Banqueiros renascentistas
No século 15, banco da família Medici conjugou comércio, política e artes
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Sinônimos de riqueza e poder, os Medicis estão indelevelmente associados ao movimento renascentista na cidade italiana de Florença. Mas antes de marcar a história como mecenas, o clã atuava na concessão de empréstimos por meio do banco que levava o célebre sobrenome. A trajetória de três gerações dessa família é reconstruída no livro do inglês Tim Parks.

A origem do banco está ligada ao financiamento do comércio na Europa do século 15. Em uma época em que o transporte de grandes somas de dinheiro era um convite à pilhagem, o estabelecimento de filiais nos grandes centros comerciais (Florença, Londres e Bruges) permitiu a emissão de cartas de crédito cobráveis em outra localidade. Era o que ocorria, por exemplo, na compra de lã inglesa por comerciantes florentinos. A filial do banco em Londres concedia uma carta de crédito diretamente ao vendedor da matéria–prima, enquanto o comerciante assumia um compromisso com a matriz da instituição financeira.


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A concessão de empréstimos, o coração da atividade bancária, era envolta por um paradoxo, em razão da enorme influência da Igreja Católica. Como a cobrança de juros era considerada transgressão passível de excomunhão (pecado da usura), os bancos criavam artifícios contábeis para cobrar pelo custo de oportunidade e o risco da transação. No caso de operações financeiras entre povos com moedas diferentes, por exemplo, era comum a taxa de câmbio embutir a rentabilidade da transação.

Naquele tempo, o poder não emanava só do dinheiro, algo muito fluido, que podia ser expropriado por uma guerra ou pela ascensão de um inimigo. Apenas a Igreja detinha um certo domínio permanente. Nesse sentido, a supremacia dos Medicis vinha de sua capacidade de controlar o processo político florentino. Embora Florença tivesse aspirações democráticas — havia eleições indiretas para o governo local —, na prática, o processo político podia ser manipulado por quem estivesse no comando, em um rascunho do que hoje chamamos de aparelhamento do Estado. O forte empenho dos Medicis no mecenato das artes, embelezando a cidade, também tinha como alvo a conquista dos corações da população.

A dominância e a relativa longevidade do banco Medici são explicadas, em boa parte, pelo alinhamento de interesses proporcionado por sua estrutura de governança. A estratégia da empresa era abrir filiais em cidades de fluxo comercial intenso com Florença, em parceria com sócios locais proeminentes, mas sempre com os Medicis na posição de controladores do negócio. Esse inteligente arranjo descentralizava as decisões e assegurava a prudência na concessão de empréstimos nas sucursais.

A despeito dos altos e baixos típicos de uma era de muitas guerras e volatilidade política, o declínio do clã e do banco deveu–se, principalmente, a um fenômeno típico das organizações familiares. A chegada da terceira geração à direção fragilizou os alicerces da influência dos Medicis sobre a sociedade florentina. Deslumbrado pelo poder e sem tino para a administração do banco, Piero di Medici usou a instituição para prestar favores, trocando bons gestores por parentes ou aliados políticos. Ao mesmo tempo, distribuiu empréstimos à realeza de várias partes da Europa, buscando se inserir nesse círculo exclusivo. A derrocada da família corrobora a tese de que a cobrança de empréstimos concedidos a reis e rainhas é um negócio traiçoeiro.


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