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Incentivo ao crescimento
Governo intensifica ações de fomento às indústrias de capital semente, venture capital e private equity

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A trajetória de empresas como a Lupatech — hoje líder nacional em válvulas industriais no setor de petróleo e gás — não seria a mesma sem os aportes realizados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas a injeção inicial de recursos não foi o único incentivo. Junto com o dinheiro veio o conhecimento para a administração do negócio, suporte que a colocou na mira da gigante GP Investimentos, cujo retorno alcançado foi quase dez vezes superior ao valor investido, de R$ 23 milhões.

Para replicar experiências bem-sucedidas como essa, o governo tem intensificado as iniciativas de fomento à indústria de private equity, considerado um eficiente mecanismo da política de desenvolvimento produtivo. Boas razões para isso não faltam. A indústria de capital de risco teve um crescimento espetacular nos últimos três anos. Praticamente triplicou de tamanho, alcançando um valor comprometido superior a US$ 26 bilhões. Por capital de risco, entendam-se os fundos de capital semente, venture capital e private equity.

Embora o BNDES participe diretamente, por meio da BNDESPar, do capital social de companhias brasileiras, abertas ou fechadas, desde os anos 80, foi no fim da década de 90 que se tornou um grande indutor do aparecimento do setor de fundos de investimentos em participações, os FIPs. “Trata-se ainda hoje de um dos maiores investidores do País”, diz o gerente do departamento de fundos de investimentos do BNDES, Marcio Spata. Outro incentivo governamental veio há dois anos, com a redução de 15% para zero do Imposto de Renda cobrado de estrangeiros em investimentos em fundos de capital de risco.

Tradicionalmente, como ocorre no BNDES, existe um comitê interno de cada autarquia — Finep e Banco Central, por exemplo — para definir as diretrizes. Ou seja, a política e a estratégia que determinam a participação dos órgãos governamentais nos fundos. Dessa forma, os setores a serem apoiados são decididos previamente, em função das prioridades operacionais. O BNDES trabalha por meio das chamadas públicas, que funcionam como um edital. As companhias interessadas em disputar o dinheiro do banco federal precisam seguir algumas regras estipuladas nessas “chamadas”.

Basicamente, o BNDES atua com uma participação entre 20% e 30% do capital investido. Atualmente, existem 24 fundos constituídos: 15 de venture capital e nove de private equity. Juntos, eles possuem um total de recursos comprometidos de R$ 7 bilhões, sendo R$ 1,4 bilhão a parte investida pelo banco. “Temos outros oito fundos em fase de captação, que devem entrar em atividade nos próximos meses”, diz Spata. Nessa nova leva, o aporte do BNDES também deve ser da ordem de R$ 1,5 bilhão. Com isso, o banco do governo terá um total de 32 fundos.

Para Spata, todos os fundos são importantes, pois, de uma forma ou de outra, espelham as prioridades de atuação do BNDES. Mas ele destaca o Criatec, voltado para o capital semente, e o Fundo de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), para o apoio às empresas geradoras de crédito de carbono. “São pioneiros no Brasil e contam com uma forte demanda de projetos a serem apoiados.”

No caso do Criatec, o patrimônio comprometido soma R$ 100 milhões, sendo R$ 80 milhões do BNDES e R$ 20 milhões do Banco do Nordeste do Brasil. Especificamente nesse caso, a participação do banco é maior devido ao risco inerente às empresas nascentes. Spata considera de extrema importância o apoio do Estado para atração de capital na fase embrionária. “Ainda existe uma grande dificuldade de fornecimento de crédito para esses negócios, que não têm garantias reais para oferecer, pois estas são baseadas em ativos intangíveis”, avalia.

Compartilha da opinião de Spata o engenheiro Ozires Silva, conselheiro da Trinity Investimentos e grande incentivador do empreendedorismo. Na sua avaliação, o capital semente, também conhecido como start-up, precisa ser uma ação de governo, porque o empreendedor não pode arcar sozinho com a responsabilidade de o negócio prosperar ou não. Na prática, afirma, o credor ainda é o privilegiado. “Sem dúvida, o equity é um instrumento valioso para a criação de empresas e para sua aceleração”, declara.

Além dos recursos financeiros cruciais nessa fase, o fundo de capital semente dá apoio gerencial aos empreendedores, que, na maioria das vezes, são cientistas, pesquisadores ou tecnólogos desprovidos de uma boa formação empresarial. “Países que concentraram esforços no fortalecimento do capital semente geraram várias empresas de sucesso global”, diz Silva.

Justamente para intensificar o fluxo de investimentos em negócios pré-operacionais, a Finep reforça as ações do Programa Inovar Semente, criado com a meta de aplicar, em seis anos, R$ 300 milhões em mais de duas dezenas de fundos. A idéia é constituí-los regionalmente para apoiar projetos locais com aporte máximo de R$ 2,4 milhões cada.

