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Mar concorrido
Estrangeiros e bolsa de valores invadem a praia dos fundos de private equity e forçam seus gestores a ser mais generosos no preço e criativos na estratégia

ed51_p18-20Foi-se o tempo em que os gestores de private equity brasileiros passavam o dia em seus escritórios selecionando  tranqüilamente os melhores empreendimentos para investir, de uma pilha de propostas que chegavam diariamente a suas mesas. Quando muito, saíam à caça de uma ou outra empresa promissora que, carente de melhorias na gestão e sem acesso a crédito nos bancos, acabava aceitando a parceria com o fundo. É claro que promessas de lucros modestos ainda chegam, aos montes, para a análise dos gestores. Mas os que almejam negócios com verdadeiro potencial de crescimento sabem que, de dois anos para cá, viajar País afora em busca de novos alvos e, de preferência, levando uma boa proposta de parceria a tiracolo tornou-se fundamental. Sem essa receita, dificilmente eles conseguirão se destacar num setor cuja concorrência — sobretudo a de estrangeiros — não pára de aumentar.

Segundo o censo do Centro de Estudos de Private Equity da Fundação Getulio Vargas (GVcepe), divulgado em setembro, 33 fundos de private equity e venture capital iniciaram suas operações no Brasil desde 2005. Desses, oito são estrangeiros e abriram filiais no País a partir do ano passado. Um fato curioso, se lembrarmos que o último registro de gestor com um sotaque internacional inaugurando seu escritório por aqui havia sido em setembro de 2002. Até então, existia apenas cerca de uma dúzia de empresas vindas do exterior.

Além dos estrangeiros, os gestores de fundos private equity têm enfrentado a concorrência trazida pela bolsa de valores. Segundo o pesquisador do GVcepe Leonardo de Lima Ribeiro, é cada vez mais presente o risco de os empreendedores rejeitarem a proposta de um private equity para seguirem sozinhos rumo ao grande sonho de uma oferta pública inicial na Bovespa. Afinal, não faltam consultorias e butiques de investimentos dispostas a profissionalizar as companhias e adaptar seus sistemas de governança para um IPO — tipo de tarefa que costumava ser exercida exatamente pelos fundos de private equity.

De acordo com Marcus Regueira, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap), os fundos que focam seus investimentos em negócios de médio e grande porte vêm sentindo os efeitos desse novo ambiente. Um dos primeiros sinais aparece nas negociações. Para serem aceitos como sócios, os fundos já precisam ser mais generosos na hora de discutir o valor de sua participação. Ao mesmo tempo, a pujança do mercado de capitais é altamente favorável para o desinvestimento dos fundos de private equity, que adoram contar com a bolsa de valores como porta de saída. Mas isso tem o seu preço. “O custo de um mercado mais maduro está na concorrência que os IPOs provocam nesse setor”, conclui Ribeiro.

Veja o caso do Banco Sofisa, que, meses antes da oferta na Bovespa, foi sondado por um fundo interessado em adquirir uma participação no banco. “Não aceitamos a proposta por acreditar que conseguiríamos os recursos necessários com os futuros acionistas”, conta Gilberto Meiches, diretor de Relações com Investidores e vice-presidente do Sofisa. “O mercado reconhece empresas com uma boa história. No Sofisa, desde 1995, temos um comitê de auditoria que se reporta ao conselho de administração com membros independentes”, acrescenta. Na opinião do pesquisador do GVcepe, apesar da concorrência, não há dúvida de que o saldo de um mercado de capitais ativo é positivo para os fundos de private equity. “Faz parte do jogo. Os fundos vão ter de aprender a dançar conforme a música.”

NICHO DE ATUAÇÃO — Uma das formas de não perder o rebolado é apostar em setores pouco tradicionais ou nos quais os gestores tenham mais expertise. São exemplos os fundos que buscam empresas em situações falimentares — como o Latin America Equity Partners (Laep), que comprou a Parmalat no ano passado — e as carteiras que investem em filmes como o RB Cinema I, da Rio Bravo. Esta última também se prepara para lançar um fundo de venture capital focado em empresas com princípios de responsabilidade socioambiental.

