Os concorrentes dos Brics
Melhora nos fundamentos macroeconômicos e bom desempenho no mercado de capitais atraem o olhar — e as poupanças — de investidores para os novos emergentes

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Eles são bons destinos para investimentos. Sustentam um crescimento rápido e contínuo, têm aura de vedete e ainda estão baratos. Na década passada, eram tão poucos que cabiam numa sigla. Hoje, os adjetivos que transformaram Brasil, Índia, China, Rússia e, mais recentemente, a África do Sul no cobiçado clube intitulado Brics estão sendo exibidos por outros países. Sem uma nomenclatura específica, ao menos por enquanto, os novos emergentes vêm disputando a atenção dos investidores especializados em economias pujantes. Isso não significa que os Brics perderam seu encanto. Eles, na verdade, ganharam concorrentes.

Tailândia e Colômbia são dois dos 11 países que, em grupo, deram retorno 39% maior que os Brics nos últimos 14 anos, segundo uma pesquisa feita pela gestora norte-americana State Street Global Advisors. Além deles, compõem a tropa Chile, República Tcheca, Egito, Hungria, Israel, Peru, Polônia, Filipinas e Turquia. O levantamento comparou os novos emergentes com o índice MSCI Bric. “Muitos desses países vêm passando por reformas político-econômicas que aumentam a atividade produtiva e tornam o ambiente mais amigável ao investidor”, diz o estudo. Os analistas afirmam que os investidores ainda devem manter sua exposição nos emergentes tradicionais. Só que, agora, com um olhar também sobre as oportunidades nesses novos países.

Famosa por suas belas praias e pela culinária exótica, a Tailândia é hoje reconhecida também por mostrar uma economia vibrante, puxada pelos setores automobilístico, financeiro e de componentes elétricos. O resultado do PIB fala por si. No ano passado, o produto interno bruto da Tailândia cresceu 8%, atingindo US$ 584 bilhões. A bonança da economia tailandesa se deve, em grande parte, a uma série de reformas econômicas promovidas por Thaksin Shinawatra, primeiro ministro de 2001 a 2006. Buscando recuperar o país da crise financeira de 1997, Shinawatra implantou a mesma cartilha usada por alguns Brics. Políticas de estímulo ao crédito, privatização de empresas estatais, e melhorias na infraestrutura deixaram o arquipélago menos isolado. “As reformas deram maior confiança aos investidores estrangeiros”, reconhece Vijchu Chantatab, vice-presidente executivo da gestora tailandesa SCB Asset Management.

O bom momento atiçou o interesse da gestora japonesa Daiwa Securities, localizada a 6.000 quilômetros de distância. Criado por ela, o ETF Thai Capital Fund é gerido e administrado pela SCB para, curiosamente, ser negociado na Nyse. Desde a sua criação, em 2002, o Thai Capital Fund se valorizou 438,8%. Apenas em 2010, o patrimônio da carteira cresceu 45,6%. O ETF replica o índice SET, que carrega as iniciais da Stock Exchange of Thailand. Ao fim de 2010, a capitalização de mercado doméstica da bolsa de valores tailandesa atingiu US$ 280,2 bilhões — muito atrás do US$ 1,5 trilhão totalizado pelas empresas negociadas na BM&FBovespa, por exemplo. Mas, em 2010, a capitalização doméstica da Bolsa tailandesa inflou 58%, a quarta maior variação dentre todas as bolsas do mundo, segundo dados da World Federation of Exchanges (WFE). A Nyse cresceu 13,2%, enquanto o incremento da bolsa brasileira ficou em 15,6%. Além disso, o índice SET foi o sexto melhor desempenho no mundo no ano passado, com valorização de 40,6%. Chantatab acredita que outra razão para a atratividade do mercado tailandês é o seu preço. “As ações tailandesas estão baratas. Em 2010, o índice P/L (preço/lucro) do SET Index foi de 12 vezes, o segundo mais baixo da Ásia, atrás apenas da Coreia do Sul”, conta o gestor. Para 2011, mesmo com as consequências negativas do tsunami japonês para a economia de toda a Ásia, a perspectiva de Chantatab é um crescimento do PIB tailandês de 4,5%.

