A abertura de capital — ou IPO, na sigla em inglês — é um evento singular na vida de uma empresa. Envolve a decisão corajosa do empresário, o engajamento dos demais sócios e a conscientização de executivos e funcionários. A partir do toque da campainha que dá início à negociação das ações em pregão, milhares de pessoas desconhecidas entram na vida da companhia sem pedir licença e mudam por completo sua rotina.

Para o dono do negócio, pode-se imaginar o tamanho da angústia. Passa tudo pela cabeça. Quanto o acionista minoritário influenciará suas decisões. Se a empresa será capaz de entregar os resultados prometidos. Se as ações vão ter liquidez. De que modo os investidores reagirão em momentos difíceis. Quanto o seu patrimônio flutuará ao sabor das incertezas e imprevisibilidades do mercado.

Nessas horas, analisar as experiências de empresas que fizeram um IPO — ou mesmo uma nova oferta de ações — pode ser um bom calmante. Ao conhecê-las, vê-se que alguns empresários angustiaram-se menos porque, antes de abrir o capital, fizeram um test drive com um investidor de private equity. Já outros tinham controle familiar e enfrentaram, com toda a intensidade, a transformação cultural que significa iniciar uma vida como companhia aberta. Houve quem ousou dar esse passo antes mesmo de a empresa existir na prática. E uma turma ambiciosa que resolveu ganhar musculatura rápido comprando uma penca de empresas antes de ingressar na bolsa. A maioria listou ações no Novo Mercado, mas algumas assumiram o risco de tomar outros caminhos. Muitas preservaram o acionista controlador. Outras se aventuraram a vender praticamente todo o capital no mercado. Teve gente que saiu da bolsa e depois voltou. E gente que nunca saiu, mas tinha uma empresa tão apagada que a oferta ganhou pinta de IPO.

Diante de tantos casos, decidimos preparar uma coletânea que, além de algumas histórias curiosas e outras fascinantes, têm muito a ensinar. Começamos definindo as situações apresentadas nos oito capítulos que formam este Especial e, a partir daí, escolhemos empresas que se encaixavam nelas. O resultado são as 18 reportagens produzidas por Chris Martinez e Danilo Gregório que vocês conferem nas próximas páginas. Mais do que casos de IPO, elas revelam a instigante revolução experimentada pelo setor privado brasileiro nos anos recentes.