Uma nova geração
Empresas com crescimento acelerado e produtos ou negócios inovadores traçam estratégias para chegar à bolsa de valores

ed20_p028-031_pag_4_img_001Enquanto o governo e reguladores estudam medidas para estimular o investimento em negócios emergentes e inovadores, um grupo de empresas consagradas por essas duas características desenha estratégias para chegar à bolsa de valores nos próximos anos. Trata-se de um movimento ainda lento e silencioso, mas que sinaliza desde já uma nova geração de companhias a caminho do mercado de capitais. Ao contrário das tradicionais indústrias de grande porte que fizeram carreira na bolsa de valores nas últimas décadas, elas se caracterizam pela pouca idade, por modelos de negócio ou tecnologias inovadoras e um crescimento acelerado nos últimos anos.

A primeira representante desta nova geração já confirmou presença no pregão. Em uma operação de R$ 475 milhões, a varejista de comércio eletrônico Submarino abriu seu capital no final de março. Há também uma iniciativa da Bovespa que, em breve, poderá estimular os lançamentos de ações desta nova safra de companhias. No segundo semestre do ano, a bolsa paulista espera inaugurar o seu mercado de acesso – segmento especial de listagem dotado de facilidades que motivem o ingresso de empresas de menor porte.

Geralmente, empresas emergentes e inovadoras que colocaram o mercado de capitais na sua agenda de crescimento ainda são consideradas pequenas para lançar ações. Enquanto não atingem o porte considerado adequado ou não contam com um mercado de acesso que as permita antecipar os planos de chegar à bolsa, elas focam esforços no crescimento e na melhoria das práticas de governança corporativa. Bematech, Lupatech, Alusa, Datasul, Dry Wash e Koblitz são algumas dessas companhias – as duas últimas ainda em estágio inicial de planejamento.

A Bematech planeja realizar a sua oferta pública inicial de ações entre o fim de 2006 e meados de 2007, de acordo com Marcel Malczewski, diretor-presidente da empresa. Sua história começou em 1991, quando foi constituída como uma sociedade anônima de capital fechado. Na época, tentava levantar recursos para viabilizar a produção de impressoras – um projeto desenvolvido na Incubadora Tecnológica de Curitiba – e se tornou uma S.A. para atrair recursos de “angel investors” (pessoas físicas que aportam capital em companhias em estágio inicial).

Hoje seu faturamento gira em torno R$ 100 milhões ao ano. Por enquanto, a Bematech vem investindo na expansão internacional e no aprimoramento das suas práticas de governança corporativa. Instituiu um conselho fiscal no ano passado, contratou um profissional de mercado para o cargo de vice-presidente e adequou seu estatuto às regras do Novo Mercado.

Atualmente, a Bematech tem doze sócios, entre pessoas físicas e jurídicas. Um deles é o BNDES, com 20% do capital. Em 1995, quando o banco aportou cerca de US$ 2 milhões na empresa, por meio da subscrição de debêntures conversíveis, a Bematech faturava cerca de R$ 6,5 milhões por ano. Além dos recursos, o banco levou para a empresa uma visão voltada aos investidores. Em 1999, as debêntures foram convertidas em ações preferenciais e, no ano passado, as preferenciais foram transformadas em ordinárias. Um dos compromissos assumidos pela Bematech com o BNDES foi o de abrir o capital até 2007. A emissão de ações servirá não só para capitalizar a empresa, mas também para dar saída aos sócios estratégicos.

Outra que alimenta planos de abrir o capital até 2007 é a Lupatech, que atua no setores metalúrgico e metal mecânico com foco em pesquisa tecnológica e inovação. Por enquanto, uma oferta pública de ações ainda seria prematura, diz o diretor-presidente da empresa, Nestor Perini. O projeto é entrar na bolsa quando um novo ciclo de investimentos se iniciar. A meta é dobrar o faturamento no prazo de dois anos. O crescimento da empresa tem sido expressivo: com vendas de aproximadamente R$ 25 milhões em 1995, chegou ao patamar de R$ 200 milhões no ano passado. O caráter inovador dos produtos da Lupatech foi reconhecido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A empresa teve aprovado um financiamento de R$ 8 milhões para implantar seu próprio centro de pesquisa e desenvolver três novos produtos.

