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Tempo de transição
Com os juros em declínio, gestoras reforçam seus fundos de ações e partem para uma atuação mais participativa nas companhias

Os últimos meses têm sido regados a boas notícias para os gestores de fundos de ações. Primeiro, vieram os recordes do Ibovespa e, depois, a informação de que o número de ofertas públicas iniciais realizadas até junho se igualou ao total de IPOs registrado em todo o ano de 2006. Era de esperar que eles estivessem rindo à toa. Mas não estão. As “assets” andam preocupadas em buscar estratégias que as diferenciem dos concorrentes. Afinal, num cenário tão favorável à renda variável, é provável que a quantidade de fundos com retornos atrativos aumente nesse setor. Em outras palavras, ficou fácil ser bom. O desafio, agora, é ser melhor que os outros.

A partir deste semestre, pelo menos três grandes gestoras — duas delas ligadas a banco — têm planos de se aproximar mais das empresas investidas, o que significa colocar o pé na estrada e checar in loco como anda o dia-a-dia do negócio, olho no olho com os executivos ou com o acionista controlador. Tal comportamento, que lembra um pouco o trabalho dos “value investors”, visa garimpar ativos menos líquidos com grandes chances de valorização.

Nessa linha, a Mauá Investimentos acaba de trazer para a sua equipe o economista Mauro Cunha, então diretor de investimentos da Franklin Templeton, conhecido por sua atuação na gestão de carteiras comprometidas com os princípios da boa governança. Segundo Luiz Fernando Figueiredo, um dos sócios da Mauá, a vinda do profissional faz parte da estratégia de ampliar o foco sobre o mercado de ações, que, em sua avaliação, é o que mais deve se desenvolver, seguindo a expectativa da conquista do investment grade pelo Brasil. “No futuro, nenhuma gestora sem uma área de ações bem desenvolvida será completa”, observa. “Mais e mais casas devem preparar suas equipes levando em conta o fundamento dessas companhias, conhecendoas em detalhes.”

Um outro exemplo dessa tendência é visto na Unibanco Asset Management (UAM), que, nas próximas semanas, vai lançar o fundo Seleção Ações Brasil, cuja composição pretende fugir dos tradicionais papéis do IBX e da Ibovespa. “Acabou o trabalho fácil para os gestores”, brinca Ronaldo Patah, superintendente de renda variável da UAM. Ele acredita que, agora, a busca por rentabilidade diferenciada no mercado de ações inclui visitas às empresas investidas. Na ocasião da entrevista à Capital Aberto, por exemplo, Patah havia acabado de voltar do interior de São Paulo, onde visitou a fábrica de uma companhia candidata a freqüentar a carteira do fundo. “Não é só olhando balanço que a gente consegue fazer toda a lição de casa”, ensina. Num primeiro momento, o Seleção Ações Brasil será destinado para clientes qualificados, mas há chances de o produto chegar ao segmento de alta renda do banco, o Uniclass, ainda neste ano.

O terceiro caso de fundo que promete reformular o modo de atuação de seus gestores vem com o lançamento do Bradesco FIA Seleção, previsto para julho. Ricardo Mizukawa, superintendente de produtos da instituição, explica que a carteira terá, no máximo, ações de 20 companhias, exatamente para permitir um acompanhamento personalizado de cada empresa. “Vamos estudar o negócio a fundo, identificar oportunidades para as quais o mercado não está dando bola”, explica. Sem dar mais detalhes sobre a novidade, diz apenas que nenhuma ação vai superar 20% do patrimônio líquido do fundo, e que haverá forte presença de negócios de pequeno e médio porte. “Queremos algo diferente.” É esperado que o produto repita a mesma procura da carteira Bradesco Prime FIC Small Cap — que também passa longe da composição dos índices tradicionais da bolsa. Nesse fundo, a captação somou surpreendentes R$ 341 milhões, só neste ano.

MAIS ALTERNATIVAS — Ampliar o conhecimento sobre aquelas empresas comumente esquecidas no pregão não é a única estratégia das assets para captar novos clientes. A bem da verdade, nem todos os cotistas estão preparados para os riscos dos produtos de gestão ativa, por mais que o atrativo seja a possibilidade de recuperar as saudosas taxas antes pagas pelos fundos DI. Conformados de que esse ganho fácil está, definitivamente, condenado ao passado, os clientes até devem abrir mão dos confortáveis produtos indexados aos títulos públicos, mas esse processo não será imediato. Muitos ainda relutam em migrar para a renda variável, temendo as perdas com uma eventual reviravolta da bolsa.

