A bolha de preços experimentada pelo mercado americano no final dos anos noventa teve vários efeitos colaterais. Certamente um dos mais interessantes foi o reconhecimento de uma nova corrente sobre a teoria de investimentos, chamada de finanças comportamentais. Os sentimentos de medo e ganância sempre foram conhecidos dos investidores, mas até a eclosão da bolha de tecnologia, o estudo da psicologia de mercado não tinha atraído tamanha atenção de profissionais de finanças, acadêmicos e investidores. Na obra que lançou em abril deste ano, Michael M. Pompian busca detalhar a gênese deste novo campo das finanças, catalogando e explicando desvios sistemáticos do comportamento tido como racional, para então sugerir a criação de carteiras que minimizam os efeitos negativos destes desvios.

Mas o que esta nova teoria tenta explicar, afinal de contas? Nada melhor do que um exercício prático. Imagine que lhe oferecem a seguinte proposta: (A) um ganho certo de R$ 1.000 ou (B) 50% de chances (cara ou coroa) de ganhar R$ 2.000. Escolheu? Agora vamos inverter o sinal: (C) uma perda certa de R$ 1.000 ou (D) 50% de chances de perder R$ 2.000. Pesquisas empíricas mostram que a maioria das pessoas prefere A e D. No entanto, uma rápida conta (50%*0 50%*2.000 = 1.000) mostra a equivalência das propostas. Isto é: gostamos de ganhos certos, mas diante de perdas potenciais, preferimos apostar, mesmo sob o risco de perder mais. Como explicar este comportamento sob a luz da racionalidade? Este é apenas um exemplo do desvio chamado de “aversão à perda” (a obra lista 20 desvios), que reconhece que os investidores atribuem às perdas uma dor psicológica duas vezes maior que o prazer dos ganhos. O livro está dividido em quatro partes:

• Introdução: uma breve apresentação dos efeitos das finanças comportamentais, a história de sua evolução e sua base empírica, a partir da compilação de uma série de estudos que comprovam a fundamentação da teoria. Extremamente interessante e instrutiva;
• Compilação e descrição dos desvios de comportamento: uma revisão dos desvios mais conhecidos, ilustrados com exemplos, diagnóstico e conselhos de como lidar com eles;
• Casos de aplicação: com base nos conceitos das partes um e dois, sugere-se situações reais de mercado para a sua aplicação;
• Tópicos especiais: arquétipos de personalidade do investidor e seus comportamentos típicos. Nesta parte, o autor sugere alguns testes para adaptar o perfil de retorno da carteira à personalidade do investidor, seu apetite por risco e sua capacidade para lidar com perdas. Além disso, ele brevemente comenta sobre o novo campo da neuroeconomia, que busca explicar, através da ciência, como as pessoas fazem escolhas relacionadas a dinheiro.

Finalmente, a leitura da obra remete a uma questão fundamental: como reconciliar a visão da eficiência de mercado com esta teoria que reconhece desvios sistemáticos na habilidade dos investidores de usar informações de forma racional? Pode-se dizer que, em momentos de “normalidade”, os preços de mercado guardam razoável aderência com o valor intrínseco das empresas. No entanto, como diria Alan Greenspan, em momentos de “exuberância irracional”, só se percebe que uma bolha é uma bolha quando ela estoura.