CULTURA DE SOCIEDADE – A Lupatech tem uma longa experiência com investidores estratégicos. Em 1987, recebeu investimentos da Companhia Riograndense de Participações (CRP) e de outros sócios. Em 1995, os sócios saíram e entrou o Bozano, Simonsen Advent. Em 2001, foi a vez do BNDES aportar recursos por meio de debêntures conversíveis em ações. Em 2003, entrou mais um sócio estratégico, a GP Tecnologia. Atualmente, o BNDES e os fundos detêm 45% do capital. Segundo Perini, a experiência com capital de risco contribuiu bastante para elevar os patamares de governança corporativa e a empresa conta hoje, por exemplo, com um conselho de administração profissional.

A Datasul, fabricante de softwares para gestão de negócios, é outra que aprendeu a conviver com sócios e a prestar contas dos seus resultados a partir da captação de recursos de fundos de private equity. Renato Friedrich, diretor corporativo administrativo e financeiro, conta que os sócios entraram na companhia em 1998, quando a Datasul enfrentava uma pesada crise financeira por conta do encolhimento do mercado. Com dinheiro novo e a visão dos sócios capitalistas, remodelou o negócio transformando as áreas de distribuição em franquias e começou a recuperar os resultados. Possui hoje um faturamento de R$ 146 milhões (sem contar as franquias) e está estudando, com a ajuda de uma consultoria internacional, estratégias de exploração de novos nichos de mercado e de expansão para a América Latina que demandarão recursos adicionais.

Assim que o planejamento estratégico estiver finalizado – o que poderá ocorrer entre este ano e 2006 – a Datasul pretende dar o pontapé para o seu lançamento de ações. “A Renar Maçãs mostrou que o mercado começa a viabilizar operações de menor monte e iniciativas como o mercado de acesso nos estimulam a pensar que é possível entrar na bolsa sem o faturamento mínimo de US$ 100 milhões”, afirma Friederich.

NEGÓCIOS INOVADORES – Quando se fala em inovação, na realidade está se falando de um conceito bastante abrangente. De acordo com os critérios usados pela Finep para selecionar empresas candidatas a participar do Venture Forum (evento que promove o encontro de companhias em busca de recursos e gestores à procura de projetos promissores, os chamados capitalistas de risco), a inovação pode estar presente no processo, no produto, ou ainda na estratégia comercial da empresa. De acordo com a Lei da Inovação, sancionada em dezembro passado, ela é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulta em novos produtos, processos ou serviços.

Uma das companhias que parece se encaixar em todos esses quesitos é a DryWash, que inovou ao implementar um sistema de lavagem a seco de superfícies lisas e ao criar uma linha de produtos (hoje são cerca de 40) como ceras para polimento de carros, que não são tóxicos ou inflamáveis e não deixam resíduos. Ao descobrir um pó químico que substituiria a água na lavagem de veículos, a empresa deu a seus serviços o apelo da sustentabilidade e do respeito ao meio ambiente.

Agora, a DryWash precisa de uma injeção de capital para fazer face a sua estratégia de crescimento, que inclui a instalação de redes de prestação de serviço e a comercialização de ceras e produtos para lavagem no exterior. No Brasil, os produtos da DryWash também devem ser vendidos ao varejo em breve. O plano do fundador da empresa, Lito Rodriguez, é aumentar o faturamento, atualmente na casa dos R$ 6 milhões, para nada menos que US$ 100 milhões no prazo de cinco anos, com a estratégia de internacionalização e de distribuição ao varejo. A expectativa é que, já no ano que vem, as vendas tripliquem.

Uma das possibilidades estudadas para financiar a expansão é a emissão de ações, o que poderia ocorrer dentro de quatro a cinco anos, diz Rodriguez. Outra alternativa em análise é a venda de uma participação a algum fundo de venture capital. Por enquanto, a companhia conta com recursos de entidades como o International Finance Corporation (IFC), repassados pelo Banco Real, e com capital próprio.

