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A peneira começou a funcionar
Mais preocupados com fatores como liquidez, governança e capacidade de gestão, investidores correm para as blue chips e deixam os IPOs “comendo poeira” atrás do Ibovespa

Em 2007, as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) agitaram os pregões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em quantidade jamais vista. Pena que não tenham se saído tão bem no quesito valorização. Das 48 empresas que abriram o capital até o fim de setembro, 31 (64,5%) apresentaram rentabilidade abaixo do Ibovespa no período que vai do IPO ao fechamento de 5 de outubro, segundo dados da Bovespa e do sistema Economática. Dessas, 17 não apenas perderam para o índice, como amargaram uma queda nominal no valor de suas ações. Nem mesmo a contratação de agentes de liquidez, os formadores de mercado, salvou empresas de retornos pífios (veja tabela na página 14). Das 21 que contam com esse serviço, 14 ficaram aquém do Ibovespa no levantamento realizado.

Analistas ouvidos pela Capital Aberto apontam algumas razões para o fraco desempenho das novatas. A principal delas se apóia na tese de que, no estopim da crise dos créditos imobiliários nos Estados Unidos, o mercado ficou mais seletivo. Em tempos de aperto, em vez de se esbaldar com as novidades, o consumidor prefere os produtos mais tradicionais e conhecidos. Assim, principalmente entre julho e setembro, houve uma corrida para as blue chips, ações com elevada liquidez de companhias veteranas e consolidadas — num movimento que o mercado gosta de chamar de “fly to quality” (vôo para a qualidade). “Estamos num momento de digestão das companhias novas”, diz Fabio Spinola, sócio-diretor da administradora de recursos Quest Investimentos.

No primeiro semestre, o cenário era outro. Em meio à robusta liquidez internacional, investidores atiraram para todos os lados e, só no Brasil, mostraram apetite suficiente para 30 IPOs. Depois do “chacoalhão” provocado pelos títulos subprime do setor imobiliário norte-americano, porém, a aversão ao risco aumentou. Características que vinham sendo toleradas anteriormente adquiriram novas dimensões aos olhos do investidor, e o funil, conseqüentemente, ficou mais estreito.

TROPA DE ELITE — Nesse contexto, aspectos como o volume da oferta ganharam relevância. Em média, os IPOs somaram R$ 500 milhões este ano, o que significa falar de emissoras com valor de mercado na faixa de R$ 1,5 bilhão. É pouco para o apetite de liquidez do mercado em tempos de insegurança. “As operações têm sido pequenas”, confirma Daniel Doll Lemos, analista-chefe da Socopa Corretora. Por isso, explica Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora, do ponto mínimo da crise subprime, em 16 de agosto, até 10 de outubro, quando o Ibovespa oscilou 31%, Vale do Rio Doce (CVRD), Usiminas e Petrobras ultrapassaram essa marca, registrando valorizações de 54%, 43% e 41%, respectivamente. O próprio Itaú, outro peso-pesado da carteira teórica da Bovespa, teve alta de 33%.

A baixa liquidez, porém, não explica tudo. Para Fabio Spinola, deve-se acrescentar a falta de um acompanhamento sistemático por parte dos analistas. Sem cobertura, atrair a atenção do mercado se torna quase impossível. “Leva tem po para as empresas ganharem exposição.”

Quando há concentração em determinadas indústrias, tanto pior. O excesso de estréias nos segmentos imobiliário e de bancos de médio porte, por exemplo, acabou provocando uma certa indigestão no mercado. Denilson Duar te, chefe do departamento técnico da Máxima Asset Management, é taxativo: “O setor de construção já está saturado”. Para Marco Melo, diretor de pesquisa da Ágora Senior Corretora, não há espaço na bolsa para tantas empresas desse segmento. “É claro que muitas serão compradas em processos de fusões e aquisições, e o mercado vai acabar elegendo apenas cinco ou sete”, afirma.

