O papo de botequim sobre a bolsa de valores já é uma realidade para muita gente. Em pleno happy hour, depois de um dia estressante acompanhando o pregão, nós, profissionais do mercado, hoje estamos sujeitos a ouvir, no lugar de “você viu aquele golaço?”, comentários do tipo “você viu o que aconteceu com a bolsa?”
Um crescimento mais pujante dessa tendência, porém, ainda depende da inclusão da classe média, que, por enquanto, continua fora dos pregões. E por que isso acontece? Por que o investidor médio brasileiro não investe suas economias na bolsa de valores?
Existem várias respostas possíveis. Há quem diga que é porque o dinheiro não sobra, porque o brasileiro não gosta de poupar, é avesso a risco ou só pensa no curto prazo — todas justificativas que podem ser consideradas válidas. Mas não é possível ignorar que está havendo uma mudança cultural — lenta, porém, consistente —, não só nos brasileiros, mas também nas entidades que tanto anseiam pelo desenvolvimento do mercado de capitais.
O crescimento de ofertas públicas na Bovespa deu ainda mais visibilidade ao mercado de capitais, seja em função da mídia gerada pelas operações, seja pelo boca-a-boca entre os investidores. O fato é que o número de ofertas públicas registradas na CVM nos quatro primeiros meses de 2006 chega a 23, num montante de R$ 11,2 bilhões, contra 19 durante todo o ano de 2005, num total de R$ 14,1 bilhões.
Mas, voltando à questão anterior, por que a classe média continua fora do processo? Será que os agentes do mercado estão se empenhando como deveriam para incluí-la?
Quando olhamos para os avisos de encerramento de oferta das empresas brasileiras, observamos que, em média, 90% das ações são alocadas para os investidores institucionais, a maior parte estrangeiros (entre 60% e 70%). O investidor de varejo, aí incluídas as pessoas físicas, clube de investimentos, empregados e pessoas jurídicas não-financeiras, acabam ficando com 10%.
Na maior parte das ofertas há rateio para a tranche de varejo. Ora, se todos nós queremos que o nosso mercado cresça e a parcela de investidores pessoas físicas aumente, por que não alocar no mínimo 20% para esse público? O rateio é um sinal de excesso de demanda ou escassez de oferta.
Parece-me que os bancos coordenadores da oferta tendem a privilegiar os grandes investidores. Será que é porque o varejo reduz a comissão desses bancos? Ou será que os ganhos que os institucionais trazem para eles no dia-a-dia os tornam VIPs, com direito a uma fatia maior do bolo nas boas ofertas?
Para que possamos fortalecer ainda mais nosso mercado, precisamos enfrentar as questões aqui colocadas. Regras, normas, práticas, códigos, e outras tantas letras já estão escritas. Precisamos agora de acontecimentos, mudanças, principalmente no comportamento dos agentes que fazem este mercado.
Ao profissional de RI também cabe um papel de destaque nesse processo. Devemos defender a democratização do mercado de capitais, apoiar projetos voltados para a educação financeira, privilegiar a participação dos investidores de varejo nas ofertas das nossas empresas. Geralmente, as companhias não questionam as alocações feitas pelos bancos de investimento. É hora de definirmos qual a melhor base de investidores que permita a maior pulverização do nosso capital, sem prejuízo da liquidez. Não podemos temer o pequeno acionista!
Só assim contribuiremos para mudar a cultura do nosso país; e, quem sabe, numa conversa de bar, entre tantos papos, um deles seja: “Quantas empresas você já tem na sua carteira de ações?”
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