O Preço de Emissão
A coleta de intenções, mais chamada de bookbuilding, viabilizou a fixação de um valor de mercado

 

Um dos temas mais importantes na abertura de capital de uma empresa é, naturalmente, o preço de emissão das ações que serão objeto da sua primeira oferta pública.

Números levantados com relação a diversas aberturas de capital no exterior apontavam que, de maneira freqüente, o preço das ações ao final do primeiro dia de negociação em bolsa era significativamente maior do que seu preço de lançamento. Essa valorização excessiva das ações em seu primeiro dia de negociação poderia refletir, entre outros fatores, o baixo preço praticado na oferta.

Visando equilibrar tal distorção, o mercado passou a adotar procedimentos capazes de ajustar o preço de emissão em função de parâmetros de oferta e demanda. Os mercados internacionais consagraram como procedimento clássico para equalização do preço de emissão o chamado bookbuilding, traduzido no Brasil para coleta de intenções de investimentos.

Durante vários anos, tal mecanismo foi gradativamente colocado em prática no Brasil, apesar da ausência de previsão expressa na regulamentação. As instituições financeiras participantes das ofertas e seus advogados utilizavam a criatividade para montar procedimentos que obedecessem as exigências legais existentes e, ao mesmo tempo, proporcionassem a coleta de intenções de investimentos.

Atualmente, a Instrução 400 da CVM reconhece expressamente o bookbuilding. Ao regulamentar o procedimento, estabelece que a coleta de intenções junto a investidores somente pode ser realizada a partir da divulgação de prospecto preliminar e do protocolo do pedido de registro de distribuição na CVM. Além disso, a intenção de utilizar o procedimento deve ser previamente comunicada à CVM juntamente com o pedido do registro de distribuição.

Disponibilizado o prospecto preliminar aos investidores e publicado o aviso ao mercado, inicia-se aquela que pode ser considerada a fase final dos esforços de emissão, que compreende o período de apresentação da emissora a potenciais investidores (roadshows), o procedimento de bookbuilding, a realização dos pedidos de reserva de ações e, por fim, a fixação do preço por ação.

A valorização excessiva das ações no primeiro dia de negociação reflete, entre outros fatores, o baixo preço praticado na oferta

É nessa fase que as instituições financeiras participantes da oferta ajustam o preço da ação conforme a proporção entre a oferta e a demanda verificada no procedimento de bookbuilding. Antes da adoção desse procedimento, a fixação do preço por ação se dava apenas a partir de critérios que não levavam em conta valores de mercado, tais como a perspectiva de rentabilidade da empresa emissora e o valor do patrimônio líquido da ação. Afinal, companhias prestes a abrir seu capital não tinham ainda valor de mercado.

Com a coleta de intenções, tornou-se possível utilizar um critério para fixação do preço de emissão baseado na precificação de mercado. Aqui está o diferencial e o refinamento do bookbuilding. A partir das intenções levantadas junto aos potenciais investidores pelas instituições financeiras participantes da oferta, o preço por ação pode ser fixado em bases mais seguras.

Como resultado do procedimento de bookbuilding, a oferta pública inicial é realizada de maneira mais afinada com as expectativas do mercado e a empresa emissora ganha mais segurança quanto ao sucesso da oferta e à aferição do valor real de suas ações.


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