Números saudáveis
Ações do Fleury sobem com corte de gastos e ganho de eficiência

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O Fleury é um daqueles grupos empresariais que alternam longos períodos de alta e baixa na bolsa. Nos primeiros anos de pregão (a companhia abriu capital em 2009), o clima era de lua de mel com o mercado. Os investidores compravam os papéis entusiasmados com a chance de ter no portfólio ações de uma empresa resiliente — o setor de saúde é naturalmente mais defensivo diante de turbulências econômicas — e com grande potencial de crescimento. A medicina diagnóstica é coberta pelos planos de saúde, que só ficam atrás de educação e casa própria entre as prioridades de consumo do brasileiro, segundo dados de 2015 do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar.

Apesar dos atrativos, a partir de 2011 a relação do Fleury com o mercado começou a desandar. As ações que no início daquele ano chegaram a valer cerca de R$ 23 despencaram para R$ 14 no fim de 2014. A queda exigiu que o grupo iniciasse um autoexame dos negócios, o que evidenciou alguns problemas. Capitalizado com os R$ 630 milhões levantados em seu IPO (incluindo a venda de lote suplementar de ações), o grupo fez, a partir de 2009, uma série de aquisições para se consolidar como um dos principais players do mercado de medicina diagnóstica em diferentes estados. Em 2010, comprou a Di (Diagnóstico por Imagem), de São Paulo; em 2011, a Diagnoson, da Bahia e a Labs D’Or, do Rio de Janeiro; e, em 2012, a Papaiz, também de São Paulo — somente na compra do laboratório fluminense foram desembolsados R$ 1,19 bilhão. O problema é que esse crescimento intensivo corroeu os resultados no curto prazo. “Os relatórios financeiros mostravam que a empresa sofria com a escalada de custos e com o pagamento dos contratos dos fornecedores. Por um bom tempo, esses dois fatores pressionaram o preço das ações para baixo”, explica Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos.

Diante desse cenário, a partir de 2014 a companhia passou a promover um amplo processo de reestruturação interna, com o objetivo de aumentar a rentabilidade dos serviços por meio de ganhos de eficiência e produtividade. Para isso, um dos passos mais importantes da diretoria foi organizar e baixar os custos. O trabalho envolveu, principalmente, a renegociação de contratos com fornecedores. O Fleury listou todos eles e analisou os valores pagos a cada um, para identificar espaços para diminuições de preços.

O grupo também buscou ganhar mais competitividade com a readequação do número de unidades de atendimento — hoje são 138, ante 186 em 2013. A redução é resultado do fechamento de unidades não rentáveis e da alienação de laboratórios da marca Labs a+, em outubro de 2015. A venda foi exigida pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) como condição para a aprovação da aquisição da Cardiolab pelo Fleury.

A reestruturação, entretanto, não gerou apenas cortes. O grupo também colocou em prática um plano para reposicionar suas marcas. A iniciativa visou o fortalecimento de bandeiras voltadas ao público premium (Felippe Mattoso, Weinmann e Fleury Medicina e Saúde), além da readequação da marca a+. Criada com apelo popular, ela foi transformada para atender o mercado intermediário-alto (classes A e B). A estratégia se mostrou acertada. Quando a crise econômica se aprofundou, o Fleury manteve os níveis de atendimento, graças à resiliência do segmento premium.

O grupo foi igualmente detalhista no redesenho dos processos internos. Sob o mantra de fazer mais e melhor com menos dinheiro, a empresa iniciou um programa para detecção de ganhos de eficiência em seus procedimentos. “Mudamos o entorno da atividade-fim, como o tempo de espera para o atendimento e as responsabilidades dos funcionários”, informa Adolpho Souza Neto, diretor executivo de finanças e de relações com investidores do Grupo Fleury. “Se antes uma enfermeira fazia diferentes atividades, como coleta e encaminhamento de pacientes, por exemplo, agora ela se concentra na coleta. Com isso, faz mais exames em um mesmo período de tempo”, afirma.

