Pesquisar
Close this search box.
José Teixeira de Oliveira – Sonho de ser sócio
Lenda viva das assembléias de acionistas cariocas, o minoritário José Teixeira de Oliveira, o Teixeirinha, tem muita história para contar.

ed46_p44-46_1Aliás, história é o que não falta para este investidor que, dos seus 70 anos, dedicou 51 às aplicações em ações e, nos últimos 46, foi freqüentador assíduo de assembléias. A primeira, diz sem titubear, “foi em 1961, na Engenav Engenharia Naval, Rua da Alfândega, número 100”. Teixeirinha estima participar de um total de 40 encontros desse tipo por ano. Achou muito? É apenas uma parcela de sua carteira formada por ações de 178 companhias abertas e 32 fechadas. Não raro, segundo fontes que o conhecem bem, essas empresas estão representadas por uma única ação — o suficiente para que ele possa participar das assembléias e dar o seu voto.

Ao longo das últimas décadas, Teixeirinha presenciou as mais importantes mudanças promovidas para estimular o mercado de capitais. Já era investidor quando, em 1965, foi promulgada a Lei do Mercado de Capitais. No início da década de 70, época da bolha que levaria ao crash da bolsa, chegou a comprar ações de companhias que nem existiam — erro que traumatizou muitos dos investidores brasileiros.

Apesar de acumular alguns investimentos fracassados, Teixeirinha afirma que nunca deixou de ser um entusiasta do mercado. E assegura que mantém, até hoje, um comportamento fora do padrão: o de não realizar lucros. Mas o que leva um aplicador a abrir mão dos ganhos, acumular posições tão variadas e dedicar parte considerável de seu tempo para conhecer as companhias nas assembléias? A resposta está no interior de Minas Gerais, onde ainda jovem ele já sonhava em ser acionista de empresas.

Durante a apuração desta reportagem especial sobre assembléias, a Capital Aberto esteve em cinco reuniões de acionistas realizadas no Rio de Janeiro. Em quatro delas encontrou Teixeirinha e viu de perto como sua postura é peculiar. Ao proferir em voz alta um voto a cada item em discussão, ele realiza seu maior desejo — o de ser tratado como sócio pelos “funcionários” da companhia. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida após a assembléia da Petróleo Ipiranga. Dia que, segundo Teixeirinha, ficaria “marcado pela tristeza de se ver, em um auditório quase vazio, mais uma empresa deixar o mercado”.

C.A: Como o senhor começou a investir em ações?
Teixeirinha: Com 6 anos de idade eu já trabalhava na roça. Depois passei a negociar galinhas, porcos e, em seguida, gado. Aos 14, já era forte nesse mercado porque eu sabia fazer contas e preencher cheques, ao contrário do meu sócio, o verdadeiro capitalista e dono do dinheiro. Aos 17 anos comecei a levar gado para matadouros importantes na época, como o de Santa Cruz, no Rio. Nesse período conheci o doutor Sebastião Afonso Neto, que me ensinou a negociar no mercado de capitais. Aos 19 anos eu já comprava cotas de empresas fechadas que foram se transformando em ações ordinárias conforme elas abriam o capital. Compramos papéis da Siderúrgica Nacional, Light, Petrobras e Telerj, entre outras. Meu sonho era ser sócio, sempre minoritário, de muitas empresas.

Desde quando o senhor tem esse sonho?
Sou da Zona da Mata mineira, região com muito gado e café, e filho de um homem que era administrador de fazenda, e não seu dono. Os filhos dos ricos estudavam na Europa e eu alimentava o sonho de ter empresas que dessem aos seus funcionários a mesma oportunidade.

Esse sonho foi realizado?
Em parte, sim. Eu acredito que até o botequim da esquina precisava ser de capital aberto para que seus papéis não fiquem centralizados nas mãos do Joaquim, do Antônio ou do Manoel. País rico é aquele onde a maioria das empresas é aberta, e nós ainda temos poucas. É verdade que desde a década de 70 o mercado melhorou muito e, nos últimos dez anos, avançamos ainda mais. No entanto, os donos das empresas são conservadores e têm medo dos grandes fundos de pensão. Não podemos ter medo dos investidores, ao contrário.

O senhor mantém participação acionária em quantas empresas?
São 178 empresas abertas e 32 fechadas. Ao longo dos anos, várias companhias deixaram a bolsa e eu mantive a participação. Algumas me expulsaram, como a Odebrecht e a White Martins. A BR Distribuidora me indenizou, transferindo todas as ações para a Petrobras. Financeiramente , não perdi nada, mas hoje não tenho nem o direito de passar na sala do conselho diretor. Não me interessa aderir a ofertas públicas de aquisição de ações para posterior fechamento de capital. O que eu quero é ficar na empresa, mesmo que não haja liquidez. Tenho, por exemplo, ações da Papel Piraí, fruto de uma cisão da Souza Cruz. A empresa fechou capital, mas até hoje eu freqüento a assembléia.

