Alquimias financeiras
Alerta aos investidores: superpreferenciais nada mais são que cartas de um baralho
Montagem com fotos extraídas de freeimages.com.

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Ao longo da história não faltaram alquimistas financeiros que procuraram contornar as leis matemáticas. Foram magos medievais em busca da “pedra filosofal” que transformaria tudo em ouro, reis absolutistas que reduziam o peso metálico de suas moedas, presidentes irresponsáveis que produziram inflações estratosféricas no século 21… Pois podem hoje ser incluídos nessa lista grandes empresários que desenvolvem modelos societários arrojados, capazes de fazê-los controlar negócios com participações diminutas no capital das empresas. É o caso por exemplo, das ações superpreferenciais, que vêm inundando os mercados nacional e internacional.

Trata-se de uma troca em que, ao renunciar ao direito político do voto, esses papéis receberiam largas vantagens econômicas — sobretudo na distribuição de dividendos.

O objetivo da emissão de ações desse tipo é preservar a posição de poder sobre a empresa de um fundador ou líder considerado iluminado e insubstituível, desconstruindo o princípio de “one share, one vote” — que quer dizer que a cada ação deve corresponder um voto, raiz de um capitalismo sadio. Não se trata de preservar uma estrutura de poder consolidada em alguma macroempresa, nem mesmo o possível estímulo à abertura de capital de uma pequena ou média companhia; mas, apenas, o mando de uma única pessoa em empreendimentos já gigantescos.

São tipicamente os casos do Alibaba e de seu fundador Jack Ma e do Facebook e de Mark Zuckerberg no exterior; por aqui, o fenômeno aparece na emissão de ações da companhia aérea Azul, grande sucesso em abril nas pedras da nova B3, produto da fusão da BM&FBovespa e da Cetip. O lançamento da Azul pode, no limite, permitir que o criador da empresa, David Neeleman, a controle com menos de 1% do capital. E já houve a experiência desagradável da Brasil Telecom, cujo comando era exercido com porcentagem aproximada.

Os investidores devem ser advertidos de que essas ações nada mais são do que cartas de um baralho, fichas de um cassino, e que seus investimentos repousam sobre as coronárias de um ser humano como qualquer outro. Quando não nos riscos de sua atuação política e social — vide o recente caso da prisão de um banqueiro no âmbito da Lava Jato, que provocou grave degringolada na cotação dos papéis de seu banco.

É ao mercado e a seus agentes, corretores e banqueiros de investimentos que cabe o dever de alertar os acionistas para os riscos excessivos a que estarão expostos ao embarcar em aventuras desse tipo.


* Ney Carvalho é historiador e ex-corretor de valores


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