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Fusões e aquisições no setor de alimentos

Em meio à feroz crise política que o país atravessa, não se pode deixar de notar que a economia não se abala e continua em ótima forma. O cenário é favorável também na área de fusões e aquisições de empresas. Segundo pesquisa da KPMG, 170 negócios anunciados no primeiro semestre deste ano, 47 transações a mais que no mesmo período de 2004.

Historicamente, o setor de alimentos (comidas e bebidas) sempre foi um dos carros-chefes em fusões e aquisições no Brasil. No primeiro semestre deste ano, 18 negócios foram concluídos, número que colocou o setor em segundo lugar no período, atrás apenas da área de Tecnologia de Informação, com 21 negócios. Duas características sobressaem nas fusões e aquisições mais recentes no setor de alimentos.

Uma é o fato de grande parte das empresas ainda ser controlada por famílias. Como o grau de sofisticação da família varia muito e os interesses pessoais entram em jogo, a negociação, muitas vezes, se torna um exercício delicado de administração de expectativas e interesses diversos, fato com o qual o investidor estrangeiro, já institucionalizado, nem sempre está acostumado.

Neste segmento, a consolidação traz um risco de concentração econômica muitas vezes indesejado

O segundo ponto sensível é a capacidade de distribuição que a empresa alvo poderá agregar à empresa compradora. A distribuição é questão fundamental para as empresas do setor, pois é ela que vai determinar as possibilidades de inserção dos produtos da empresa no vasto território brasileiro. Quando a distribuição é própria, a complexidade é menor. Mas quando envolve terceiros, a negociação pode vir a ser bi-partida, uma com o vendedor, outra com o distribuidor. Achar o equilíbrio nas duas pontas é a chave de um negócio satisfatório para comprador e vendedor, sem sobressaltos ou surpresas no futuro.

Operações Cross Border – Tendências e Restrições
Nesse setor, como em tantos outros, são cada vez mais numerosas as aquisições que envolvem empresas estrangeiras, notadamente no papel de comprador. Das 18 fusões e aquisições do primeiro semestre de 2005, 11 tiveram a participação dessas empresas.

Tal participação pode ensejar restrições. Por exemplo, quando a operação envolve a aquisição de imóvel rural deve-se estar atento para verificar se o imóvel está situado em zona de fronteira. As restrições incluem, entre outras, a necessidade de prévia autorização do Conselho de Defesa Nacional para a aquisição. Outra restrição importante decorre da tendência mundial de consolidação de negócios nas mãos de grandes conglomerados econômicos. No setor de alimentos, onde o cenário ainda é de relativa pulverização entre empresas de médio e pequeno porte, grande parte delas com marcas próprias de boa penetração nacional ou regional, a consolidação traz um risco de concentração econômica muitas vezes indesejado.

Embora investimentos no país sejam necessários e bem-vindos, o governo já deu sinais de que não está pronto para avalizar consolidações que gerem riscos de alta concentração econômica. Exemplo dessa reação foi a decisão negativa do CADE no caso Nestlé/Garoto, como também a imposição de condições na formação da Ambev.

Não obstante, como o mercado ainda apresenta boas oportunidades de negócio, deve-se esperar que o apetite dos grupos com maior poder financeiro e perfil global continue crescendo. Na maior parte dos casos, o objetivo é consolidar a participação no mercado relevante e se posicionar perante a concorrência, igualmente capitalizada e global.


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