Para fugir da competição no setor de econegócios, o gestor da Rio Bravo Maurício Esteves pretende trabalhar com empreendimentos em estágio inicial, que receberão um aporte de R$ 25 milhões por projeto. “É normal encontrarmos empresários que já foram abordados por outros fundos ou até mesmo por um banco de investimentos disposto a levá-lo direto para o IPO”, diz. “O lado bom dessa história é a certeza de que conseguiremos desinvestir com tranqüilidade daqui a cinco ou seis anos.”

Na Eccelera, o diretor Marcelo Safadi também trocou a preocupação pelo entusiasmo ao se deparar com novos desafios. Ele compara a concorrência enfrentada pelos fundos — seja a do próprio setor ou mesmo a competição com a bolsa — à situação de uma loja de produtos eletrônicos que é aberta na Rua Santa Ifigênia — tradicional endereço da capital paulista onde 90% do comércio se especializou em artigos desse tipo. “Se você tem foco, experiência e sabe trabalhar bem, não há por que ter medo. Cada fundo exerce uma vocação diferente”, ensina. A própria Eccelera, neste momento, está em busca de negócios na área imobiliária, porém num segmento bastante específico. Qual? Ora, o segredo faz parte da estratégia.

Fabio Iunis de Paula, diretor de investimentos da Intel Capital, aponta uma outra vantagem competitiva dos fundos de private equity e venture capital neste novo cenário: a rede de relacionamentos oferecida ao empresário que aceita sua parceria. Afinal, nem só de dinheiro e governança se faz uma boa companhia. O apoio da Intel aos negócios investidos garante a inclusão num roteiro de eventos pelo mundo, onde os sócios são apresentados a potenciais compradores de seus produtos. “Não interpreto como concorrência a melhoria do mercado ou a chegada de outros fundos. Quando a economia vai bem, forma-se um círculo virtuoso em que todos podem ganhar.”

Patrice Etlin, sócio da Advent International, acrescenta mais um item às vantagens competitivas dos fundos. Segundo ele, a credibilidade de alguns gestores junto aos bancos lhes permite alavancar recursos para fazer frente aos preços tentadores pagos pelos investidores de bolsa. Nesses casos, o fundo maximiza o poder de compra dos cotistas e ganha musculatura para pagar preços mais agressivos ao dono do negócio. “Isso é bom para aqueles empresários que não querem esperar até o dia da oferta pública para receber o seu prêmio”, explica Etlin.

Não há dúvidas de que os grandes fundos se armaram para a nova realidade. Já os que geram montantes mais modestos seguem tranqüilos, ao menos por enquanto, uma vez que o mercado de capitais ainda não mostrou interesse por projetos menores. “Sobra espaço para a gente trabalhar”, garante André Burger, que deixou a gestora de private equity CRP e, sozinho, acaba de abrir seu próprio fundo da mesma modalidade, o Burger Participações e Investimentos, em São Paulo.

INTERESSE EM BRASIL — Do lado da demanda, as perspectivas são promissoras. Basta lembrar da visita ao Brasil, em setembro, de uma delegação com 15 representantes de fundos de pensão e fundações de universidades dos Estados Unidos que, juntos, somam um patrimônio de US$ 250 bilhões. Eles vieram para conhecer de perto a capacidade empreendedora nacional, sobretudo nas áreas de biocombustíveis (com destaque para o etanol), tecnologia da informação e infra-estrutura. Marcus Regueira acompanhou a comitiva e define como excelente o balanço do encontro: “Notamos um forte interesse de todos em trazer mais investimentos para o País”.

O presidente da ABVCap avalia que, em 2007, a entrada de recursos estrangeiros nas carteiras dos fundos de risco atingirá a marca dos US$ 3,5 bilhões — bastante superior ao montante de US$ 1 bilhão registrado em 2006 e de US$ 500 milhões, em 2005. De acordo com o estudo da GVcepe, em junho deste ano, os fundos de private equity e venture capital somavam um patrimônio de US$ 16 bilhões, três vezes mais que o registrado em 2004.


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