Em discurso proferido na abertura do Wall Street Analyst Forum (realizado em Nova York, em dezembro de 2005), o presidente da Câmara de Comércio norte- americana, Tom Donohue, se referiu à divulgação de previsões de resultados (guidance) como um jogo, e apontou-a como raiz de um dos principais males do mercado de capitais atual: a preponderância da visão de curto prazo.

Mesmo reconhecendo que fatores financeiros mais imediatos são importantes motores da performance das ações de uma companhia, o executivo alertou para o impacto negativo das expectativas sobre resultados trimestrais. “Nos concentramos nos números e esquecemos dos negócios, o que configura uma ameaça significativa à nossa competitividade”, defende Donohue, lembrando que uma estratégia consistente e uma sólida base de clientes são mais importantes que as variações nos relatórios financeiros. Aos que desejam retornos previsíveis, ele recomenda, com uma ponta de ironia, investimentos em títulos do governo.

A postura crítica da Câmara (que representa mais de 3 milhões de companhias ao redor do globo) é velha conhecida do mercado. A organização refere-se ao ambiente regulatório pós-escândalos contábeis como “lei da era da Depressão” e considera que parte das medidas implementadas pela Securities and Exchange Commission surgiu de forma impensada e contribuiu para a hesitação de muitos em abrir o capital. Líderes de negócios de grande projeção no mercado norte-americano — dentre eles o bilionário investidor Warren Buffett — concordam com a postura defendida pela câmara. Uma pesquisa da Greenwich Associates revela que 55% das companhias norte-americanas adotaram a prática de guidance em 2005, em oposição a 72% no ano anterior, e que mais de 10% delas pretendem abandoná-la num futuro próximo.