Estréia desbravadora
Nutriplant sai de concordata e inaugura o Bovespa Mais, segmento para pequenas e médias com grande potencial de crescimento

, Estréia desbravadora, Capital AbertoA paulista Nutriplant viveu dias difíceis na primeira metade dos anos 2000. Fundada em 1979 por subsidiárias das norte-americanas Frit Incorporated e Ferro Corporation, foi pioneira no Brasil na produção de micronutrientes de solo, componentes químicos utilizados por agricultores para melhorar o desempenho das lavouras. Um negócio formidável para uma economia que se apóia no campo. Mas estratégias equivocadas de venda, aliadas a uma forte exposição à variação cambial, quase levaram a companhia à bancarrota. A empresa precificava mal suas mercadorias, tinha problemas na distribuição e um alto endividamento em dólar devido à importação de insumos. Com um patrimônio líquido negativo de R$ 700 mil em 2003, pediu concordata preventiva.

A situação só viria a melhorar em 2004, com a chegada da família Pansa, que comprou da Frit Incorporated o controle da Nutriplant. Os novos acionistas trocaram administradores, reformularam processos internos, desenvolveram produtos e colocaram a empresa de volta aos eixos. Em 2006, com a saúde financeira recuperada, a companhia pediu desistência do procedimento de concordata. Durante três exercícios seguidos, encerrados em 31 de março de 2007, cresceu a um ritmo médio anual de 36% em receita líquida. O capítulo mais importante dessa virada foi concluído em 13 de fevereiro de 2008, quando a Nutriplant entrou para a história da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ao se tornar a primeira S.A a ter ações listadas no Bovespa Mais, o segmento idealizado para pequenas e médias empresas com elevado potencial de crescimento.

O ambiente de listagem ficou dois anos desocupado até que alguém resolvesse inaugurá-lo. A Nutriplant começou a se preparar para dar esse passo audacioso no começo de 2007. Para acelerar sua expansão, precisava incrementar o capital de giro, uma vez que financia seus clientes em proporção equivalente a 80% da receita líquida. Por meio de contatos no mercado financeiro, Marcos Haaland, diretor geral e de Relações com Investidores (RI), ouviu falar do Bovespa Mais como uma alternativa para captação de recursos para empresas com o perfil da Nutriplant. “Na época, achávamos que éramos pequenos até para o Bovespa Mais”, lembra.

Em abril de 2007, profissionais da Nutriplant fizeram uma apresentação da companhia para a comissão de abertura de capital da bolsa, que abraçou a idéia. “A Bovespa se esforçou para buscar escritórios de advocacia que entendessem a operação e fez o possível para que os custos de emissão fossem razoáveis”, elogia Haaland. Os advogados escolhidos foram os do escritório Souza, Cescon Avedissian, Barrieu e Flesch Advogados, representando a companhia, e do Pinheiro Neto, do lado do banco coordenador líder da oferta inicial de ações (IPO). Encontrar quem conduzisse o IPO, aliás, não foi difícil. Como a Nutriplant se relacionava com a área comercial do HSBC, acabou contratando também a HSBC Corretora para a empreitada.

Sediada em Paulínia, no interior do estado de São Paulo, e com menos de 100 funcionários efetivos, a Nutriplant bem que podia estar longe de cumprir compromissos mínimos da rotina de uma companhia aberta. Mas era auditada desde 1979, e o conselho de administração estava sendo formado antes mesmo de se pensar no IPO. “Tínhamos uma estrutura de governança instaurada como filosofia do sócio majoritário”, diz Haaland. Segundo o RI, os Pansa replicaram na Nutriplant princípios que cultivam em outros de seus empreendimentos, como o de profissionalizar a gestão e ocupar assentos no conselho.

Nem tudo, claro, foram flores no percurso da empresa para o IPO. A operação, assim como o Bovespa Mais, custou a sair do papel. Quando estreou, viu-se em meio à instabilidade internacional gerada pelos temores de recessão nos Estados Unidos. Pelo cronograma inicial, as ações seriam negociadas no pregão a partir de 30 de janeiro de 2008. Porém, a turbulência do mercado atrasou o planejamento em duas semanas. Durante a coleta de intenções de compra para a formação do preço da ação, os coordenadores perceberam o pouco apetite dos investidores. E tiveram de fixar o preço em R$ 10 por ação, 28,5% abaixo do piso previsto, de R$ 14. Com isso, a empresa conseguiu arrebatar R$ 20,7 milhões, bem menos que o mínimo pretendido, de R$ 29 milhões.

Em razão do baixo volume e, conseqüentemente, da liquidez limitada, a oferta foi dirigida a investidores qualificados, aqueles com mais de R$ 300 mil para aplicar. “Todos que compraram pensaram no longo prazo”, argumenta Haaland. O IPO contou com apenas oito participantes, entre eles uma pessoa física e um investidor estrangeiro. A baixa adesão não decepcionou? “Ficamos contentes com o resultado, dado o momento do mercado”, garante o diretor.

Está certo que os investidores seguraram a carteira devido às incertezas macroeconômicas, mas o fato é que fazer parte do quadro de sócios da Nutriplant também não pareceu um negócio lá muito atraente. Apesar de apresentar um crescimento robusto nos últimos anos, a companhia ainda estava no vermelho no trimestre encerrado em 30 de setembro de 2007, com um prejuízo líquido de mais de meio milhão. No geral, porém, os números apresentam melhora, com redução do prejuízo e aumento de receita. Haaland diz que a meta é continuar crescendo, organicamente ou via aquisições, acima dos 30%, ante os cerca de 20% da média do mercado. “O futuro da agricultura brasileira é promissor e estamos muito capitalizados”, diz confiante.


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