A inovação também pode estar presente em negócios tradicionais, como o de energia. É o caso da Koblitz, especializada no fornecimento de sistemas de energia a partir de fontes alternativas. Ela foi criada com o propósito de prestar consultoria energética a empresas do setor sucro-alcooleiro do Nordeste e, com o tempo, passou a fazer estudos de viabilidade de projetos para a implantação de geração própria de energia e a atuar na venda de equipamentos e na prestação de serviços de assistência técnica. Os sistemas de co-geração e geração de energia que mais opera são as usinas térmicas à biomassa (bagaço de cana, casca de arroz e resíduo de madeira), pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), energias eólica e solar. A boa fase da empresa, diz Emidio Carvalho, diretor administrativo- financeiro da Koblitz, foi coroada com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que estimulou a implantação de 3300 MW de capacidade, a partir da utilização de fontes renováveis de energia, até o ano de 2006.

De acordo com Carvalho, a empresa planeja abrir o capital no Novo Mercado futuramente para financiar seus planos de expansão. Há 30 anos no mercado, ela começou a se destacar mais recentemente. De 1999 até o ano passado, as vendas aumentaram 372%, de R$ 11 milhões para R$ 51 milhões, segundo o diretor. A expectativa é faturar R$ 85 milhões neste ano. Carvalho acredita que, com a entrada da empresa em mercados externos (recentemente ela firmou um contrato de 27 milhões de euros para construir centrais de co-geração a partir de resíduos de madeira na Itália), o faturamento poderá alcançar R$ 170 milhões em 2007.

ESTÍMULO DO BNDES – A Koblitz nunca teve nenhum sócio estratégico a não ser o BNDESPar. Em 2003, no âmbito do Programa de Apoio às Novas Sociedades Anônimas, a BNDESPar subscreveu R$ 10 milhões em debêntures conversíveis em ações com vencimentos em 2006, 2007 e 2008. A Lupatech também participou deste programa.

O objetivo do BNDES era incentivar a abertura de capital no Novo Mercado. “Acreditávamos que o caminho do retorno ao mercado de capitais passaria por um nível de proteção maior aos acionistas minoritários”, diz Eleazar de Carvalho Filho, superintendente do BNDESPar na época e atualmente sócio da Iposeira Gestão de Ativos. A BNDESPar adquiria uma participação ou subscrevia debêntures conversíveis, e, em troca, as companhias se comprometiam a listar suas ações no Novo Mercado. Para isso, tinham que preencher alguns requisitos: faturamento de no máximo R$ 100 milhões no exercício anterior, atuação em nichos de mercado atraentes, vantagens competitivas no ramo de atuação, perspectivas de crescimento acelerado e alta rentabilidade, além de uma gestão idônea e eficiente.

Outra que tem planos de uma oferta pública de ações – e um prazo definido para a empreitada – é a Alusa. A intenção é fazer com que seus papéis cheguem à bolsa até o fim do primeiro semestre do ano que vem. Em fevereiro passado, a Alusa adaptou seu estatuto ao Novo Mercado. Incluiu o direito dos minoritários ao tag along e converteu as ações preferenciais em ordinárias. Empresa de capital aberto desde 1999, ela tem o BNDES entre seus acionistas. O banco subscreveu R$ 60 milhões em quatro tranches de debêntures conversíveis com vencimento até 2007.

A Alusa tem três atividades principais: constrói sistemas de energia e telecomunicações, atua como operadora de linhas de transmissão de energia e como operadora de banda larga, internet em alta velocidade e serviços de transmissão de dados. Seu faturamento girava em torno de R$ 80 milhões em 1999, e, no ano passado, ficou próximo de R$ 500 milhões. Segundo o presidente da companhia, Jose Luiz Godoy, o objetivo da captação via mercado de capitais é financiar a expansão das atividades e colher benefícios indiretos como aumento da competitividade, transparência e incremento dos controles internos. Objetivos que começam a fazer cada vez mais sentido para empresários que planejam suas estratégias de crescimento e sustentabilidade no longo prazo.


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