E o que falta para o sonho do senhor se realizar?
Quero chegar em uma assembléia e encontrar 100, 200 ou 500 acionistas. Quero ver a juventude fazendo parte da riqueza do País e brigando pelo crescimento das empresas. É por isso que vou às escolas dar palestras sobre o mercado de capitais.

Por que o senhor faz questão de ir às assembléias? Quando esse interesse começou?
A primeira assembléia em que estive presente foi a da Engenav Engenharia Naval, em 1961. Era uma empresa de capital fechado, na Rua da Alfândega, número 100. É importante ir à assembléia para ficar ao lado do dirigente maior da empresa e também para conhecer a companhia. Todos sabem que, até a década de 70, muitas empresas que emitiam ações simplesmente não existiam. Nessa época, São Luís, no Maranhão, constava como sede de diversas companhias de papel e celulose. Comprei ações de oito delas. E como eu descobria que as ações eram falsas? Indo até lá para ver. Essas decepções nunca me abalaram. No Banerj, por exemplo, perdi 4,1% do capital votante. Na Mesbla foram mais de 800 milhões de ações.

E a comunicação das empresas com seus acionistas, como mudou nos últimos anos?
Já em 1972, no mundo evoluído, vi no jornal o edital de convocação da assembléia da GM. Fui para São Paulo e não conseguia nem passar pelo portão da empresa, mesmo mostrando o anúncio. Diziam que não havia assembléia. Só quando ligaram para o presidente da empresa nossa entrada foi liberada. Na verdade, eles montaram uma assembléia na hora. Outro caso interessante foi a da Acesita, há oito ou nove anos. A assembléia foi convocada para as 14h. Cheguei às 12h40 e fiquei aguardando, junto com outros acionistas minoritários. O tempo passou, e ninguém nos mandou subir. Fui saber o que estava acontecendo e nos informaram que a assembléia já tinha sido realizada com a presença da Previ. Exigi que a assembléia fosse feita novamente, com a nossa presença, o que ocorreu. Mas isso só acontece por causa da ausência dos acionistas.

Qual é a importância do minoritário em uma assembléia?
>O acionista deve cuidar de seus interesses. Atualmente, a participação nas assembléias é pequena porque o investidor tem preguiça e não tem cultura. Se eu não vou, ninguém vai me conhecer. É preciso ser chato, perguntar e também elogiar. O presidente da companhia é um funcionário e tem que me respeitar como um dos sócios da empresa

“Comandante” transforma histórias de empresas em letras de músicas

ed46_p44-46_2pSeu nome é Gilberto Esmeraldo, mas é como Comandante que o capitão-de-mar-e-guerra aposentado pela Marinha é conhecido nas principais assembléias do Rio de Janeiro. Freqüentador assíduo dos encontros de acionistas, esse simpático senhor de 65 anos é um investidor, digamos, diferente. Apaixonado por música, Comandante já compôs sambas para Souza Cruz, CSN, Petrobras, Bradesco Vida e Previdência e CPFL Energia. As letras enfatizam a história, as atividades sociais e os princípios de governança corporativa de cada empresa. “Minhas músicas já foram executadas durante uma assembléia da Petrobras e na festa comemorativa de seus 50 anos; na celebração de fim de ano da CPFL Energia… ah, e foi música da espera telefônica da Souza Cruz”, conta, orgulhoso.

Quando o assunto lhe interessa, Comandante é do tipo que pergunta para ele mesmo responder. “Sabe por que eu faço essas músicas? Para motivar e elevar a auto-estima dos funcionários. Para os que realmente gostam da empresa trabalharem mais felizes. Não ganho nada com essas composições”, diz. O investidor-compositor faz questão de doar todos os direitos autorais para a companhia que foi tema do samba e ainda entrega, no mínimo, 500 cópias em CDs. “É para sortear e distribuir entre os empregados.” Bem- humorado, Comandante ainda se gaba do intérprete de suas músicas, agora com um passe “mais valorizado”. É porque todas as gravações têm a voz de Luizito, sucessor de Jamelão no posto de puxador principal da Mangueira, a escola de samba mais popular do Rio.

Como investidor, Comandante adota postura conservadora. O objetivo, enfatiza, é sempre o de longo prazo. Os primeiros passos no mercado de ações foram dados em 1970, mas a crise de 1971 o afastou do segmento até 1987. “Voltei e, desde então, nunca mais deixei a bolsa. Se não tivesse ficado tanto tempo de fora, acho que seria milionário”, cogita. Hoje, sua carteira é formada basicamente por dez empresas, para as quais Comandante dedica, além de canções, parte de seu tempo. Segundo ele, ainda falta ao acionista o hábito de ser atuante. “É por isso que vou às assembléias. Para perguntar, tirar dúvidas e elogiar o que for bom”, diz.

Planejamento estratégico eficiente / Abastecimento, qualidade, ousadia / Exportar para manter lucro crescente / Competir como empresa de energia / Programa de responsabilidade social / Petrobras Social para criança carente / Apoio à saúde, patrocínio cultural / Segurança no trabalho e meio-ambiente.
(Estrofe do samba em homenagem aos 50 anos da Petrobras)


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.