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De mocinho a vilão
Jóia da coroa dos Ometto, o negócio de açúcar e álcool enfrenta o ataque aos biocombustíveis. Mas a São Martinho segue bem cotada na Bovespa

, De mocinho a vilão, Capital AbertoA família Ometto, de imigrantes italianos, iniciou as atividades no setor sucroalcooleiro em 1914, mas conseguiu produzir açúcar pela primeira vez somente 18 anos depois, ao fundar uma usina que hoje pertence ao grupo São Martinho. Maior, menos concentrada nas mãos de vários troncos da família e um ano após fazer sua estréia no mercado de capitais, a empresa ambiciona chegar a 20 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processada em 2014. Não seria um sonho impossível e não foi até então. Mas fica difícil olhar para essa meta sem uma certa desconfiança justamente num momento em que o biocombustível, quem diria, passa de herói da era da sustentabilidade a vilão que pressiona para cima os preços dos alimentos e pode devastar a Amazônia.

 O diretor de Relações com Investidores (RI) da São Martinho, João Carvalho do Val, reage com calma à saraivada de críticas que o biocombustível vem recebendo nos últimos meses. “Não estamos tirando o açúcar da alimentação e nossas usinas estão no Centro-Sul, bem longe da Amazônia”, diz. Ao contrário do que apregoam os inimigos mais raivosos do biocombustível, o executivo diz que a companhia vem sofrendo por conta da alta na oferta de açúcar, e não pela falta dele. Os estoques mundiais elevados jogaram o preço da commodity no chão e tiraram uma “lasca” do balanço da São Martinho. A receita líquida caiu de R$ 590,5 milhões, em 2006, para R$ 480,9 milhões, no ano passado. Em igual base de comparação, passou de um lucro líquido de R$ 61,7 milhões para um prejuízo de R$ 49,2 milhões.

Mas os números ruins e o cenário mundial pouco favorável ainda não foram suficientes para ofuscar os papéis da São Martinho na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). “A ação oscila entre R$ 25 e R$ 26, com um preço bem acima do valor de saída”, diz o executivo, referindo-se à cotação de R$ 19,84 no primeiro pregão. Foi um valor intermediário na faixa indicativa de preço, que ia de R$ 17,50 a R$ 21,50, conforme a previsão feita pelo coordenador da oferta, o UBS Pactual. Em seu melhor momento, a ação chegou a bater R$ 31,84.

A São Martinho captou R$ 260 milhões no IPO por meio da oferta primária. Com um free float de 34%, tem como maiores acionistas duas holdings, batizadas com os nomes de seus controladores, Luiz Ometto Participações e João Ometto Participações — cada uma delas com 25,23%. João e Luiz são primos de Rubens Ometto, dono da líder absoluta Cosan, que chegou em novembro de 2005 à Bovespa amealhando algo próximo a R$ 800 milhões. O setor era visto como o salvador da lavoura. Mas, ainda que uma nuvem de más notícias ronde as fabricantes, alguns pontos ressaltados naquele tempo não estão com o prazo de validade vencido. Há vantagens competitivas dos produtores de açúcar e álcool brasileiros: o clima tropical favorável, o baixo custo de produção, a forte demanda doméstica e a extensão territorial — menos de 10% da terra cultivável é utilizada na plantação da cana.

A São Martinho percorreu um longo caminho até chegar ao mercado de ações. “Levou um ano. Decidimos em março de 2006 e fomos à bolsa em fevereiro de 2007”, conta Val. “Tínhamos muito trabalho a fazer antes de ir a mercado.” Por muito trabalho entenda-se o desafio de unificar os negócios de açúcar e álcool sob uma mesma empresa e segregar outros ativos da família. O capital social perdeu peso e, depois, voltou a ganhar. Os ativos de açúcar e álcool foram incorporados pela Companhia Industrial Agrícola Ometto, que teve a razão social alterada para São Martinho. Nascia, ali, a companhia que iria ser testada na Bovespa: uma das maiores produtoras do setor, com duas usinas, a São Martinho e a Iracema, localizadas em Pradópolis, região noroeste do estado de São Paulo. Uma terceira usina estava em construção, a unidade de Boa Vista (GO), hoje já concluída, mas não oficialmente inaugurada.

Com os recursos captados, a estratégia da São Martinho era crescer, crescer e crescer — seja de forma orgânica, seja por meio de aquisições. Em abril do ano passado, já depois do IPO, uniu-se a dois concorrentes, a Cosan e a Santa Cruz, e comprou a usina Santa Luiza, localizada em Motuca (SP), por R$ 179 milhões. A aquisição ocorreu por meio da Etanol Participações, uma holding formada pelas empresas envolvidas. As participações na empresa adquirida serão de 41,67% (Usina São Martinho), 33,33% (Cosan) e 25% (Santa Cruz Açúcar e Álcool). Por outros R$ 59,8 milhões, o mesmo grupo levou a Agropecuária Aquidaban, com iguais participações acionárias.

Novas aquisições não estão descartadas. Para Val, os planos estabelecidos no longo e detalhado prospecto da empresa, com mais de 600 páginas, estão mantidos. Com capacidade de moagem de 10,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, a São Martinho deverá acrescentar, até a safra 2010-2011, mais 3,4 milhões de toneladas à produção, com a entrada em operação da unidade de Boa Vista. Essa mesma unidade teve, em março de 2007, um pedaço de 10% vendido ao grupo japonês Mitsubishi Corporation.


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