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Dividendo camarada
Para atrair novos investidores, companhias adotam políticas cada vez mais agressivas de distribuição de lucros

ed34_p022-024_pag_3_img_001Até hoje o ex-Ministro da Fazenda Delfim Neto é lembrado por sua tentativa de explicar a política econômica de outrora. Segundo o economista, era preciso “fazer o bolo crescer antes de reparti-lo”. Para o País, tal receita não vingou, mas no mercado de capitais a história é outra. Tão distinta que é possível parafrasear o ministro. Afinal, a massa de muitas companhias cresceu, algumas até mais do que o esperado, e seus acionistas andam recebendo uma apetitosa fatia do bolo na forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.

A regra não é geral, e muitas empresas continuam pagando o mínimo exigido por lei. Outras preferem não distribuir dividendos e aplicar o dinheiro em planos de expansão. Um dos exemplos mais emblemáticos é o da Microsoft, que ficou anos sem pagar proventos, mas, em compensação, presenteou seus acionistas com uma fabulosa valorização das ações. Quando finalmente anunciou que iria pagar dividendos, em 2004, apresentou uma megaremuneração, de US$ 3 por ação. No final do mesmo ano, a gigante de informática já tinha distribuído mais de US$ 32 bilhões em dividendos.

Para alegria do mercado e dos investidores, o que se vê atualmente é um movimento contrário ao do não-pagamento. A tendência é que, cada vez mais, empresas empenhadas em atrair capital acenem com uma boa política de dividendos. Além de remunerar os acionistas e conquistar novos investidores, elas mandam indiretamente a mensagem de que tudo vai bem.

E não estamos falando do pagamento mínimo obrigatório de 25% do lucro previsto na Lei das Sociedades Anônimas. Diversas companhias têm adotado um sistema bem mais agressivo de distribuição de dividendos. Uma das últimas propostas neste sentido foi a da Telemar. Com o intuito de atrair investidores e viabilizar a reestruturação societária que está em curso, a companhia anunciou uma generosa política de dividendos. A idéia é pagar R$ 3 bilhões em dividendos e/ou juros sobre o capital próprio em duas parcelas: a primeira parte ainda este ano e a segunda, em 2007. Para os anos seguintes à reestruturação, a companhia pretende distribuir no mínimo 80% de seu fluxo de caixa livre em dividendos.

“Essa nova forma de distribuição tem uma grande importância para o acionista minoritário, que no passado sofreu com a falta de uma política de proventos por parte da Telemar. Agora teremos mais previsibilidade nos pagamentos”, diz o analista de telecomunicações Felipe Cunha, do Banco Brascan.

A Tractebel Energia também decidiu ampliar sua política de dividendos. Em novembro do ano passado, quando passou a integrar o Novo Mercado da Bovespa, a companhia definiu como política pagar 55% do lucro líquido ajustado em dividendos e juros sobre o capital próprio semestral mente. Mas, na hora H, o que já era bom no papel ficou ainda melhor: o baixo endividamento e a alta liquidez levaram a Tractebel a distribuir 95% do lucro líquido nos últimos três anos.

Os benefícios, segundo a companhia, são claros. “Conseguimos reunir acionistas que levam em conta o recebimento de um fluxo constante e estável de rendimentos”, diz o seu presidente, Manoel Zaroni Torres. A perspectiva é que o pagamento generoso só mude se aparecer uma necessidade maior de investimento. “É claro que, caso a empresa encontre uma oportunidade de crescimento de porte significativo, poderemos rever tal política”, diz Torres. Ainda assim, o compromisso é manter o mínimo de 55%, segundo o executivo. A Energias do Brasil é outra do setor elétrico que implementou uma política agressiva de dividendos. Definiu um percentual de 40% do lucro líquido e, este ano, distribuiu R$ 55,2 milhões em proventos.

TRADIÇÃO DE BOM PAGADOR — Na Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) a farta distribuição de dividendos é um compromisso assumido pelos controladores. Em média, a empresa reserva 90% de seu lucro líquido para proventos. “A Copesul distribui quase a totalidade dos lucros, tirando os 5% de reserva legal e a parte dos funcionários destinada ao cumprimento de metas”, observa o analista Lucas Brendler, da corretora Geração Futuro.

A Souza Cruz é outro caso em que uma grande soma dos lucros é repartida. Pioneira no pagamento de juros sobre capital próprio, instituído em 1996, a empresa tem uma política muito atraente de pagamento de dividendos. Há mais de uma década, destina em média 90% de seu lucro líquido para a remuneração de investidores. Em 2001 a periodicidade dos pagamentos mudou. Anteriormente, eles eram semestrais, mas desde então são feitos de três em três meses.

A previsibilidade e a freqüência no pagamento são predicados tão bem vistos pelo investidor quanto o tamanho da fatia do lucro destinada aos dividendos. Há alguns anos o Bradesco apostou nessa idéia e tornou-se a primeira instituição financeira a distribuir dividendos mensalmente. O estatuto social do banco define a fatia de 30% do lucro líquido ajustado a ser paga aos acionistas na forma de dividendos ou juros sobre o capital próprio. Em novembro do ano passado, o conselho de administração da Gol Linhas Aéreas aprovou a distribuição trimestral de 25% de seu lucro líquido ajustado. Até então, o pagamento era feito anualmente.

PONTO PARA A COMPANHIA — A boa notícia é que a tendência anunciada por empresas como Souza Cruz e Copesul — e reforçada nos últimos meses por exemplos como Telemar e Tractebel — deve continuar em alta. “Há um crescimento visível na distribuição de dividendos em razão do lucro operacional acima da média histórica”, diz Jouji Kawassaki, sócio-diretor da Lafis Consultoria.

Além de ser um ótimo negócio para o investidor, a política agressiva rende frutos às companhias. Indica que a empresa está empenhada em honrar compromissos e em gerenciar de maneira eficiente o dinheiro investido. A distribuição farta de dividendos e juros sobre capital próprio também ajuda a atrair um tipo de investidor interessado em montar uma carteira de ações que tenha como referência justamente o recebimento de bons proventos, além de representar, para todo o mercado, um sinal da saúde financeira da instituição.

Mas até que ponto uma distribuição tão generosa é mesmo interessante para o acionista? Tal política não poderia interferir nos investimentos da empresa e prejudicar o investidor no longo prazo? A teoria reza que o melhor lugar para o dinheiro é sempre onde ele pode render mais. Portanto, em companhias com forte necessidade de investimentos e grande potencial de lucros a serem gerados a partir desses projetos, presume-se que o melhor lugar para as sobras de caixa seja o próprio negócio — justamente como fez a Microsoft durante anos. Na prática, contudo, o que se vê é que o investidor tem grande preferência por executivos que conseguem gerar caixa suficiente para fazer os investimentos certos em suas companhias e, ainda por cima, deixar uma sobra para abastecer o bolso do acionista.


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