Muito dinheiro no bolso
Pesquisa da Thomson Financial aponta as companhias com maior perspectiva de crescimento de lucros em 2005, segundo projeções dos analistas. Mercado interno aquecido, commodities valorizadas e novas unidades em operação rendem pontos às primeiras colocadas

ed16_p034-038_pag_4_img_001Enquanto a mineradora lucrará com o aumento dos preços do minério de ferro no mercado internacional, a petroquímica terá menores custos de matéria-prima e a operadora de telefonia celular assistirá a uma verdadeira explosão de clientes em sua área de atuação. Os cenários para lá de otimistas, previstos para Caemi, Copesul e Tele Leste Celular, respectivamente, justificam o crescimento esperado de, pelo menos, um quarto da geração operacional de caixa dessas companhias no próximo ano. A projeção faz parte de um estudo da Thomson Financial Brasil, preparado com exclusividade para a Capital Aberto, a partir da comparação entre os valores médios de Ebitda (lucro da atividade operacional) calculados por analistas de investimentos para um grupo de 44 companhias em 2004 e 2005.

Identificar os motivos pelos quais a Caemi encabeça a lista das maiores projeções de crescimento de lucros em 2005, a Gerdau tem um lugar mais privilegiado que as siderúrgicas CSN e CST e as rivais Sadia e Perdigão contam com estimativas comedidas dos analistas são algumas das questões que as próximas linhas pretendem destrinchar. Basicamente, as previsões consideram de que forma cada empresa está se preparando para o crescimento de 3,5% do PIB brasileiro esperado pelo governo no próximo ano. Planos de expansão da produção, expectativa de aumento da demanda interna e externa, custo de matéria-prima, cotação da mercadoria, situação dos concorrentes e variedade no mix de produtos são algumas das variáveis que entraram nos cálculos dos analistas.

Comecemos pelas observações sobre a primeira colocada. Com previsão de aumento de 23,4% em sua receita líquida e de 36,1% no Ebitda, a Caemi tende a ser beneficiada pela variação positiva do preço do minério de ferro nas vendas internacionais. “Será algo em torno de 18% a 20%”, estima Fernando Hadba, analista do BNP Paribas. Ele explica que o reajuste vai amenizar o impacto negativo da tendência de queda do dólar nas exportações da empresa. Fora as boas cotações do produto, a Caemi também contará com o aquecimento da demanda nesse setor e o reconhecimento da qualidade do minério de ferro brasileiro, consolidando-se como fornecedora mundial da commodity, prevê Hadba.

Desde o final do ano, a mineradora já vem colhendo uma safra de boas notícias. “Registramos recordes de vendas em todos os segmentos”, comemora José Roberto Pacheco, gerente de relações com investidores da Caemi. Ele cita números como o balanço dos três primeiros trimestres da empresa, que revelam um aumento de 53% do Ebitda comparado ao ano passado. Por essa razão, Pacheco não estranha estar em primeiro no levantamento da Thomson. “Na verdade, esperava até uma projeção maior de crescimento para 2005”, revela.


A VEZ DO MERCADO NACIONAL – Se o preço do minério de ferro é o que assegura o sucesso da Caemi, o mesmo não se pode falar da cotação do aço, que deve se manter estável nos próximos meses, na visão do analista do BNP Paribas. Sobretaxas ao aço brasileiro também são um motivo para o crescimento modesto indicado na pesquisa para Companhia Siderúrgica Tubarão, Usiminas e CSN. “Por mais que tenha havido vitória do Brasil na OMC, essas decisões demoram para virarem prática”, acrescenta Hadba. No grupo das produtoras de aço, a Gerdau conseguiria se diferenciar das demais por trabalhar com o aço longo, voltado ao mercado nacional da construção civil, e poder acompanhar o crescimento econômico projetado para o País em 2005.

O aumento do consumo interno também garantirá bons resultados às empresas petroquímicas. Sabe-se que, nesse ramo, não há previsão de um aumento de oferta por parte das indústrias. Em outras palavras, isso significa que, se a demanda aumentar com o aquecimento da economia, a oferta deverá continuar no mesmo patamar, resultando na elevação dos preços no mercado. José Francisco Cataldo, da ABN Amro Real Corretora, também aponta a expectativa de queda no preço do petróleo como uma das razões para o bom desempenho do setor petroquímico no ano que vem. “A nafta representa de 60% a 70% do custo de produção dessas empresas”, afirma. Desse modo, a Copesul – segundo lugar no ranking dos maiores crescimentos de lucros em 2005 – deverá tirar o atraso causado pelas altas no barril de petróleo em 2004.

