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Caminho para a sucessão
Respondendo a inquietações do mercado e dele próprio, Warren Buffett sai em busca de um investidor que perpetue o seu império e o substitua à altura

, Caminho para a sucessão, Capital Aberto“Inquieta descansa a cabeça que porta uma coroa”, disse William Shakespeare em Henrique IV, peça que trata da sucessão na monarquia inglesa. A sabedoria do Bardo sempre que aborda as relações de poder se aplica perfeitamente à realidade corporativa. Poucas questões numa companhia aberta são tão delicadas quanto a sucessão de um líder. Especialmente naquelas em que o fundador obteve resultados sem precedentes. No caso da Berkshire Hathaway, em que as decisões de investimento, a presidência executiva e a do conselho de administração são comandadas pela mesma pessoa há mais de quatro décadas, é natural que o tema ganhe contornos de tabu. Mas, a despeito da atitude de negação que toma conta da maioria dos acionistas toda vez que se fala na sucessão de Warren Buffett, ela vem sendo abordada pelo mercado — e por ele próprio — de forma crescente.

Na carta que endereçou aos acionistas este ano (publicada no relatório anual da companhia, divulgado em março), o aclamado investidor forneceu novos detalhes sobre o processo, incluindo as características essenciais que busca num candidato. Com seu humor característico, ele encerra a nota em tom de otimismo. “As boas notícias: aos 76 anos, eu me sinto incrível e, de acordo com todos os indicadores mensuráveis, estou em ótima forma. É espantoso o que Cherry Coke e hambúrgueres podem fazer por um camarada. Eu amo tocar a Berkshire e, se gostar do que se faz promove longevidade, o recorde de Matusalém corre um sério risco.” Atenuantes à parte, a iniciativa denota uma mudança significativa em relação à resposta que ele e seu sócio Charles Munger costumavam dar como padrão até alguns anos atrás: “Estamos planejando a imortalidade”.
A nova postura foi bem recebida pelos analistas. Em relatório publicado pela butique de investimentos Morningstar, Justin Fuller afirma que, com a solução apresentada, as preocupações de curto prazo com o processo sucessório que vinham pesando sobre o valor das ações da Berkshire foram bem endereçadas. E avalia que o momento é oportuno para compra, visto que os papéis ainda estão abaixo do preço que ele estima como justo.

“Aos 76 anos, me sinto incrível e, de acordo com todos os indicadores mensuráveis, estou em ótima forma. É espantoso o que Cherry Coke e hambúrgueres podem fazer por um camarada”

UM CARGO, VÁRIOS HERDEIROS O plano sucessório está centrado na divisão das funções de CEO e de diretor de investimento, que deverão ser ocupadas por duas pessoas diferentes. “Há três excelentes candidatos para me substituir como CEO, e o conselho sabe exatamente quem deve assumir caso eu morra esta noite”, afirma Buffett na carta. Ele assegura que os três são bem mais jovens do que ele, atendendo ao pedido dos conselheiros de administração para que o sucessor tivesse a perspectiva de um mandato longo.
“Francamente, não estamos tão bem preparados no que diz respeito às funções como chefe de investimentos”, pondera o principal homem da Berkshire, explicando que, por um tempo, o co-chairman Charles Munger ocupou a posição que hoje seria de Lou Simpson (o diretor de investimentos de uma das principais subsidiárias da companhia, a Geico). “Mas Simpson é apenas seis anos mais novo que eu. Se eu morresse logo, ele faria um magnífico trabalho em meu lugar, por um limitado período de tempo. Para o longo prazo, no entanto, precisamos de uma resposta diferente”, conclui a missiva.
Para contratar em definitivo essa pessoa mais jovem — ele deixa claro que tanto pode ser um homem quanto uma mulher —, um período de testes, conduzido com a ajuda de Munger e Simpson, fará parte do processo. “Não acho que será impossível encontrar três ou quatro bons candidatos e confiar a eles uma quantia de, digamos, US$ 5 bilhões para que invistam e nos mostrem do que são capazes”, afirma Buffett na assembléia, em resposta à pergunta de um acionista de Chicago que, oferecendo-se para assumir o cargo, busca mais detalhes sobre o perfil ideal e o processo de seleção. “Mas acho mais provável que o número de candidatos prontos não passe de dois.”
FARO FINO Algumas características são consideradas indispensáveis àquele que passará a determinar como serão alocados os recursos da holding. Em dezembro de 2006, eram US$ 43,7 bilhões em dinheiro, US$ 61 bilhões em ações e outros US$ 26,2 bilhões em diversos títulos mobiliários. O primeiro pré-requisito é ter um faro incomum para todos os tipos de risco. “Com o tempo, os mercados farão coisas extraordinárias e, até mesmo, bizarras”, diz o megainvestidor. “Um único grande erro pode varrer todo um histórico de sucessos. É por isso que precisamos de alguém geneticamente programado para reconhecer e evitar riscos sérios, inclusive aqueles que nunca foram identificados antes”. Outros aspectos avaliados serão o temperamento, o grau de independência do pensamento, a estabilidade emocional e o nível de compreensão tanto do comportamento humano quanto do corporativo — considerado vital para o sucesso no longo prazo.
A tarefa de encontrar o sucessor será para lá de árida, por algumas razões óbvias e outras nem tanto. Além de conquistar seu próprio espaço e enfrentar as inevitáveis comparações com um antecessor lendário como Buffett, o candidato deverá compartilhar alguns valores fundamentais, como a disposição para ganhar um salário menor do que provavelmente recebe hoje, e a convicção de não se deixar seduzir pelas propostas que inevitavelmente virão. “Nosso maior problema é encontrar alguém que queira ficar, a despeito das ofertas melhores que inevitavelmente irá receber”, admite Buffett, complementando a resposta dada ao acionista de Chicago durante a assembléia. “Preciso ter certeza de que seremos capazes de reter essa pessoa que, por ter o nome da Berkshire em seu currículo, ampliará consideravelmente a sua atratividade no mercado e, conseqüentemente, poderá nos deixar a qualquer momento para ganhar mais em outro lugar.”
O plano de remuneração para esse diretor de investimentos baseia-se no pagamento de um salário fixo que ele classifica como “modesto” e de uma remuneração variável sobre os retornos que superarem os do índice S&P500, que mede o desempenho das 500 companhias norte-americanas com a maior capitalização de mercado e é adotado como referência para a performance da Berkshire desde 1965.
Uma medida do que se pode esperar como remuneração fixa modesta é dada pelos salários anuais de Warren e Charlie, que, há 25 anos, têm o mesmo valor: US$ 100 mil (detalhe: não há plano de opções de ações). Outra é o valor da folha de pagamentos dos 19 funcionários da holding, que, em 2006, foi de US$ 3,53 milhões, incluindo os benefícios. O índice de sucesso do modelo, no entanto, é surpreendente. De acordo com Buffett, em 42 anos de história, nenhum CEO de subsidiárias da Berkshire trocou de emprego voluntariamente. O segredo está justamente nos valores pagos pelas metas superadas.
Até o início de maio, mais de 600 currículos haviam chegado à mesa de Buffett, incluindo o de um “jovem” de 4 anos de idade — fato que ele comenta com um sorriso maroto no canto do lábio. Apesar da ansiedade dos candidatos e do mercado, não há previsão de quando os nomes devem ser anunciados. Seguindo uma tradição que já dura anos — a de criar expectativas em torno de um assunto e só detalhar a história completa um ano depois —, é possível que novidades mais concretas sejam apresentadas na assembléia de acionistas de 2008, confirmada para o dia 3 de maio.

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