Ao lançar foco sobre o acionista, o Ranking elaborado pela CAPITAL ABERTO utiliza números calculados de forma menos usual. Tanto a valorização das ações em bolsa (medida pelo Total Shareholder Return) como os resultados financeiros das companhias (medidos pelo EVA) foram ponderados pelo custo do capital do acionista (KE) — variável que representa o custo de oportunidade incorrido por este acionista ao investir numa companhia e assumir o risco do investimento.
Este custo é formado por dois componentes: a taxa livre de risco e o prêmio de risco da companhia em relação ao mercado. O primeiro componente é facilmente observável, ao passo que o segundo é geralmente calculado a partir de dados históricos. O conceito de prêmio de risco da companhia pode ser melhor entendido através de um exemplo. Imagine uma companhia de saneamento e outra de aviação. Pelo conceito de risco relativo ao mercado, pode-se inferir que a companhia de saneamento é menos arriscada que a de aviação, pois seus retornos são mais estáveis e dependem menos do estado da economia. Consumidores pouco alteram seu padrão de consumo de água, mas mudam seus gastos com turismo.
A importância de analisarmos o KE fica evidente na declaração do ex-CEO da Coca-Cola, Roberto Goizueta: “Você enriquece apenas quando investe dinheiro a uma taxa maior do que o custo deste dinheiro”. Traduzindo para a realidade de nosso ranking, suponha que a companhia A obteve um TSR de 12%, com custo de oportunidade de 10%, e a companhia B obteve um TSR de 15%, com custo de oportunidade de 14%. Qual foi o melhor investimento? Em termos absolutos, a empresa B, mas se considerarmos o risco que o investidor incorreu, certamente a companhia A — 2% acima do custo de oportunidade. Assim, medimos a capacidade de uma companhia de investir em projetos com retorno acima do custo de oportunidade e de criar novas perspectivas de criação de valor.
O outro componente do ranking é a variação do EVA entre os anos 2005 e 2006 (Delta EVA®), que mede o sucesso da companhia ao executar seus projetos. Ou, sob outra perspectiva, mede o seu sucesso ao entregar as promessas implícitas no comportamento das ações. Mas por que não utilizar uma medida contábil clássica e de mais fácil comparação como o crescimento do lucro, ou ainda um índice, como o crescimento do lucro por ação?
Apesar de serem de fácil entendimento, elas refletem uma realidade de natureza contábil não diretamente ligada à realidade dos investidores. Medidas contábeis não incluem questões como o risco do negócio, não estão necessariamente relacionadas ao caixa gerado ou, ainda, podem ser alvo de ingerência indevida por parte dos gestores — o que rapidamente nos traz à tona questões como Enron e Worldcom. O EVA® — Economic Value Added ou Valor Econômico Agregado — leva em conta questões não colocadas nas medidas tradicionais de lucro, mas fundamentais para a avaliação do acionista, como o risco do negócio — que se reflete no custo de capital — e a eficiência na utilização do capital empregado.
O EVA® é formado por dois componentes: o NOPAT (Net Operating Profit after Taxes ou lucro operacional líquido) e o encargo pelo uso de capital. O NOPAT é o resultado operacional da companhia, sem considerar suas decisões de financiamento. O encargo de capital é o custo de todo o capital empregado na operação. A fórmula abaixo sintetiza o conceito do EVA®: EVA® = NOPAT – (WACC X Capital Empregado)
De acordo com essa equação, para obter aumentos de EVA®,a empresa pode atuar em quatro frentes: (1) aumentando o lucro operacional líquido; (2) reduzindo o custo de capital; (3) redistribuindo o capital (vendendo ativos que não geram retorno adequado); (4) aumentando o capital e investindo em projetos com retorno acima do custo de capital. Ao utilizarmos a variação de EVA® de um ano para o outro, e não o EVA absoluto de um determinado exercício, procuramos captar a eficácia da gerência da companhia na obtenção destes quatro pontos de melhoria dentro do horizonte avaliado. A divisão pelo capital empregado normaliza os resultados e torna comparáveis as melhorias de delta EVA® entre as companhias analisadas.
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