Enquanto a expectativa é de alta para o preço do minério de ferro, o mesmo não vale para o aço, que deve se manter estável

Ainda no capítulo das expectativas animadoras encontram-se as operadoras de telefonia celular. Ninguém duvida que o crescimento mais acelerado da economia teve um impacto positivo no uso da tecnologia móvel no País. E, apesar de o Brasil estar fechando o ano de 2004 com algo perto de 60 milhões de aparelhos no mercado, segundo estimativas da Anatel, os analistas ainda enxergam espaço para uma expansão maior em 2005. Isso deve ocorrer, sobretudo, em áreas de atuação não totalmente exploradas, como as regiões controladas pela Tele Leste Celular – terceira colocada na pesquisa. Em dois anos, a base de assinantes da empresa cresceu 88%, saindo de um patamar de 18% para 33% do mercado consumidor. “Ainda falta muito celular para saturar aquela região”, avalia Ricardo Araújo, analista para a área de telecomunicações da Itaú Corretora.

Segundo Araújo, até a Telesp Celular, que atende o Estado de São Paulo, tem ainda grande potencial para ampliar sua base de assinantes em 2005. A operadora conta com a vantagem de os paulistas terem apenas três companhias atuando no Estado – Tim, Claro e Vivo (marca utilizada pela Telesp Celular). A situação poderia ser pior se a OI resolvesse dar as caras na região. Mas não é o que deve ocorrer, de acordo com o analista. O aumento da receita líquida da Telesp Celular viria não só pela aquisição de novas linhas, mas, principalmente, pelo uso mais freqüente do aparelho. “Os celulares estão tirando os clientes da telefonia fixa”, acrescenta Araújo.

De fato, é por aí que entendemos o por quê de Embratel e Telefônica terem ficado no fim da lista da Thomson. Com elas, a Telemig Celular também se contrapõe às perspectivas otimistas reveladas para as outras operadoras. De acordo com a análise da Itaú Corretora, as projeções mais modestas para a Telemig se devem à entrada de uma nova concorrente em Minas Gerais no próximo ano, a operadora Claro, numa região onde a demanda não se mostra forte o suficiente para acompanhar a oferta.

BOAS SURPRESAS – Nem todas as posições no ranking, contudo, obedecem apenas às explicações setoriais. Há companhias que carregam uma luz própria, como é o caso da Aracruz, quinta colocada. Em 2003, foi concretizada uma parceria com a sueco-filandesa Stora Enso para a construção da fábrica da Veracel, no sul da Bahia. A nova unidade terá capacidade de produção de 900 mil toneladas anuais de celulose, das quais metade serão utilizadas pela Aracruz. Hoje a companhia produz 2,4 milhões de toneladas.

Além do aumento da produção, a Aracruz pode esperar, ainda em 2005, a recuperação dos preços da celulose de eucalipto. “Votorantim, Suzano e Klabin seguem essa mesma tendência de aumento de margem devido aos preços internacionais do papel e da celulose”, informa Mônica Araújo, da Espírito Santo Research. “Porém, como não há nenhum grande projeto de ampliação da produção, elas acabam se distanciando da Aracruz nesse tipo de previsão.” O gerente de relações com investidores da Aracruz, Denys Marc Ferrez, não disfarça a satisfação ao exibir o crescimento na produção de 11% este ano e a expectativa de outros 12% em 2005. “A festa de final de ano por aqui vai ser muito boa”, brinca.

Outro bom exemplo de quem promete se diferenciar em 2005 é a Petrobras. Existe, vale frisar, a expectativa de redução de preços do barril do petróleo. Mas quem se importa tanto com isso quando se depara com as perspectivas de aumento da produção para o ano que vem? O analista do Unibanco para o setor, Cláudio Delbrueck, fala em um crescimento de 14% na produção de óleo e gás na companhia. Ele leva em consideração as novas plataformas marítimas, postos terrestres e um mercado internacional ávido pelas sobras do consumo brasileiro. No ano que vem, está prevista a entrada em operação da P-43, que irá acrescentar 150 mil barris/dia à marca de 2,06 milhões de barris/ dia da empresa. Tudo isso resultaria num aumento de 22,2% do Ebitda em 2005, comparado a 2004, segundo o consenso dos analistas no levantamento da Thomson.

Já para entender o futuro das companhias elétricas será preciso voltar à analise setorial. É interessante lembrar o que dizem as novas regras do marco regulatório do governo federal para o setor, como a realização dos leilões de energia para consumidoras do mercado. Nessa área, a menina dos olhos dos analistas já tem nome: Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Sua projeção de crescimento em 2005, de 18,6% de Ebitda, deve-se ao fato de a empresa atuar não só na distribuição, como também na geração de energia. “Com os leilões, a Cemig deve elevar os preços de seu kw/h dos atuais R$ 54 para R$ 70”, estima Subhojitd Daripa, da Santander Research.