Mais uma prioridade estabelecida pela companhia foi o crescimento da receita por meio da evolução do número de atendimentos. O Fleury tem conseguido atingir esse objetivo de algumas formas. Primeiro, com parcerias. No ano passado, por exemplo, o grupo tornou-se parceiro estratégico em análises clínicas do Hospital Santa Helena, pertencente à Rede D’Or em Brasília, com a bandeira dos laboratórios a+. Já a segunda tática apoia-se na ampliação do agendamento de serviços subutilizados. No Rio de Janeiro, onde tradicionalmente a procura é maior por diagnósticos por imagem, o Fleury fez um trabalho para aumentar os agendamentos de exames de análises clínicas; em São Paulo, a ação foi contrária. Com isso, o grupo tem conseguido elevar o faturamento sem gerar novos gastos, o que agrada os analistas. “O Fleury não fez nenhuma mudança drástica. A reestruturação abrangeu, principalmente, uma reavaliação de cenário e da gestão interna”, observa Pereira, da Guide.

Já com a casa arrumada, o grupo ganhou, em setembro de 2015, um sócio minoritário: a Advent International, que adquiriu 13% do capital do Fleury. O valor da operação não foi revelado, mas o mercado estima que tenha alcançado R$ 350 milhões. A compra marcou o ingresso da gestora americana no setor de saúde brasileiro. O nicho é velho conhecido da Advent, que aporta recursos no segmento de saúde há cerca de duas décadas — ao todo, possui aproximadamente 30 investimentos no setor, em 13 países.

Os números do balanço comprovam a melhora da saúde do Fleury. No terceiro trimestre de 2016, a empresa teve Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 138,6 milhões, ante R$ 101,9 milhões em igual período de 2015. O lucro líquido, por sua vez, atingiu R$ 63,1 milhões, crescimento de 79,4% em comparação ao intervalo de julho e setembro de 2015. “Há nove trimestres seguidos apresentamos bons resultados. Estamos melhorando o fluxo de caixa, a satisfação do cliente, o lucro e a rentabilidade”, comemora Souza Neto. “Desde o fim de 2015, também aumentamos bastante a liquidez das ações na bolsa e, com isso, entramos para o IBrX-100”, ressalta. Atualmente, o peso da companhia no índice é de 0,53%, o que a coloca na 43a posição na composição da carteira, vigente entre setembro e dezembro de 2016.

A consistência dos resultados apresentados pelo grupo anima o mercado. De acordo com Henrique Kleine, chefe de análise da Magliano Corretora, o Fleury atravessa bem a crise, e a perspectiva é de que a performance melhore ainda mais quando a economia voltar a crescer. Para 2017, o boletim Focus (de 25 de novembro) projeta um crescimento de 1% do PIB, revertendo a queda de 3,49% do indicador esperada para 2016. Essa reação, ainda que tímida, pode reduzir o índice de desemprego e, consequentemente, impulsionar a contratação de serviços de saúde. “Boa parte da valorização recente do Fleury na bolsa antecipa esse horizonte”, observa Kleine. Nos 12 meses encerrados em 29 de novembro, as ações da companhia subiram impressionantes 133,29%, contra 32,95% do Ibovespa.

O prognóstico do analista é compartilhado pela diretoria do Fleury. Para os próximos anos, a administração espera continuar o aperfeiçoamento da gestão e da governança, a redução de custos e a busca de mais satisfação do cliente. A companhia se prepara também para um novo ciclo de crescimento. “De maneira orgânica, mas forte, vamos crescer nos próximos anos em todos os indicadores financeiros e de gestão. Queremos levar para a gestão e a governança a mesma qualidade e excelência pela qual somos conhecidos há 90 anos na área médica e de atendimento”, sublinha Neto.


A escolha da companhia para esta seção é feita a partir de um levantamento da Economatica com a oscilação e o volume negociado mensalmente por ações que possuem giro mínimo de R$ 1 milhão por dia. A partir daí, é escolhida uma ação que se destaca pela variação positiva ou negativa nos últimos 12 meses.


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