Entre o amplo rol de profissões em uma sociedade, poucas rivalizam com as oportunidades oferecidas pelos bancos de investimento, tanto em termos de velocidade de desenvolvimento profissional quanto em alavancagem financeira. Tanto que, ano após ano, as estatísticas revelam q ue os principais recrutadores das melhores escolas de negócios no mundo são os bancos de investimento. No entanto, por trás da aura de projeção social e profissional, além das recompensas milionárias, existe uma realidade não tão glamourosa. Este é o pano de fundo da obra de Jonathan Knee, que, apesar de banqueiro “por acaso”, ainda segue atuando na indústria.
O tema da rotina profissional em um banco de investimento já foi abordado em outras obras: a pesada carga horária (tipicamente de 80 a 100 horas semanais), a forte pressão por resultados, a pressão dos colegas (“peer pressure”) e outros traços característicos. O que torna a obra de Knee diferenciada é seu grau de personalização: nenhum nome é fictício e, supostamente, nenhuma situação é romanceada. Mas, além de prover uma visão íntima da indústria entre 1994 e 2003, através de suas passagens por Goldman Sachs e Morgan Stanley, o autor avalia a transformação na cultura dos bancos de investimento provocada pelo fenômeno da internet e suas empresas de alto crescimento.
Segundo o slogan de J.P. Morgan, os bancos de investimento deveriam fazer apenas “negócios de 1ª classe com empresas de 1ª classe”. Nos tempos do sr. Morgan e até o início dos anos 80, os banqueiros se autodenominavam “gerentes de relacionamento”, e os principais bancos de investimento focavam somente as grandes companhias, através de relações de longo prazo. O aparecimento de uma nova classe de empresas, com crescimento explosivo, mas pequeno (ou nenhum) histórico, levou a uma mudança radical na natureza da relação com os clientes. A perspectiva migrou de uma orientação de relacionamento para uma transacional, exacerbando o conflito curto prazo versus longo prazo.
O efeito cumulativo desses excessos foi um severo golpe sobre a cultura de excelência e qualidade de serviços dos bancos de investimento. A indústria tornou-se alvo de ações judiciais, graves conf litos de interesse foram expostos e a credibilidade dos principais protagonistas foi abalada. No fim dos anos 90, não era incomum um banqueiro responder a outro com desdém quando questionado sobre o futuro da empresa cujo IPO seu banco estava estruturando (“IBG, YBG” — “I’ll be gone, you’ll be gone”, ou “eu estarei fora, você estará fora”). Quando a poeira baixou, após o “crash” de março de 2000, a reputação dos bancos de investimento estava seriamente abalada perante seus clientes, colaboradores e a sociedade como um todo.
A despeito do lado sombrio com que descreve algumas das situações e os protagonistas da obra, o autor conta sua história com uma certa ironia, quase humor negro. É impossível não estabelecer um paralelo com o clássico Liar’s Poker, de Michael Lewis, embora a obra de Knee não seja tão ácida e burlesca quanto a de Lewis. Em suma, trata-se de uma combinação interessante de testemunho pessoal com trama quase novelesca, contada por meio de uma prosa leve e divertida.
The Accidental Investment Banker: Inside the Decade that Transformed Wall Street
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui