Hora de voltar à prancheta
Em Back to the drawing board, Colin B. Carter e Jay W. Lorsch criticam a inércia dos conselhos de administração frente à pressão dos novos tempos

ed31_p064-064_pag_1_img_001 (1)Ao longo dos últimos 20 anos, a evolução feroz das organizações empresariais vem contrastando com a inércia que caracteriza a evolução dos conselhos de administração. Estes últimos apresentam praticamente o mesmo modus operandi dos anos 80 (para não dizer de antes disso!) e as melhorias obtidas a partir do ativismo de governança dos anos 90 ainda soam mais como remendos (conjuntos de “melhores práticas”, regras, comitês, etc) para problemas específicos do que soluções holísticas para repensar o papel e o funcionamento dos conselhos.

Essa é apenas uma das instigantes conclusões apresentadas por Carter e Lorsch na obra Back to the drawing board, publicada em 2003 pela editora Harvard Business School Press e ainda sem tradução no Brasil. Ao avaliar o funcionamento e o valor adicionado pelos conselhos de administração na atualidade, os autores recomendam, literalmente, “voltar à prancheta” e criar um novo conceito para que esses organismos cumpram seus objetivos.

De forma persuasiva, eles descrevem por que os modelos atuais de funcionamento dos conselhos comprometem sua eficácia. Após a onda de escândalos corporativos recente, é comum ouvir comentários do tipo “onde estava o conselho na hora que as raposas chegaram ao galinheiro?”. No entanto, não deveríamos estranhar a dificuldade (quase impossibilidade!) deste organismo para detectar fraude em uma organização, seja porque seus membros ficam lá em tempo parcial, seja pela complexidade dos negócios, a falta de independência ou, ainda, o pouco espaço para troca de impressões.

Uma vez reconhecido este panorama, os autores sugerem que o redesenho do conselho comece com uma boa reflexão sobre a situação atual da empresa, para que se possa identificar o papel que se espera dele. A partir dessa definição, cabe ao conselho reavaliar três elementos de sustentação:

Estrutura: tamanho, estilo de liderança, número de comitês, etc;

Composição: o mix de experiência, habilidades, independência;

Processos: como o conselho recebe informações, cria conhecimento e toma decisões.

Adicionado-se a estes elementos a cultura da empresa e os padrões desejados de comportamento para os seus membros, temos todos os ingredientes para redesenhar um conselho mais eficaz.

Back to the Drawing Board Designing Corporate Boards for a Complex World
Colin B. Carter e Jay William Lorsch Harvard Business School Press 256 páginas

A partir deste pano de fundo, a obra se desdobra em cada um dos três tópicos acima para concluir discutindo a dinâmica das reuniões de conselho (aquilo que acontece “a portas fechadas”). Apesar da experiência anglosaxônica dos autores, os conceitos apresentados na obra possuem significativa aplicabilidade à realidade brasileira. Sem dúvida, a estrutura de governança predominante no Brasil, com um grupo controlador forte à frente do conselho e da empresa, limita alguns dos potenciais problemas apontados. Mas, independentemente do compromisso externo assumido pela empresa com a questão de governança, a obra aponta uma série de questionamentos obrigatórios àqueles que pretendem tornar relevante a contribuição do conselho.

Ao final, os próprios autores rendem-se ao paradoxo: “Tome um grupo de colaboradores em tempo parcial, apresente-lhes uma tarefa difícil e dê-lhes pouco tempo juntos. Em seguida, torne-os responsáveis por guiar o destino empresarial da nação. Como pode funcionar?” A resposta só pode vir do elevado comprometimento dos membros do conselho, a despeito das dificuldades. Embora estejam descontentes com o modo de funcionamento atual desse órgão, seu desejo de mudança ainda parece menor do que a inércia dos processos enraizados. Parece que o maior desafio é justamente remover esta “camisa de força”.


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