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Rumo à bolsa
Em busca de capital para superar restrições futuras ao crédito, bancos médios recorrem aos IPOs para preservar a competitividade

Depois da invasão do setor imobiliário na Bovespa, um novo grupo se prepara para desembarcar no pregão. Até então pouco interessados em abrir o capital a investidores, os bancos de médio porte estão agora bem próximos de fazer sua primeira oferta de ações. Por trás desse movimento está, mais uma vez, a excelente janela de oportunidade que se abriu para o Brasil nos últimos anos. O apetite para a compra de ações, principalmente por parte dos investidores estrangeiros, continua a incentivar a listagem de novas empresas e promete trazer, em breve, os bancos Pine, Cruzeiro do Sul e Sofisa para a bolsa, cujas ofertas foram submetidas à análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). E a fila poderá crescer ainda mais. Os bancos Fibra e PanAmericano estudam com afinco a possibilidade de IPO, e há expectativa de que o BicBanco venha a seguir o mesmo caminho.

Encontrar a melhor forma de captar novos recursos será crucial para que os bancos médios mantenham um posicionamento de mercado saudável diante da concorrência das grandes instituições. Prova disso são os três prospectos preliminares já disponíveis na CVM. Todos informam sobre a intenção de emitir ações e destinar o capital novo ao incremento das carteiras de crédito.

Além disso, fatores pontuais acentuaram a importância da diversificação das opções de captação de recursos dessas instituições. O principal foi a falência do Banco Santos, em 2004. Na época, os grandes investidores institucionais tornaram-se mais cautelosos e reduziram a parcela de recursos destinada aos bancos de médio porte. Como alternativa, foram adotadas as captações externas e a estruturação de FIDCs, além da cessão de carteiras de crédito com co-obrigação — operação em que a instituição vende a carteira para outro banco, mas fica com o risco de inadimplência. A cessão de carteiras, porém, tende a ser desestimulada por futuras regras do Banco Central. Espera-se que o órgão passe a obrigar os bancos cedentes a manter em seus ativos as carteiras de crédito negociadas no regime de co-obrigação — uma perspectiva que, se confirmada, exigirá mais capital para o cumprimento do índice previsto no Acordo da Basiléia. O indicador, que no caso brasileiro é de, no mínimo, 11%, relaciona o patrimônio do banco com o montante de capital alocado em ativos de risco. Se as novas regras do BC obrigarem a manutenção dos créditos cedidos (considerados ativos de risco) em balanço, os bancos estarão sempre dependentes de maiores volumes de capital para ampliar as operações de cessão de créditos. A mudança desestimularia, portanto, uma importante fonte de renda para os bancos médios atualmente.

NEGOCIAÇÕES PARALELAS — Pine, Cruzeiro do Sul e Sofisa largaram na frente e poderão, devido ao pioneirismo, ter alguma vantagem competitiva frente aos concorrentes. No entanto, a chegada de todas essas instituições à bolsa não é considerada certeira, pelo menos por enquanto. Segundo Erivelto Rodrigues, da Austin Rating, os bancos de médio porte estão sendo avaliados, em média, por 2,5 ou 3 vezes o patrimônio líquido. O valor atrativo, afirma, estaria fazendo com que as instituições que já pediram registro de companhia aberta à CVM estejam, ao mesmo tempo, negociando nos bastidores com investidores estratégicos.

Rafael Fagundes Cagnin, analista setorial da Lafis Consultoria, não considera as possibilidades de IPO e de uma fusão ou aquisição (M&A) excludentes, apesar de acreditar que, no médio prazo, teremos um número maior de operações de alienação para um novo sócio do que de estréias na bolsa. A atratividade das instituições locais seria o motivo principal. “Uma nova onda de aquisições estrangeiras deve priorizar nichos específicos, como middle market, private bank e atacado”, prevê.