A capitalização das empresas da bolsa tailandesa inflou 58% no ano passado, a quarta maior variação
no mundo desse indicador

NO EMBALO CHINÊS — Outro país que vem chamando a atenção é a Indonésia. O maior e mais rico território do Sudeste Asiático possui bons ingredientes para uma receita de sucesso econômico. Sua população é grande — 230 milhões de habitantes — e jovem. Seu sistema de educação — classificado dentre os 50 melhores do mundo, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial, bem à frente do Brasil, que ficou na 103ª colocação — lhe proporciona um extenso batalhão de trabalhadores qualificados, artigo raro de se encontrar na região. Apesar do bom nível de expertise, a mão de obra no país é uma das mais baratas do continente. A média salarial chega à metade do que se paga na China para as mesmas ocupações.

A concentração de mercado no país também é atrativa aos olhos dos investidores. “Em praticamente todos os setores, há duas grandes empresas que dominam o segmento. Além de sólidas, essas companhias tendem a apresentar margens elevadas, o que as torna bem atraentes”, analisa David Semple, diretor de investimentos internacionais da asset norte-americana Van Eck. Desde 1993, ela possui um fundo destinado a mercados emergentes, o Van Eck Emerging Markets, que nos últimos anos vem aumentando sua exposição ao país asiático. Em abril, o fundo detinha 2,4% de sua carteira alocada em ativos indonésios. “Há alguns anos, a participação não chegava a 1%”, lembra Semple.

Contudo, a cereja do bolo que explica o crescimento da atratividade do país atende pelo nome de República Popular da China. De olho na massa trabalhadora boa e barata, o gigante asiático vem aportando diversas empresas na Indonésia desde o começo da década passada, mas intensificou o ritmo nos últimos anos. Só em 2010, mais de 15 companhias chinesas do ramo têxtil abriram unidades na Indonésia. Neste ano, a siderúrgica Tangshan Guofeng pretende finalizar a mudança de sua planta para o país do Sudeste Asiático, num investimento que deve alcançar US$ 1 bilhão. Esse movimento de indústrias chinesas ajudou o país a alcançar o crescimento de 6,1% no PIB de 2010.
E, no que depender do otimismo indonésio, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos vai continuar em alta. Em março, o Banco Central do país previu, para 2011, aumento de 42% no aporte de recursos internacionais.

Os chineses também estão envolvidos em outro fator de sucesso recente na economia indonésia: o boom da indústria do carvão. Com sua costumeira voracidade por commodities, o “Império do Centro” vem puxando a recente alta no preço das matérias-primas, item particularmente forte na pauta de exportações da Indonésia. Em 2010, as importações chinesas de carvão totalizaram 98 milhões de toneladas, 40% mais que em 2009.

“Desde 2007, quando deixou de ser autossuficiente em carvão, a China é um comprador feroz de carvão da Indonésia”, declara James Thom, diretor de investimentos na Ásia da britânica Aberdeen Asset Management. “Com a concorrência da Índia, que também começou a se interessar pelo carvão indonésio, os chineses têm se tornado ainda mais agressivos, injetando vultosos recursos em terras indonésias”, esclarece. Em julho passado, a Shenhua, maior mineradora de carvão da China, anunciou um projeto de exploração em Sumatra, a maior ilha do arquipélago indonésio, que totalizará US$ 330 milhões. Em outubro, o China Investment Corp (CIC), fundo soberano chinês, aportou US$ 1,9 bilhão no Bumi Resources, maior produtor indonésio de carvão.

A Aberdeen possui, desde 1990, um fundo de US$ 108 milhões de patrimônio, voltado exclusivamente a ações de empresas indonésias. Em 2010, o Aberdeen Indonesia Equity Fund obteve retorno de 54,47%, o maior dentre todos os dez fundos que a gestora possui na Ásia. Thom revela que, neste ano, o plano é aumentar a presença do fundo no país, com o aporte de novos recursos. “O número de cotistas aumentou significativamente”, ressalta o gestor, sem entrar em detalhes.

O otimismo com a economia colombiana se transferiu para as operações na Bolsa, que valorizou 33,6% em 2010

O otimismo da economia também acompanhou o mercado de capitais indonésio no ano passado. Ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de 22 empresas captaram US$ 3,25 bilhões, quase oito vezes mais que os US$ 411 milhões conseguidos um ano antes. O incremento da capitalização de mercado doméstica da Bolsa de Valores da Indonésia (IDX) foi o terceiro maior do mundo — 67%. Seu índice, o Jakarta Composite Index (JCI), alcançou os 2,5 mil pontos, valorizando-se 46,1%, o quinto melhor desempenho dentre índices de bolsa no mundo e o melhor na região do Extremo Oriente. Ito Warsito, presidente do IDX, espera um 2011 tão vibrante quanto o ano que passou. “Com a entrada massiva de investidores estrangeiros, é bem plausível que nosso mercado apresente condições favoráveis a algo como 25 IPOs, e que o JCI chegue aos 3 mil pontos” prevê.

LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA — Bem mais próxima do Brasil, a vizinha Colômbia recuperou recentemente o grau de investimento. Em março, o país foi “promovido” do grau BB para BBB- pela Standard & Poor’s, unindo-se a Brasil e Peru no clube dos sul-americanos detentores do título. O upgrade foi uma reconquista do mercado colombiano. Em 2000, o grau lhe fora tirado por conta da violência do narcotráfico que assolava a população e desestabilizava a economia do país.

A retomada da confiança do investidor estrangeiro na Colômbia está relacionada à forte atuação do Estado, num processo que se desenrola desde o começo do milênio. A chegada de Álvaro Uribe à Presidência, em 2002, marcou a virada de um jogo que teimava a pender para o lado do narcotráfico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs). Com um plano de segurança agressivo, Uribe aumentou o efetivo militar contra a guerrilha e, como consequência, retomou o controle de 100% dos municípios. De 2002 a 2010, os números negativos despencaram: os atos terroristas caíram 84%; os homicídios, 45%; e os sequestros, 88%.

Além do combate à chaga da violência, o governo colombiano colocou em prática políticas de controle da inflação, investimento em educação, infraestrutura, e estímulos para a geração de empregos. Com isso, a inflação, que fechara 2002 em 18%, se estabilizou no patamar de 5%. Paralelamente, o governo introduziu mudanças no setor petroleiro, abrindo os projetos de prospecção e exploração ao setor privado. Desde então, essa indústria vem experimentando um boom. O país produziu, em 2010, 760 mil barris de petróleo por dia, e a expectativa é de que a barreira de um milhão de barris/dia seja ultrapassada em 2012, o que significaria o dobro do que era produzido em 2006.

Graças ao aumento da segurança e ao ouro negro, o PIB colombiano atingiu, em 2010, US$ 430 bilhões, 4,3% acima do obtido no ano anterior e cinco vezes maior que o de 2002. Para este ano, a expectativa do banco central colombiano é de uma expansão de 5,5%. O otimismo com o bom desempenho da economia se transferiu para as operações na Bolsa de Valores da Colômbia (BVC). Seu principal índice, o IGBC, valorizou-se 33,6% em 2010, o nono melhor desempenho no mundo. Apesar de modesta, a capitalização de mercado doméstica disparou 48%.

A bolsa colombiana vem buscando ganhar corpo no mercado continental. Em janeiro, anunciou memorando de entendimentos para uma fusão com a Bolsa de Valores de Lima. O acordo aumentará a liquidez e a capitalização de mercado das duas bolsas — as empresas nelas listadas somavam US$ 311,9 bilhões em dezembro. A nova empresa se tornará a quarta maior bolsa da América Latina, atrás de Brasil, México e Chile, e servirá de combustível para as pretensões colombianas de aprimorar seu mercado de capitais.

NEM TUDO SÃO FLORES — A despeito da safra de boas notícias nos últimos anos, não são poucos os abacaxis a serem descascados por esses novos emergentes. Na Tailândia e na Indonésia, por exemplo, há sérios problemas de instabilidade política e altos níveis de corrupção. Na Colômbia, o desemprego é um obstáculo para o governo do presidente Juan Manuel Santos.

No campo da governança corporativa, os desafios também são grandes. A falta de transparência é o maior obstáculo a ser transposto pelos indonésios. “Temos um portfólio concentrado na Indonésia e, em grande parte, a explicação para isso é a falta de opções de empresas com bons níveis de governança”, observa Thom, da Aberdeen. A Tailândia, apesar de várias reformas após a crise financeira de 1997, carece de muitas melhoras. “Eles têm sérios problemas nas relações com partes relacionadas”, observa Mike Lubrano, sócio da Cartica Capital e ex-diretor de governança corporativa do International Financial Corporation (IFC).

Mesmo assim, há a percepção de que o custo-benefício do investimento nos novos emergentes é compensador. Chantatab, da SCB, sintetiza a empreitada. “Os bons fundamentos macroeconômicos desses países dão a segurança ao investidor de que tais problemas, embora grandes, não serão suficientes para tirar o trem da linha.” Para quem se interessar, os tickets estão à venda.


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