As demais companhias apontadas no ranking – Celesc, Eletropaulo, Eletrobras, Companhia de Transmissão Paulista, Tractebel Energial e Light – estariam bem abaixo da empresa mineira por concentrarem seus ganhos apenas na distribuição. “Elas devem lucrar com o aquecimento da economia, mas temos de considerar que os reajustes das tarifas estão atrelados à inflação, definidos por contrato. Portanto, não haverá muitas surpresas para as distribuidoras”, sentencia Daripa.

ANO PARA O VAREJO – Por fim, vale a pena observar o comportamento das empresas muito apegadas ao varejo em 2005. Analistas acreditam que Pão de Açúcar e Lojas Americanas devem aproveitar o ano que vem para soltar os rojões que não conseguiram estourar neste ano. “Imaginávamos um 2004 muito melhor para esse setor”, confessa Pedro Galdi, da ABN Amro Real Corretora. “O primeiro semestre foi muito ruim e, embora haja uma recuperação no consumo neste final de ano, acreditamos que a virada ficou mesmo para 2005”, acrescenta. Nessa leva, ganha destaque a Coteminas, que aproveitará não só o reaquecimento da economia como a queda no preço do algodão. “A Coteminas ainda tem planos de aumentar as exportações no ano que vem”, lembra o analista da Fator Corretora Marcio Kawassaki.

A Ambev, quarta colocada no ranking da Thomson, com um aumento no Ebitda de 23,8% previsto para 2005, é um outro exemplo de indústria que não está apostando apenas no varejo nacional para garantir gordas receitas no próximo ano. Principalmente agora que a companhia pode respirar mais aliviada no mercado interno, após recuperar o espaço perdido para a concorrente Nova Skin. Hoje, a Ambev possui cerca de 67% do mercado interno. Mas as recentes parcerias internacionais – entre elas, o acordo com a companhia belga Interbrew e a incorporação da canadense Labatt – dão a entender que o cenário internacional das cervejarias é a prioridade número 1 da empresa em 2005. “Eles querem lançar a Brahma como uma marca internacional. E quem conhece a empresa sabe que seus executivos são muito agressivos”, lembra o analista da Fator.

Com o novo marco regulatório e os leilões de energia, empresas de geração têm melhores projeções de aumento de lucros
Nos segmentos de concessões rodoviárias e varejo, companhias refletem boas perspectivas de retomada da renda e crescimento interno

No seleto grupo das dez maiores previsões de alta de lucro em 2005, resta falar da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR). O bom desempenho previsto é em função das perspectivas de crescimento econômico interno. Basta ver que o tráfego de veículos em suas rodovias já vem dando sinais de melhora nesses últimos meses. A isso se soma a elevação da tarifa de pedágio de 19,7% no acumulado do ano e o acordo assinado em outubro para adquirir o controle do capital da ViaOeste – concessionária responsável por uma fatia de 6,85% no mercado nacional de concessões rodoviárias. A operação será finalizada em abril de 2005, quando a CCR passará a controlar dois de cada cinco quilômetros das estradas já concedidas à iniciativa privada no País.

E o que dizer das últimas empresas que aparecem na lista da Thomson? Elas têm mesmo poucas chances de abrir uma champagne no final de 2005? Se a comemoração depender de um desempenho parecido com o de 2004, é possível que bata uma frustração se forem confirmadas as previsões dos analistas. A boa performance de 2004 deixou pouco espaço para que o mesmo ocorra ano que vem nos casos de Perdigão e Sadia. A gripe aviária na Tailândia no primeiro trimestre do ano favoreceu, e muito, as exportações do frango brasileiro. “Os preços da ave dispararam de tal maneira no mercado internacional que ninguém se lembrou dos efeitos do embargo da Rússia ao produto brasileiro”, lembra Pedro Galdi, da ABN Amro Real Corretora.

É verdade que o protecionismo da Rússia representou um golpe duro para essas companhias. Ao mesmo tempo a Tailândia que, por um lado perdeu mercado em virtude da doença, passou a atuar no ramo de aves semi-processadas – alimento sem risco de estar contaminado –, aumentando a concorrência neste segmento. O aumento de quase 40% da resina plástica – principal produto para fabricação de embalagens – também foi um desafio em 2004. Ainda assim, as receitas líquidas da Sadia cresceram 24,4% nos primeiros nove meses deste ano e a geração operacional de caixa superou a obtida em todo o ano 2003.

Henrique Bastos, executivo da área de relações com investidores da Sadia, afirma que o ano será bem melhor do que prevêem os analistas. Ele conta com o crescimento do consumo interno e com a redução do preço do grão usado para alimentar as aves. “A Sadia também pretende ampliar sua produção na fábrica de Uberlândia”, acrescenta o RI. “Vocês podem esperar que vem muita novidade por aí.”


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