Acrobacias com X
Excêntrico e surpreendente, Eike Batista arremata R$ 1,1 bilhão vendendo o sonho ousado de uma “mini-Vale” a investidores

, Acrobacias com X, Capital AbertoO negócio dele é vender. Vender e depois comprar. Ou tudo ao mesmo tempo. Não importa o quê, nem em que idioma e muito menos onde. A premissa básica atende pelo nome resultado. De preferência, grande, vultoso e exagerado — bem ao seu perfil, no mínimo, excêntrico. Engenheiro metalúrgico formado na Alemanha, fluente em cinco línguas, Eike Fuhrken Batista — também lembrado como o eterno ex-marido da bela Luma de Oliveira — vendia apólices de seguro de porta em porta para garantir uns trocados a mais na época da faculdade.

Passaram-se alguns anos e, já perto de completar 50, fios de cabelos brancos à mostra, ele se revelou bem mais do que um jeitoso vendedor de seguros ou partidão para um plantel de mulheres bonitas. Na manhã de segunda-feira, 24 de julho de 2007, o empresário captou R$ 1,1 bilhão ao ofertar na bolsa paulistana 37% da MMX Mineração e Metálicos — que, naquela época, era apenas (e somente) a promessa de uma nova mineradora brasileira.

Na cabeça de Eike Batista — um sonhador desmedido para uns ou megalômano incorrigível para outros — a MMX era o embrião do que o próprio apelidou de “mini-Vale”. Não por acaso, uma miniatura da empresa de mineração que nasceu estatal e teve como um dos principais artífices seu pai, o respeitado Eleazar Batista.

A MMX chegou à bolsa com projetos que demandavam investimentos superiores a US$ 3,5 bilhões para produzir desde minério de ferro, pelotas, gusa até semi-acabados de aço. Eram projetos, alguns com licenças já aprovadas. Mas apenas projetos, ressalte-se. O cenário mundial carente de insumos para suprir a indústria do aço e a expansão da China — com seu gigantesco apetite para metais ferrosos, não-ferrosos e petróleo — deram uma ajuda considerável. Os preços de minério de ferro subiram cerca de 150%, de 2003 a 2006. Em 2004, chegou a faltar ferro-gusa no mercado mundial.

Ao mercado sedento por matérias-primas e à indiscutível lábia de bom vendedor, se somou a capacidade de Eike de montar um invejável time de executivos — aos quais não se nega a oferecer um generoso pacote de bônus, salários e benefícios. O empresário capricha no “contra-cheque” e garante, ao seu lado, antes, durante ou depois dos road shows para investidores, nomes como Rodolfo Landim, ex-presidente da BR, Francisco Gros, ex-Banco Central e Joaquim Martino, ex-Vale. Gilberto Sayão, ex-dono do Pactual, é conselheiro independente da MMX e, ainda, investidor em outra empresa de Eike, a OGX, de exploração de petróleo.

A OGX nasceu da aquisição de 21 blocos exploratórios leiloados na 9ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP), no ano passado. Seu outro investidor é o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, dono da Gávea Investimentos. Assim como a MMX Mineração e Metálicos, a OGX vai igualmente se lançar na bolsa, com um IPO, para captar recursos e colocar de pé os projetos acertados com a ANP após o leilão. Mas essa é outra história.

Histórias, com finais felizes ou não, são café pequeno na lista de empresas que integram o grupo EBX, o conglomerado de Eike Batista. A começar pela letra X e pela imagem do Sol penduradas nos logotipos de todas elas. O “X” representa a capacidade de multiplicação, o Sol — e sua cor amarela —, a “força e vocação para investir em bons negócios, com geração de riqueza progressiva”, nas palavras do Eike.

“Ele é um desbravador que consegue fazer projetos grandiosos, reunindo ativos minerais do Brasil, executivos de ponta e seriedade”, tenta resumir Elizabeth Cruz, uma das integrantes da equipe de Relações com Investidores (RI) da MMX. “Ele ganhou respeito no exterior, desde a época em que trabalhava com a exploração de ouro”, segue, elogiando, numa referência velada à  TVX Gold, companhia originada no garimpo de ouro na Amazônia nos anos 80 que se encorpou por meio de associações, desembarcou em outros países e chegou à bolsa de Toronto. Fez diversos negócios com ouro, passando pelo níquel e o zinco. Sempre comprando e vendendo empresas. Algumas, com ou sem X, foram à lona, a exemplo da fabricante de jipes JPX, fechada há alguns anos, ou a falida Clarity, de produtos de beleza, criada para Luma.

Em 2005, por uma daquelas ironias da vida, descobriu durante a engenharia da mina de ouro de Arapari, no Amapá, um depósito de minério de ferro. Estava tirada a sorte grande. Foi de lá que saiu a MMX Mineração e Metálicos. Controvertido, sonhador, respeitado ou não, o fato é que Eike Batista convenceu investidores internacionais a comprar o projeto de mineração. No prospecto, assegurou que usaria os recursos captados para alavancar investimentos em minas, unidades siderúrgicas, ferrovias, terminais portuários e aquisições de jazidas nos estados do Amapá, do Mato Grosso do Sul e de Minas Gerais.

Mas a MMX que foi ao mercado de ações e manteve-se sob o controle de Eike transformou-se em outra companhia nesses quase dois anos. A empresa era composta, inicialmente, por três grandes projetos: o sistema MMX Minas Rio (de exploração de minério de ferro em Minas Gerais e um minerioduto ligando a área produtora ao porto do Rio), a MMX Amapá (projeto de mina integrado com porto e ferrovia) e a MMX Corumbá (mina). Boa parte foi comprada pela sul-africana Anglo American em duas operações.

A primeira deu-se em abril do ano passado, quando a multinacional adquiriu, por US$ 1,15 bilhão, 49% do capital do sistema Minas-Rio, cujas reservas podem atingir 2 bilhões de toneladas de minério de ferro. A segunda, e mais importante, aconteceu no começo do ano, quando a mesma Anglo comprou, por US$ 5,5 bilhões, 70% do sistema Amapá, o restante do sistema Minas-Rio e 49% da empresa de logística, a LLX. Numa operação complexa, cheia de cisões, a MMX tornou-se outra empresa. Sobraram integralmente Corumbá (4,9 milhões de toneladas anuais de minério de ferro, 400 mil toneladas de ferro-gusa e 500 mil toneladas de tarugo), a participação remanescente na LLX e duas minas de minério de ferro da AVX, em Serra Azul (MG).


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