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Chegou a vez deles
Com a leva de aberturas de capital de frigoríficos, produtores de carnes, aves e suínos finalmente ganham expressividade na bolsa de valores

ed47_pg58-61_2 (1)Quando os analistas de uma era futura olharem para o ano de 2007, provavelmente vão afirmar que a compra da norte-americana Swift feita pela JBS-Friboi foi mais que um negócio de US$ 1,4 bilhão. Além de garantir ao grupo brasileiro a liderança mundial nesse setor, a aquisição já está sendo considerada um marco para os produtores de carnes, aves e suínos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Até então, mesmo as S.As com grande representatividade no pregão, como Sadia e Perdigão, dividiam as atenções do mercado com as demais companhias do varejo. Hoje, essa indústria começa a ganhar um espaço próprio na bolsa, ao lado de uma nova safra de ativos que chegam com os IPOs de frigoríficos.

Cada vez mais, assuntos como o preço da arroba, as variedades da gripe aviária e os focos de febre aftosa no mundo deixam de ser uma pauta exclusiva de especialistas em economia rural para entrar nas discussões dos investidores. Esse público aprende rapidamente, na mesma velocidade que as concorrentes da Friboi se preparam para abrir o capital. Minerva, Bertin e Independência são alguns exemplos de empresas que terão suas ações cotadas em bolsa muito em breve. A primeira ainda guardava, no fechamento desta edição, a análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para obter o registro do IPO. As duas últimas teriam interesse de caminhar na mesma direção.

Para quem se surpreende com o repentino desembarque do setor no mercado de capitais, é bom lembrar que o movimento estava ensaiado desde 2005. Foi adiado devido às crises sofridas com a queda na demanda doméstica e internacional, motivadas por questões fitossanitárias. “Quem acordou agora foi o mercado, pois essas empresas vinham se preparando para a nova etapa assim que o cenário econômico melhorasse”, diz o economista-chefe do departamento de análise da consultoria CMA, Luiz Rogé Ferreira. Em sua avaliação, um importante acelerador para os IPOs é a atual febre de consolidações nesse segmento assistida no Brasil. As empresas reconhecem que, se não adotarem, o quanto antes, uma estratégia de crescimento agressiva — em paralelo à profissionalização da gestão e à adoção de boas práticas de governança corporativa —, serão alvo de ofertas de compra de outros frigoríficos nem sempre favoráveis ao seu negócio. “No mínimo, a captação em bolsa pode garantir uma condição melhor para negociar uma eventual tentativa de aquisição”, acrescenta ele.

Na Independência Alimentos, uma das maiores exportadoras de carne do País, a preocupação com a governança corporativa começou em 2001, com uma reestruturação interna visando melhoria de gestão e mais qualidade para atender às exigências do comprador internacional. Aos poucos, essas iniciativas passaram a focar o mercado de capitais e, hoje, o vice-presidente, Miguel Graziano Russo, afirma que a Independência está pronta para a listagem em bolsa. “É uma tendência do setor”, resume. A empresa, que já tem definida sua política de sucessão, discute neste momento uma nova composição do conselho de administração. No segundo semestre, os familiares cedem suas cadeiras para a chegada de membros independentes. Embora outros detalhes sobre o perfil do board ainda não sejam públicos, está certo que o fundador, Antônio Russo Neto, que desde 2003 não é mais o CEO, permanecerá no negócio como presidente do conselho. Perguntado se a estréia da Independência no pregão será em 2007, o vice-presidente responde apenas que aguarda “o momento ideal”.

No caso de Minerva e Marfrig, a hora chegou. O prospecto da oferta da Marfrig, que estreou em junho, não deixa dúvidas de que, assim como ocorreu anos atrás nos países desenvolvidos, o movimento de consolidação dos produtores de carne vai se repetir por aqui. “Muitos dos nossos concorrentes na América do Sul não possuem escala ou estrutura de capital adequadas para competir de maneira eficaz”, diz o texto. Por essa razão, a empresa afirma que pretende monitorar continuamente o mercado, buscando oportunidades de aquisição e parcerias no Brasil e no exterior. A mesma estratégia está nos planos da Minerva. No início do ano, a empresa captou US$ 200 milhões com a emissão de bônus no exterior para a compra de dois frigoríficos, no Tocantins e no Pará.

A atual febre de consolidações no segmento acelerou a decisão dos empresários de partir para o IPO

Ainda no capítulo de possíveis sinergias nesse setor, também merecem destaque os passos das veteranas Sadia e Perdigão. Esta última demonstrou seu forte interesse na produção de carnes com a aquisição do frigorífico operado pela Unifrigo, em Mirassol D’Oeste (MT), um mês depois de ter anunciado a compra da holandesa Plusfood. Já a Sadia deve inaugurar, até o fim de dezembro, sua fábrica na Rússia, construída a partir de uma joint venture com uma distribuidora de carnes local. No embalo de tantas novidades, nada mais natural que as ações de companhias do setor — inclusive algumas com baixíssima liquidez — comecem a se movimentar. As ações PN da Minupar, por exemplo, cotadas a cerca de R$ 3 em janeiro deste ano, batiam os R$ 15 na penúltima semana de junho. A valorização se repete na Avipal, cuja alta chega a 60% neste período. O sobe-e-desce no pregão contaminou até o mercado argentino. No mês passado, rumores de que a Sadia compraria uma unidade de processamento de carnes naquele país fizeram com que as ações da Molinos Río de la Plata subissem 10% em uma semana na bolsa portenha.

