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Sinais de mudança
Analistas avaliam decisões que darão início à mais importante transformação das telecomunicações desde a privatização

ed40_p052-055_pag_4_img_001Dezembro é, tradicionalmente, o mês em que pouca coisa acontece no mundo dos negócios. Com a proximidade de um novo ano, é comum as empresas deixarem os projetos mais complexos, como uma fusão, por exemplo, para 2007, certo? Errado. Na área de telecomunicações, as companhias têm pressa. Ninguém quer se dar ao luxo de esperar a virada da folhinha para a tomada de decisões cruciais. A eminente venda da TIM, a reestruturação da Telemar e as tentativas da Telefónica para abocanhar uma fatia dos clientes de TV por assinatura são três eventos esperados para breve que, juntos, abrirão a porteira para a mais importante transformação do mercado de telecomunicações desde a sua privatização no País.

Até o fechamento desta edição, a troca de controle da TIM ainda pertencia ao universo dos rumores, embora fosse dada como certa de acontecer, sobretudo, após a recente oferta feita pela Claro à Telecom Itália para compra de sua participação na subsidiária brasileira, de 64%. Também não havia sido realizada a assembléia da Telemar para aprovação da sua polêmica reestruturação societária e, tampouco, anunciada a posição da Anatel sobre a legalidade da atuação da Telefónica no segmento das TVs pagas. Contudo, quem acompanha o setor sabe que, em mais ou menos dias, tudo pode mudar. O atual cenário das telecomunicações está, literalmente, por um fio.

Mas o que virá pela frente? Os analistas são unânimes ao afirmar que a consolidação é o próximo passo para essas empresas. “Em pouco tempo, o consumidor brasileiro contará apenas com três grandes blocos, um espanhol, outro nacional e um mexicano, todos oferecendo um pacotão de serviços que inclui internet rápida, celular, linha fixa e TV a cabo, por um único preço, numa só conta”, acredita Alexandre Garcia, da corretora Ágora. “É um processo irreversível.” Por conta disso, Garcia explica que hoje o mercado está mais preocupado em acertar como serão os novos agrupamentos neste setor do que avaliar as informações operacionais — planos de marketing, política de preços, despesas financeiras etc. — de cada companhia. “Isso tudo ficou para o segundo plano. Nosso foco, agora, está voltado aos próximos eventos que definirão as estratégias das operadoras daqui em diante”, acrescenta ele.

Luciana Leocádio, da corretora Ativa, acredita que algumas companhias só esperam o desfecho da assembléia da Telemar para decidir se vale a pena seguir a mesma proposta de troca de ações na sua vez de converter PNs em ONs. É o caso, por exemplo, da Brasil Telecom (BrT), que também carrega o peso de uma estrutura societária para lá de complexa. “Se a reestruturação da Telemar for aprovada, as demais empresas poderão contar com uma jurisprudência positiva e repetir esses passos”, avalia a analista.

A reação das ações da BrT na bolsa prova que outros investidores compartilham dessa mesma expectativa. Desde o início do ano, a diferença entre as cotações dos papéis ON e PN não parou de aumentar, o que indica uma aposta numa eventual venda de controle da Brasil Telecom. Em janeiro, o preço médio das ON, que têm direito a receber o mesmo prêmio no caso de uma eventual aquisição da companhia (tag along), era 75% superior ao valor das PNs. No final do mês passado, os preços desses dois ativos estavam ainda mais distantes, com uma ON valendo 130% mais que uma PN.

Luciana aponta duas hipóteses para a Brasil Telecom, ambas fundamentadas na declaração dos controladores que já manifestaram a intenção de se desfazer da empresa. A primeira é de que a BrT possa ser comprada pela Telemar, dando origem a um enorme grupo de telecomunicações de capital nacional. Também haveria a chance de a BrT partir para a pulverização das ações, transformando-se em mais uma corporation brasileira. (veja quadro ao lado) “O período é bastante turbulento. São vários cenários possíveis. Temos de ficar atentos a qualquer sinal, pois certas mudanças vão ocorrer no curtíssimo prazo.”

CUSTOS E BENEFÍCIOS — Na atual temporada de especulações, é imprescindível para qualquer analista fazer uma avaliação profunda sobre as formas de competição que deverão surgir neste setor, sobretudo diante de novos padrões tecnológicos. Quais serão os efeitos, por exemplo, da portabilidade numérica, isto é, a possibilidade de o cliente trocar de operadora e permanecer com o mesmo número de telefone? Embora essa medida dependa da autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para entrar em vigor, é sabido que, no momento seguinte a sua aprovação, a concorrência irá aumentar. O consumidor não vai pensar duas vezes em trocar de operadora se encontrar um custo/benefício mais atrativo. As empresas, por sua vez, terão de investir na fidelização dos clientes com melhores preços e serviços. “O mercado vai assistir a uma verdadeira briga de foice no escuro”, projeta Garcia, da Ágora.

A chegada da banda larga sem fio via tecnologia WiMax é outro fator que promete mexer com este segmento. De cara, isso aumentará não só a disputa por usuários de internet rápida, como também as chances de roubar os clientes da conexão discada das operadoras de telefonia fixa. As operadoras fixas terão de se adaptar à nova realidade — afinal, não está longe o dia em que a comunicação conhecida como VoIP (transmissão de voz via internet, como é o caso do Skype ) será comum no País. Nem é tão futurístico imaginar um celular conectado, com baixo custo, à rede mundial, permitindo que uma ligação interurbana seja feita de um aparelho através da tecnologia VoIP. Hoje, a tradicional linha telefônica é a principal fonte de receita das operadoras fixas. Com a popularização da banda larga, sobretudo porque isso será cada vez mais oferecido por empresas concorrentes (de TV a cabo, por exemplo), elas perderão esse importante filão do mercado.

CONTRA-ATAQUE — Então, quer dizer que veremos a morte das empresas de telefonia fixa? Não, estamos longe disso. Na guerra por mais clientes, as operadoras fixas também contam com uma artilharia pesada. O contra-ataque poderia ocorrer pela simples redução de suas tarifas ou mesmo com a conquista do direito de vender o serviço de TV por assinatura na mesma área onde já oferecem a telefonia fixa. Hoje, isso é proibido pela Anatel, mas a Telefónica e a Telemar já se adiantaram com a compra de empresas que fornecem esses serviços. Na verdade, ambas aguardam aprovação da Anatel e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para efetivarem seus contratos e a venda ser, de fato, concretizada.

A Telemar adquiriu o controle da mineira Way TV, num leilão ocorrido em julho. Já a ação da Telefónica foi mais agressiva. A companhia espanhola não só comprou a TVA, como também fechou um acordo com uma prestadora de serviço de TV paga, a Astralsat, que há duas semanas começou a vender pacotes para assinantes a partir de R$ 39,90 — preço considerado abaixo do custo pela concorrência. Para justificar a legalidade dessa iniciativa, a operadora diz que mantém apenas uma “parceria comercial” com uma empresa que atua nesse ramo. Entre tirar a programação do ar ou aceitar calada a entrada da telefonia nesse segmento, a Anatel decidiu montar um grupo de trabalho interministerial para estudar todos esses casos.

Mesmo que as operadoras fixas percam a queda-de-braço regulatória, elas ainda contarão com uma segunda carta na manga no quesito televisão por assinatura. O plano é oferecer aos seus consumidores um serviço que começa a chegar aos Estados Unidos chamado de vídeo por demanda, em que o usuário poderá assistir ao filme ou ao programa de sua preferência, no horário que quiser, como numa espécie de locadora virtual do conteúdo hoje disponível nos canais fechados. A transmissão dos dados para o televisor é feita pela própria linha telefônica. Basta o usuário conectar a TV a um modem ligado à linha do telefone e “baixar” a programação para acessá-la quando desejar.

“São vários os cenários possíveis. Temos de ficar atentos a qualquer sinal, pois certas mudanças vão ocorrer no curtíssimo prazo”

“São vários os cenários possíveis. Temos de ficar atentos a qualquer sinal, pois certas mudanças vão ocorrer no curtíssimo prazo”
Resta saber se o Brasil está preparado para as transformações esperadas. Ninguém sabe como o consumidor irá reagir

BARREIRAS À VISTA — Postos os desafios, resta saber se a realidade brasileira está preparada para receber as mudanças previstas neste setor. Ninguém sabe ao certo como o consumidor irá reagir diante da oferta do serviço de comunicação VoIP, da entrada das operadoras fixas na transmissão de conteúdo para a televisão ou mesmo com a nova banda larga sem fio via tecnologia WiMax. Será que nossos PCs estão aptos a desfrutar desses avanços? Vale lembrar que, segundo o IBGE, apenas 18,6% das residências no Brasil têm computadores e dados de 2005 mostram que inacreditáveis 79% dos brasileiros com mais de dez anos de idade não acessam a internet regularmente. Além das barreiras socioeconômicas, as companhias terão de lidar com os entraves na infra-estrutura em algumas regiões do País.

“A conta não vai sair barata”, adianta Jean- Claude Ramirez, sócio da consultoria Bain & Company. “A comunicação é um serviço voltado para as massas. Não vale a pena investir sem a certeza de que o produto será um grande atrativo para a maior parte da população.” Um problema a ser superado, por exemplo, é a resistência dos brasileiros para assistir filmes ou programas com legendas. Ramirez cita ainda a preferência desse público pela programação das emissoras abertas — a Globo, principalmente —, que fatalmente tentarão impedir a transmissão do seu sinal pelas operadoras concorrentes.

O setor de telecomunicações brasileiro não é o único a lidar com essas dificuldades. Segundo o consultor, nos Estados Unidos, as operadoras fixas têm perdido muitos clientes para as empresas que oferecem telefonia via cabo. Mesmo com a venda dos vídeos por demanda, elas ainda não conseguem competir com as TVs pagas, já que essas últimas produzem o seu próprio conteúdo que, obviamente, fica restrito aos assinantes daquela operadora. Por outro lado, regiões com relevo mais acentuado dificultam a vida das empresas de TV por assinatura, que pagam caro para levar seus cabos até esses locais. Ainda não se sabe o tamanho da conta para as companhias que investirem na tecnologia WiMax, com a instalação de antenas e adaptação dos computadores pelos fabricantes, além de questões regulatórias. Tampouco é possível apontar o custo para adaptar a conexão da banda larga da telefonia e torná-la compatível com um sistema capaz de transmitir um volume de dados gigante com mais velocidade. Aconteça o que acontecer, é fato que as empresas de telecomunicações vão precisar de muito dinheiro para investir. A bolsa de valores surge como uma boa alternativa de captação com baixo custo, mas o investidor cobra um preço. Antes de mais nada, as respostas para todos esses cálculos e dúvidas têm de aparecer logo, da maneira mais transparente possível. Se pararmos para pensar, ainda não existe uma empresa de telefonia no Novo Mercado — o que nos leva a crer que a sonhada consolidação só irá engatar uma segunda marcha no País se esse processo vier acompanhado das melhores práticas de governança corporativa. Mais uma vez, o comportamento deste setor nas próximas semanas (ou meses) será decisivo para sabermos o que poderá acontecer.


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