Os fundos de private equity (PE) exercem papel fundamental no desenvolvimento econômico. Seus investimentos são direcionados para negócios com grande potencial de crescimento e inovação, propiciam a profissionalização da gestão e incentivam o empreendedorismo, ao financiar empresários com bons planos de negócios, porém com restrições de acesso a capital com custo adequado. 

Mas gostaríamos aqui de destacar sobretudo a relação benéfica e fundamental entre os fundos de PE e os mercados de capitais. 

Para iniciar a avaliação dessa relação, é preciso entender que, para um fundo de private equity, um dos fatores mais relevantes na decisão de investimento refere-se à estratégia de saída potencial do negócio, pois os fundos têm compromissos com seus investidores. Portanto, um mercado de capitais forte é condição sine qua non para um mercado de PE igualmente forte. Sinal evidente dessa relação, após o advento do Novo Mercado, que impulsionou uma nova realidade ao mercado acionário no Brasil, os investimentos dos fundos de PE aumentaram significativamente e novos fundos estão aportando no País. Claro, outros fatores também contribuíram para esta nova fase. 

Além de se beneficiar do mercado de capitais, os fundos contribuem para a sua evolução, pois ajudam a estruturar a gestão e a adotar práticas importantes de governança

O forte crescimento na abertura de capital desde 2003 propiciou o desinvestimento de diversos fundos e o encerramento bem-sucedido do primeiro ciclo de private equity no Brasil, no biênio 2005/2006. Com histórias de sucesso para mostrar a seus investidores — principalmente de aberturas de capital que geraram retornos relevantes —, os fundos puderam iniciar novos ciclos de captação de recursos e de investimentos no País.

Por outro lado, além de se beneficiar do mercado de capitais, os fundos também contribuem para a sua evolução. Afinal, ao ingressar nas empresas, os fundos de PE ajudam a estruturar a gestão e, sobretudo, a adotar práticas importantes de governança, deixando a corporação melhor preparada para uma abertura de capital. E processos de abertura bem estruturados fortalecem o próprio mercado acionário, incentivando tanto empresas como investidores a analisá-lo com maior atenção. 

Adicionalmente, os fundos de private equity são fortes incentivadores dos mecanismos de remuneração por ações e opções de ações. Tais mecanismos geram dois incentivos importantes: a condução eficiente da empresa até a abertura de capital, visando maximizar o seu valor, e a manutenção de uma gestão responsável, competente e comprometida após a abertura, cujo julgamento de desempenho estará espelhado na evolução dos preços das ações. Em outras palavras, cria-se um mercado de controle e análise dos gestores por parte do mercado de capitais. 

Estabelece-se, obviamente, em muitos casos uma concorrência entre os fundos de private equity e o mercado acionário. Empresas com determinado porte podem ter a dúvida legítima entre uma abertura de capital ou a captação de recursos junto a um fundo. A boa notícia é que o mercado parece passar por um momento de ajuste e equilíbrio entre essas opções, avaliando os benefícios e o timing de cada uma, principalmente quando se considera uma estratégia clara de desenvolvimento e o momento da empresa. Assim obtém-se o melhor da combinação entre o private equity e o mercado acionário, e os processos de IPOs tornam-se mais robustos e consistentes.