Pensando nessa parcela de investidores, algumas gestoras decidiram ressuscitar os chamados fundos de capital garantido. Essas carteiras chegaram a fazer sucesso nos anos 90, mas foram logo esquecidas após a explosão da taxa de juros da economia brasileira no fim daquela década. Hoje, porém, com a expectativa de que a Selic despenque cada vez mais, o capital garantido tornou-se um fenômeno de vendas. Levantamento feito pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), a pedido da reportagem, revela que essa modalidade de investimento foi a que mais cresceu em patrimônio líquido nos últimos seis meses. Saiu de R$ 243 milhões, em janeiro, para os atuais R$ 612 milhões — um salto de 152%. O segundo lugar no ranking dos que mais cresceram ficou com as carteiras de ações, com 21% de aumento no patrimônio. Apesar de ainda não exibir um volume comparável aos aportes gigantescos feitos na renda variável, nos multimercados e no próprio DI, os depósitos no capital protegido já aparecem no radar das estatísticas da Anbid, alcançando o tamanho dos fundos cambial e de dívida externa, que não param de perder cotistas (veja quadro abaixo).

Criado para atrair investidores avessos às oscilações do mercado, esse produto tem uma lógica conveniente. Mesmo se o Ibovespa cair, ele garante o resgate do capital nominal aplicado no fundo no final de um período pré-determinado — normalmente, 15 meses. O direito a essa proteção é compensado pelo fato de o cotista só receber uma parte dos rendimentos da bolsa no caso de alta do índice. Há muitas variações sobre a forma de montar essa estratégia. Alguns gestores chegam a garantir o principal por meio de uma seguradora, mas o mais comum é essa proteção ser feita por meio de contratos de derivativos que travam a perda e o ganho da carteira.

Safra, Bradesco, Banespa, Banco do Brasil, Santander, HSBC, é difícil achar uma instituição que ainda não tenha um produto com esse perfil. Só o BNP Paribas já lançou, neste ano, cinco fundos de capital protegido. Dois deles foram feitos exclusivamente para os clientes da instituição e os outros três, para atender a encomendas de distribuidores terceirizados. Para o gestor de renda variável da instituição francesa, Gilberto Kfouri, ainda sobra espaço para esse tipo de fundo. “Há muitas distribuidoras que não conhecem o produto e querem algo do gênero para oferecer ao seu segmento de clientes private ou de alta renda.”

A Banif Nitor Asset Management prepara-se para lançar um fundo com essas características voltado ao varejo, com aplicação mínima de R$ 5 mil. “Queremos incentivar a popularização da indústria de fundos sofisticados”, defende Cássio Staróbole, responsável pela área de produtos da gestora. O Banif Nitor Capital Garantido vai pagar um percentual, que pode chegar até 100%, sobre o que alcançar o índice, independentemente do quanto ela suba.

Já a família de fundos Smart, do HSBC, aposta numa estratégia diferente. O investidor deixa o dinheiro aplicado por 15 meses e, nesse período, tem direito a toda a valorização do Ibovespa até o limite de 35%. Se o índice for além disso, o contrato prevê um ganho fixo de 22% — mesmo que, em dado momento, a bolsa volte a cair e feche o período em baixa. Mas e se o Ibovespa só cair? Bem, aí ele tem o capital garantido, claro.

Se a migração do fundo DI justifica a criação de mais produtos pelas assets, por que não imaginar que o movimento também pode causar a abertura de novas firmas gestoras pelo mercado? A Integral Trust, conhecida estruturadora de operações de securitização, é uma prova de que isso será comum daqui em diante. Nas próximas semanas, eles inauguram uma gestora de recursos especializada em créditos privados. Para assumir tal empreitada, foi chamado Fernando Meibak, ex-CEO da HSBC Investments, que, no papel de diretor da asset, já prepara a criação de dois fundos.

Diante das novidades, fica a pergunta: haverá clientes para todos? Pelos dados da consultoria Fortuna, não vão faltar órfãos dos produtos DI para ocupar opções mais arriscadas de investimentos. De dezembro a maio, os produtos referenciados à taxa Selic sofreram um resgate de R$ 14 bilhões — a maior perda, em volume de recursos, entre todas as modalidades de fundos no País. Em outras palavras, há uma bolada de dinheiro à procura de novas e boas oportunidades.


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