PERSPECTIVAS — Não faltam razões para tamanha empolgação do mercado. Os especialistas afirmam que o Brasil tem tudo para continuar com o primeiro lugar no ranking das exportações de carne bovina e dono do maior rebanho comercial de gado do planeta. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o volume de vendas do País lá fora apresentou taxa média de crescimento anual de 25,4% entre 2000 e 2006, mesmo diante das barreiras comerciais impostas por países como Estados Unidos e Japão. Em maio, atingimos um novo recorde, com US$ 443,8 milhões comercializados no mercado internacional. O setor de aves também traz boas notícias. As indústrias se recuperam bem do fraco desempenho no ano de 2006, causado pela gripe aviária, com aumento de 16,8% nas exportações do primeiro trimestre. Relatório da CMA aponta elevação na margem Ebitda de 122% da Sadia e de 81,4% da Perdigão, no período de janeiro a março de 2007 em relação ao mesmo trimestre do ano passado.

Roger Oey, analista do Banif Primus, explica que o aumento do consumo de carnes no Brasil e no mundo vem compensando a depreciação do dólar nos últimos dois anos. Segundo ele, a alta dos preços no cenário internacional da maior parte das commodities agrícolas, incluindo a carne, neutraliza, pelo menos em parte, os impactos negativos dos nossos exportadores com a valorização do real. Além disso, o fato de a cotação da moeda norte-americana também cair perante as moedas de países consumidores da carne brasileira, como ocorre na Rússia, também ajuda a diminuir os efeitos da diferença cambial. Diante de um cenário mais favorável, fica fácil acreditar que, além das empresas que já declararam interesse por uma oferta pública, haverá novas candidatas daqui para a frente. “Vamos assistir a um movimento semelhante ao que aconteceu nos setores imobiliário e de usinas de açúcar”, prevê o analista da Máxima Asset, Denilson Duarte.

Mas a bolsa comportaria três, cinco, dez frigoríficos? Roger Oey defende a tese de que sempre haverá espaço para a empresa que trouxer um diferencial, independentemente da quantidade de representantes de um mesmo setor. Neste contexto, dificilmente alguém que não invista pesado em gestão estratégica e redução de custos conseguirá se diferenciar perante o investidor. Segundo ele, o fato de o agronegócio estar diretamente ligado ao consumo da população faz com que o setor tenha alta correlação com a macroeconomia. “O investidor vai prestar atenção em iniciativas específicas adotadas pelas companhias, como planejamento de marketing, logística, endividamento”, ensina. Veteranas ou novatas, quem estiver melhor nesses detalhes merecerá um prêmio maior.

RISCOS À VISTA — Para o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, nem sempre a lista de condições favoráveis implica alta dos papéis listados nesse setor. Pode ocorrer o contrário. Afinal, há riscos também no excesso de oferta. O aumento do número de empresas que estão se capitalizando na bolsa de valores vai trazer mais dinheiro para o setor e, com ele, mais produção. Se as previsões para o equilíbrio entre demanda e oferta não se concretizarem, o Brasil poderia assistir a uma crise de oferta como a já vista em 2006. Por se tratar de um ano eleitoral, os produtores se planejaram para um consumo maior, o que acabou não acontecendo. Sobrou mercadoria e o preço despencou.

Molinari esclarece ainda que o ciclo do boi — período entre a gestação do animal, crescimento e alcance da idade ideal para o abate — é longo (cerca de 3 anos), o que dificulta calcular, com precisão, os cenários futuros para o consumo. Outra análise necessária recai sobre as características peculiares a cada perfil de indústria. Uma companhia integradora, isto é, que tanto cria o animal quanto processa as carnes, tem chances de ganhar não só com o aumento das vendas para o varejo, como com a maior procura de seus animais pelos frigoríficos. Porém, em situações de queda na demanda, os criadores tendem a ter mais dificuldades para equilibrar o caixa, já que o ajuste nos custos dessa atividade não ocorre de uma hora para outra. Por outro lado, o aumento do consumo nem sempre é garantia de lucros gordos para o setor alimentício. Se a procura chegar a ameaçar o abastecimento, pode faltar o produto e os preços dispararem. Bom para a indústria, sem dúvida, mas só até o consumidor de carne bovina lançar mão de opções como o frango ou peixe. “Esse mercado funciona por ciclos. É preciso conhecê-los para identificar o momento certo de entrar ou sair das posições em bolsa”, acrescenta Molinari.

Ao estudar o funcionamento do agronegócio, o investidor vai deparar ainda com riscos vindos de surtos de doenças em caso de contaminação em terras brasileiras. Verá também que, se a alta mundial das commodities agrícolas favorece a receita dos exportadores da indústria de carne, também sobem os preços da matériaprima que alimenta os animais no Brasil. O aumento do preço do milho, usado na ração das aves, é um exemplo atual de preocupação para a nossa avicultura. Somam-se a essas hipóteses as chances de haver prejuízos por meio de uma eventual condição climática desfavorável, pela imposição de novas barreiras comerciais internacionais, pelo aumento nos custos oriundos do cumprimento da legislação ambiental, além do aumento da concorrência. Investir envolve riscos. Não vai faltar assunto para quem decidir embarcar no segmento assim que ele tiver se consolidado na bolsa.


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