Para investidor, os lançamentos estão perdendo qualidade. Só este ano, 17 companhias ingressaram nos Níveis 1, 2 ou no mercado tradicional

A CAMINHO DO RETROCESSO? — Setores iniciantes na Bovespa, como o de educação, também são malvistos por Denilson Duarte. “Instituições de ensino que tinham uma série de problemas de gestão aparecem com a mesma administração, mas com uma cara nova”, alfineta. Para ele, não há dúvidas de que os lançamentos estão perdendo qualidade. Quando parecia cristalizada a idéia de que as aberturas de capital só seriam viáveis no Novo Mercado, pipocaram listagens fora do segmento que possui as regras mais rígidas de governança corporativa. Essa, inclusive, é mais uma razão apontada para a freada do mercado diante dos IPOs. Do início do ano até 15 de outubro, 17 companhias ingressaram nos Níveis 1, 2 ou no segmento tradicional — este último, no caso das distribuições de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), certificados de depósitos de ações emitidos por companhias sediadas fora do País.

A propósito, as quatro companhias que lançaram BDRs em 2007 também registraram retornos abaixo do Ibovespa até o início de outubro. Com exceção do argentino Banco Patagonia, Wilson, Sons, Tarpon e Cosan Limited nasceram no Brasil, mas preferiram registrar suas sedes no paraíso fiscal das Bermudas. Isso justifica, em parte, o fraco rendimento, na opinião de Duarte. De acordo com o gestor, para o mercado ainda não está muito claro se essas empresas saíram do País simplesmente para fugirem do Fisco ou para se desvencilharem das amarras da Lei das S.As. Jurisdições como Bermudas têm legislações societárias flexíveis, que permitem reduzir direitos de acionistas minoritários.

Mas cabe lembrar que, da lista de 48 empresas que abriram o capital até setembro, 17 se deram bem e conseguiram superar a alta do Ibovespa. São nomes como GVT Holding (que subiu 126,94% desde o IPO), Anhanguera Educacional (86,11%) e PDG Realty (82%) . Clodoir Gabriel Vieira, analista-chefe da corretora Souza Barros, avalia que o desempenho contido das demais novatas pode até ser interpretado como “um bom sinal”. Demonstra, segundo ele, que os investidores, agora mais confiantes, aceitam pagar preços melhores pelas ações no momento da largada, o que reduz o espaço para altas muito espetaculares em pouco tempo.

Junto com a valorização mais comedida das novatas veio o desempenho acelerado das veteranas, que também contribuiu para as primeiras se distanciarem do Ibovespa. A alta do petróleo favoreceu a Petrobras, assim como o reajuste dos contratos de fornecimento de minério de ferro para a Ásia estimulou a recente subida da CVRD. Apesar de não abandonarem as companhias menores, os investidores buscaram avidamente papéis dessas gigantes, na avaliação do analista da Souza Barros. Ainda assim, a tendência de desconcentração da bolsa continua. Segundo uma pesquisa feita por Vieira, entre 2000 e 11 de outubro de 2007, o volume movimentado pelas ações de CVRD, Petrobras, Telemar, Bradesco e Usiminas correspondeu a 39,9% do total da bolsa. Só neste ano, esse mesmo time, com o Itaú no lugar da Telemar, foi responsável por 33,5%.

Com ou sem histórico em pregão, as companhias podem ter uma certeza: o que o investidor procura é crescimento dos negócios, seja em tempos de crise ou de calmaria. Daqui para a frente, as novatas que conseguirem cumprir as metas estabelecidas deverão ser recompensadas, apostam analistas. Basta que a aversão ao risco, desencadeada pelo estouro dos subprime, se dissipe, afirma Doll Lemos, da Socopa.

Para as empresas que estão desembarcando na Bovespa, Marco Melo, da Ágora, sugere incluir um prêmio nos preços das ofertas públicas. “É melhor se valorizar ao longo do tempo do que promover uma operação que cause volatilidade.” A governança, segundo ele, também se mantém como item obrigatório. “A abertura de capital deve ser no Novo Mercado, no mínimo, ou em um segmento ainda melhor, se surgir outro”, diz. Fora isso, claro, é preciso seguir à risca a cartilha das boas práticas. Se forem adicionados geração de caixa e bons fundamentos na receita, estará pronto o caminho para o sucesso.


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