Três deles já estão em fase de captação — em Santa Catarina, em Santa Rita do Sapucaí e em Belo Horizonte —, segundo a chefe do Departamento de Investimentos em Fundos da Finep, Janaína Prevot. São carteiras de R$ 60 milhões cada. A exemplo do que ocorre no BNDES, a Finep entra com 40% dos recursos na composição do Inovar Semente. Outros 40% serão aplicados por um banco de desenvolvimento local e 20% virão de um investidor privado.

Atualmente, os fundos apoiados pela Finep atendem majoritariamente empresas em expansão. Ao todo são 17 fundos investidos, nos quais a financiadora detém 20% de participação. O patrimônio soma R$ 1,7 bilhão. Outros 14 FIPs de venture capital e de private equity estão em fase de captação. Dentre os fundos apoiados estão GP Tecnologia, Stratus VC, SPTec, Rio Bravo Investech II, Fundotec II e Rio Bravo Nordeste II.

“É o capital semente que faz a roda girar”, reconhece Janaina. Por isso, a Finep quer atrair mais recursos para empresas inovadoras. “Queremos trazer os investidores pessoa física para o negócio, conhecidos no mercado como anjos”, esclarece. Trata-se de um aplicador que oferece competência ao fundo, além dos recursos financeiros. Ele pode ajudar na formação de equipes, na seleção dos negócios, e trazer uma rede de relacionamentos construída em anos de atuação no setor. O Inovar Semente garante que, caso os investimentos não alcancem o sucesso desejado, o dinheiro aportado pelo anjo será devolvido pela Finep, que assume todo o risco do negócio.

Atuando por meio de parcerias, Banco do Brasil e CEF se articulam para incentivar o empreendedorismo no País

Outro indicador do avanço das políticas públicas é o lançamento de um programa exclusivo para investidores anjos, ainda em fase de execução. “O objetivo é criar dez redes de anjos nos dois primeiros anos de atuação”, explica o chefe do Departamento de Novos Negócios da Finep, Renato Marques. As redes são associações privadas sem fins lucrativos que reúnem investidores pessoa física. Elas recebem, analisam e selecionam planos de negócios promissores, facilitando a troca de experiências, informações, contatos e conhecimento.  A expectativa é colocar os planos em prática no começo de 2009.

Existem algumas associações de investidores anjos sendo criadas no Brasil, como a Gávea Angels, no Rio de Janeiro, e a Floripa Angels, em Santa Catarina. Mas o número de operações apoiadas ainda é pequeno. O surgimento dos fundos de capital semente no País pode ser um grande indutor para o crescimento dos anjos, na medida em que podem ocorrer co-investimentos dos anjos com esses fundos numa mesma empresa. “Nesse caso, também existe uma mitigação de riscos para o anjo, que poderá se sentir mais confortável em entrar num negócio que foi bem estudado por um fundo antes do aporte”, completa Marques.

A Finep promove ainda os chamados Seed Fórum, eventos que colocam empresas nascentes frente a frente com os principais investidores do País. Eis aí uma oportunidade para pequenos empresários apresentarem planos de negócios e conseguirem captar recursos. Funciona também como uma espécie de filtro para os investidores anjos em busca de oportunidades.

BB investe em familiares — O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal também têm se articulado para incentivar o empreendedorismo. Eles atuam por meio de parcerias, como as firmadas com o Banif para composição dos fundos Caixa Ambiental e Brasil Governança. Este último vai aplicar R$ 600 milhões em projetos com potencial de retorno por meio de melhorias na gestão. Na mira, estão cinco empresas familiares, a maioria em fase de sucessão e com intenções de aumentar a profissionalização do negócio.

A novidade é que o BB vai ter, pela primeira vez, um assento no conselho das empresas investidas. “As parcerias são uma forma de adquirir competência, pois, a médio prazo, vamos ser gestores”, esclarece o gerente da área de FIP no BB, Leandro Vieira. Ele conta que o BB trabalha com private equity desde 2004, quando criou um programa de R$ 400 milhões e investiu em sete fundos. De lá para cá, só tem aumentado a atuação no segmento. A modalidade se tornou uma alternativa atraente de captação de recursos para os clientes corporativos do banco. Atualmente, o BB está em fase de captação de um fundo, de R$ 1,2 bilhão, voltado para o agronegócio, em parceria com a BRZ Investimentos, gestora controlada pela GP Investimentos.

Para o economista Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, da Gradual Corretora, esse estímulo maior do governo responde a uma demanda do setor privado. “O investimento governamental tem outro viés e serve para manter a dinâmica da indústria de private equity e segurar a economia diante das incertezas mundiais”, avalia.


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