o capital pulverizado em bolsa, a história tem contornos bem diferentes. Para ser instalada, qualquer assembléia geral requer a presença de acionistas que representem, no mínimo, 25% do capital votante. Já o quórum para as deliberações pode chegar a dois terços das ações com voto, quando a proposta for, por exemplo, alterar o estatuto social.

Atrair esses investidores para participar das monótonas e muitas vezes enfadonhas assembléias passou a ser um desafio e tanto na rotina da varejista Renner. Localizada na capital gaúcha, mas com lojas esparramadas pelos grandes centros do País, a Renner foi a primeira empresa no Brasil a ter o seu capital totalmente disperso em bolsa. A pulverização ocorreu para a saída do seu antigo controlador, a norte-americana J.C.Penney. Hoje, a cadeia varejista tem mais de 90% de suas ações no mercado e o maior acionista não chega a possuir 5% do capital. “Reunir esses acionistas em busca de aprovações não é tão simples”, desabafa Paula Picinini, gerente de RI. Até porque, como lembra a executiva, a sede do grupo fica no Rio Grande do Sul, um tanto distante do eixo Rio-São Paulo.

Para minimizar a ausência de participantes e sepultar a decepção de não ter tido quórum no seu primeiro evento, a Renner criou alguns mecanismos para movimentar as assembléias, muitos dos quais inspirados em companhias estrangeiras. Foi a precursora em lançar, em outubro de 2006, um Manual para Participação do Acionista. Nele, esmiuçou as matérias a serem votadas nas assembléias e ainda disponibilizou um modelo de procuração que precisa apenas ser preenchido pelo acionista e enviado à empresa com firma reconhecida. Tudo acessível pelo site da companhia e com versão em inglês e em português. “Tivemos que fazer um trabalho quase que educativo de relacionamento com o investidor e, ao mesmo tempo, aprendemos muito com esse processo”, afirma Paula. “Passamos a ser cuidadosos e nos mobilizamos para pedir a atenção do acionista.”

No manual, a empresa deixa o mais evidente possível a opinião do “management” sobre cada tema a ser votado, para que, ao votar, o acionista saiba se está em linha, ou não, com os gestores da empresa. Para criar um livreto funcional, interessante e educativo, a área de RI da Renner foi buscar inspiração lá fora. Gostou dos modelos de duas empresas norte-americanas. Uma delas é a Kellog’s, fabricante que tem um tigre como mascote e se tornou sinônimo de sucrilhos, com vendas na casa dos US$ 11 bilhões no ano passado. A outra, a Home Depot, maior varejista de artigos para construção do mundo, com faturamento anual de US$ 77 bilhões. Em seus manuais, essas grandes companhias colocam uma carta de apresentação do “chairman”, situando o investidor sobre os rumos da empresa. Em alguns casos, também sinalizam as tendências para o futuro.

Renato Prado, analista do Banco Fator que acompanha com lupa as empresas de varejo, observa que a Renner tem caprichado para deixar o assunto assembléia menos burocrático. “As atas são sempre bem informativas e a empresa tem sido rápida e criativa em suas ações”, diz. Ele acrescenta que a Renner se destaca por informar publicamente o mercado com antecedência sobre qualquer fato novo — mesmo que, num primeiro momento, essa informação não favoreça a empresa. “No ano passado, a rede divulgou que as vendas do quarto trimestre não seriam tão boas quanto os gestores haviam previsto”, afirma. Os papéis, claro, escorregaram em seguida. A vantagem, porém, é que, ao tomar essas iniciativas, a Renner se torna uma companhia mais previsível e com credibilidade, diz Prado.

Quando vai preparar a convocação de uma assembléia, a área de RI da Renner se tranca em uma sala de reunião e passa dois ou três dias telefonando para os acionistas mais expressivos. “Como alguns deles estão em outros países, temos de ficar atentos ao fuso horário em relação ao Brasil”, alerta Paula. Conseguir a presença física ainda tem sido bastante difícil. “Imagine que alguém em Londres vai pegar um avião e vir até Porto Alegre para dar o seu voto”, indaga. Mas a Renner já conquistou um grande feito e, atualmente, muito da participação dos acionistas é obtido por meio de procuração. O sonho da executiva, no entanto, ainda está longe de se realizar. Ela gostaria que as assembléias da Renner lotassem como as de algumas empresas. As do Wal-Mart são famosas por reunirem milhares de acionistas em estádios de futebol a cada ano. Com a tendência de as assembléias se tornarem on-line no Brasil e no mundo, talvez este projeto fique apenas no sonho. Mas quem sabe o futuro?


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