No rastro do agito
Advogados e consultores crescem com a movimentação do mercado de capitais e já enfrentam problemas como a falta de profissionais especializados e a concorrência de preços

Que os bancos são os grandes beneficiados pelo interesse crescente das companhias em abrir o capital não é novidade. Mas vale lembrar que eles não são os únicos. Um exército de advogados, consultores e auditores hoje trabalha como nunca no ramo do mercado de capitais para deixar as candidatas desfilarem pela passarela da Bovespa em condições de atiçar a cobiça dos investidores. Cautelosos, não gostam de mencionar quanto o faturamento da área engordou nos últimos tempos. Mas não escondem que estão festejando, ano a ano, a inesperada virada do segmento iniciada em 2004.

Machado, Meyer, Sendacz e Opice e Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga
são os dois mais ativos escritórios no mercado de capitais. Para o primeiro, a onda de ofertas públicas de ações e outras ofertas de ações começou em 2004 e, desde então, o escritório nunca teve menos de dez operações por ano, segundo o sócio Carlos José Rolim de Mello. Foi tanto trabalho que ele teve de voltar à área de mercado de capitais para reforçar o time — a experiência nesse campo veio dos seis anos em que trabalhou como advogado nos Estados Unidos. E 2007 começou ainda mais forte. “Vamos dobrar (o número de operações) neste ano.”

A euforia é confirmada pelos concorrentes. Luiz Octavio Duarte Lopes, sócio do Mattos Filho, espera ultrapassar já no primeiro semestre as 23 operações realizadas no ano passado — mais da metade de todas as ofertas de ações ocorridas em 2006.

Além do encontro de interesses entre emissores e investidores que ressuscitou as aberturas de capital, o aquecimento da bolsa local e as listagens cada vez menos freqüentes no mercado norte-americano favoreceram os negócios dos escritórios brasileiros. Antes, as operações que envolviam lançamentos de ADRs (American Depositary Receipts) eram praticamente realizadas por advogados norteamericanos e os documentos, apenas traduzidos para o português. Agora, com o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro, os escritórios locais têm mais trabalho e mais responsabilidade na elaboração das operações.

A descoberta do caminho para o mercado por parte do setor empresarial não tem demandado mais trabalho apenas para quem está envolvido com as ofertas públicas de ações. O segmento de fusões e aquisições vem pegando carona nesse fluxo. Com o caixa cheio, as novatas da bolsa partem para as compras. Isso é mais notado em setores ainda pouco consolidados e dominados por empresas de atuação regional, como o imobiliário — apontado por muitos como sendo, de longe, o mais movimentado. As grandes construtoras e incorporadoras do eixo Rio-São Paulo recém-chegadas à bolsa tendem a se alastrar por outras regiões, numa tentativa de ganho de escala e de oportunidades para investir e alcançar os resultados prometidos aos investidores.

FALTAM PROFISSIONAIS — Todo esse movimento provocou mudanças na organização dos escritórios. O Machado Meyer, por exemplo, para atender à onda de aberturas de capital dos últimos dois anos, contratou três advogados seniores e quatro juniores, além de uma equipe de apoio para os serviços administrativos, os chamados pára-legais.

O Barbosa, Müssnich e Aragão (BM&A), que hoje trabalha em seis projetos de abertura de capital, vem contratando novos advogados, mas com “parcimônia”, segundo o sócio Pedro Lana. “Não queremos fazer tudo só para crescer em IPOs.” Isso porque, explica ele, alguns clientes são apenas “passageiros”: surgem na hora do IPO e depois saem do mercado. O interesse maior está no cliente “estratégico”, aquele com o qual o escritório já se relaciona ou vê boas chances de trabalhar por mais tempo. Dos IPOs que o BM&A participou, metade foi de empresas já clientes, ou do grupo a que fazem parte. O escritório esteve presente em algumas das maiores operações de abertura de capital, como Santos Brasil (R$ 933 milhões), Gafisa (R$ 927 milhões) e GP Investimentos (R$ 705 milhões).

Mas crescer rápido assim não é tão simples. Uma das conseqüências do aumento da procura pelos serviços advocatícios para o mercado de capitais é a escassez de profissionais familiarizados com a área. Há evidente dificuldade para se encontrar advogados especializados. As escolas de Direito costumam passar longe do mercado financeiro, que só nos últimos anos começou a ser efetivamente um nicho em potencial para os advogados.

“Formamos pessoas aqui dentro mesmo”, diz Rolim de Mello, do Machado, Meyer. Outra estratégia do escritório é monitorar anualmente os principais eventos de profissionais recém-graduados nos Estados Unidos, como as feiras das grandes universidades (Columbia e Nova York, por exemplo). Ali, surgem advogados brasileiros que foram para os Estados Unidos fazer mestrado ou doutorado e com alguma experiência profissional. No ano passado, o escritório trouxe dois profissionais de lá.

A dificuldade de encontrar pessoal qualificado não se restringe ao meio jurídico. A Ernst Young, uma das quatro grandes firmas de auditoria com atuação no País, tem o mesmo problema. O sócio responsável pelo escritório do Rio de Janeiro, Mauro Moreira, comenta que o setor está em “ebulição” e que os profissionais especialistas, ao menos por enquanto, ainda são poucos. Mesmo assim, conseguiu aumentar a equipe dedicada ao mercado de capitais em 6%.

MAIS CONCORRÊNCIA — A animação do setor tem levado mais escritórios a desejar uma fatia do bolo, o que amplia a disputa pelos poucos e bons profissionais e, também, a concorrência pela clientela. O Tozzini Freire Advogados é um dos escritórios que está pronto para brigar por uma parcela maior dos IPOs. “Entramos um pouco depois na festa”, reconhece o sócio Antônio Félix. Apesar disso, no ano passado, participou de três operações, número já alcançado nos dois primeiros meses deste ano.

Na verdade, ainda está chegando muita gente para a festa e o banquete parece não ter acabado. Mesmo entre os bancos há os que só agora estão tomando seus lugares à mesa. O Banco Espírito Santo (BES) é um deles.

No ano passado, segundo o diretor de mercado de capitais, Alberto Kiraly, foram coordenados seis IPOs. Em 2007, duas operações foram concluídas e outras 12 já estão contratadas ou em fase de prospecção. O Banco Espírito Santo reforçou a equipe com mais 11 pessoas para as áreas de mercado de capitais, distribuição de ações e de pesquisa. Isso significa mais concorrência para os grandes bancos de investimento, responsáveis pela maior parte dos lançamentos de ações, como Credit Suisse, UBS Pactual, Itaú BBA, Unibanco e Merrill Lynch.

Com mais comensais, a porção de cada um tende a diminuir. Alguns escritórios de advocacia perceberam uma redução dos honorários nos últimos anos. Bruno Soter e Pedro Lana, sócios do Barbosa, Müssnich e Aragão, chegaram a notar uma tentativa de “comoditização” dos serviços, que já estaria se revertendo nos últimos meses. Rolim de Mello, do Machado Meyer, confirma a redução dos honorários, mas por conta de uma exigência das próprias companhias e dos grandes bancos que lideram as operações. Como todo crescimento, este também tem lá as suas dores. Mas as oportunidades são tantas que, pelo visto, não há do que reclamar.


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