O Banco Fibra, candidato à abertura de capital, é um retrato do momento atual. Não oficializou o interesse em fazer um IPO, mas admite estudar outras duas possibilidades: aumento de capital pelo próprio acionista controlador ou a entrada de um sócio investidor. Uma futura oferta de ações é considerada inevitável, mas o estudo dos impactos de um aumento de capital ainda está sendo feito. Além disso, seriam necessários ajustes na governança corporativa, como a eleição de membros independentes para o conselho de administração. “Mas se for mesmo esta a nossa opção, levaríamos três ou quatro meses para chegar ao mercado”, diz CássioVon Gal, diretor executivo financeiro.

Outro banco que se prepara para a estréia na bolsa é o PanAmericano. A instituição aguarda com atenção a chegada de concorrentes ao pregão. Quer aprender com as experiências pioneiras para depois conquistar os investidores com o seu principal trunfo: atuar com foco no crédito para as classes C, D e E, segmentos que teriam ampla perspectiva de crescimento e, por isso, seriam mais bem vistos pelos aplicadores estrangeiros.

Os preparativos do PanAmericano começaram há dois anos e a expectativa é de que, já no segundo semestre de 2007, a decisão esteja tomada. Se concretizado o IPO, o banco seria a primeira empresa controlada pelo Grupo Silvio Santos a abrir capital. A expectativa em torno do ingresso na bolsa é grande, principalmente porque esta é a única alternativa em estudo para aumentar as captações de recursos. “O mercado de ações é mais atrativo para o dono da empresa”, diz o diretor financeiro Wilson de Aro, justificando que é melhor ter vários sócios minoritários em detrimento de um sócio investidor.

Além destes, o BicBanco é cotado por analistas como outro candidato ao IPO. “O banco tem nível de desenvolvimento compatível com o ingresso na bolsa”, observa Renato Oliveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Cagnin, da Lafis, concorda que o banco da família Bezerra de Menezes é um potencial IPO.

Mas por que somente agora os bancos médios estão se voltando para a bolsa? A primeira parte da resposta está na tão propagada liquidez do mercado. A segunda remete às origens dessas instituições. Assim como o BicBanco, a maioria delas conta com gestão familiar e atuação regionalizada. Estes aspectos, somados à pouca tradição no campo da governança corporativa, teriam afastado, por muito tempo, a idéia de emitir ações. “Mas agora, para os acionistas de bancos médios que pretendem se capitalizar e ainda manter o controle, reduzindo as interferências externas na gestão do negócio, o IPO pode ser a melhor saída”, observa Cagnin.

Burocracia leva a listagem simples

Se efetivarem a entrada na Bovespa, os bancos Pine, Cruzeiro do Sul e Sofisa serão os primeiros, desde a retomada dos IPOs em 2004, a estrear em bolsa listando-se no Nível 1 de governança corporativa — o mais simples dos três segmentos criados pela Bovespa. Sob análise na CVM desde 31 de janeiro, o Pine, que atua, sobretudo, nas áreas de crédito consignado e crédito para empresas médias, anuncia, já no prospecto preliminar da oferta, a intenção de migrar para o Novo Mercado. Entre as práticas adotadas voluntariamente — e que excedem o exigido pelo Nível 1 — estão o conselho de administração com 20% de membros independentes, a extensão a todos os acionistas das condições obtidas pelos controladores em caso de alienação do controle (tag along) e a obrigação de realizar ofertas públicas de aquisição de ações em determinadas circunstâncias, entre outras. Cruzeiro do Sul e Sofisa, em seus prospectos preliminares, também anunciam o ingresso no Nível 1 com a perspectiva de migração para o Nível 2.Na prática, a listagem no primeiro degrau de governança diferenciada da bolsa não é uma escolha desses bancos. Segundo a Constituição de 1988, instituições financeiras só poderão ter capital estrangeiro votante mediante decreto presidencial. Sem a autorização, é vedada a entrada no Novo Mercado – que negocia apenas ações ordinárias — e no Nível 2 — que reserva direito de voto aos preferencialistas em algumas matérias, como incorporação, fusão ou cisão da companhia. Até o momento, apenas Nossa Caixa e Banco do Brasil, instituições públicas, tiveram o aval federal para negociação no Novo Mercado. “Pretendemos ingressar no Nível 1, já que o acesso das instituições privadas ao decreto do presidente é mais difícil”, diz Wilson de Aro, diretor financeiro do PanAmericano. (YY)

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