A dama do PE

, A dama do PE, Capital AbertoOs quase 40 anos no mercado garantem certa dose de tranqüilidade à norteamericana Patricia Cloherty, um dos principais nomes da indústria internacional de private equity. “Enfrentei pelo menos uma crise a cada década, sempre desencadeada pelo excesso de alavancagem, que é muito sedutora.” As correções, diz ela, costumam ser dolorosas. Desta vez, a diferença trazida pelos estragos do subprime é a sua intensidade e amplitude global. Apesar do ambiente hostil, a presidente da Delta Private Equity Partners — que tem mais de US$ 500 milhões investidos em 55 empresas russas — não se assusta.

Nesta entrevista à CAPITAL ABERTO, ela cita vantagens para gestores com histórico bem-sucedido, como o dela. Em 1970, Patricia ingressou na administradora de recursos Apax Partners, de onde saiu em 2000, depois de presidir a companhia. Durante esse período, passou pela presidência da Associação Nacional de Venture Capital dos Estados Unidos no governo dos presidentes Jimmy Carter e George W. Bush e foi pioneira do capital de risco na Rússia. Em março deste ano, Patricia foi condecorada pelo premiê Vladimir Putin com a Ordem da Amizade, por sua contribuição para o empreendedorismo no país e o fortalecimento dos laços com os Estados Unidos. Enquanto estava em Londres para o fórum anual da Associação de Private Equity de Mercados Emergentes (Empea), em novembro, Patricia não perdeu tempo. Com a agenda cheia, fez encontros de negócios e, inclusive, uma apresentação para a Câmara de Lordes.

CAPITAL ABERTO: A senhora trabalha no mercado de private equity há muito tempo. Com a sua experiência, acredita que a crise atual favorece gestores com um passado de sucesso?

Patricia Cloherty: Gestores com retrospecto bem-sucedido em private equity deveriam sempre se beneficiar em tempos difíceis, porque os preços atribuídos às empresas são mais baixos. Em segundo lugar, companhias procuram injeções de capital na ausência de opções no mercado de dívida. E, mais importante, nesses períodos, elas precisam não só dos recursos como também da especialidade de investidores maduros. A crise atual de crédito, portanto, torna os gestores respeitados e experientes muito atraentes para empresas em crescimento.

Se o gestor ainda tem fundos com capital livre para investimentos, podemos dizer que já está na hora de ele sair às compras?

O momento é bom para passear no mercado, inclusive revisitar negócios antigos que tinham sido colocados em espera ou que não foram fechados antes por alguma razão. A expectativa é de que a crise continue por um tempo, então aqueles que têm capital para investir podem se permitir ser pacientes para conseguir preços melhores em boas empresas. Mercados nervosos também se tornam muito mais ativos, provendo outras áreas de oportunidades.

Com a liquidez em baixa, fica mais difícil definir “os melhores preços” de empresas e projetos?

As condições de mercado ajudam a determinar valores e, portanto, afetam as negociações. Espera-se que duas partes possam chegar a um “negócio justo” em quaisquer circunstâncias. A conjuntura atual, de fato, resulta em maior poder de negociação para as firmas de private equity. Mas um acordo justo sempre pode ser acertado se o investidor e o empresário querem fechar um negócio.

Podemos esperar por novas tendências em valuation? Em termos de contabilidade, por exemplo?

A regra de contabilidade FAS 157 (do Conselho de Normas de Contabilidade dos Estados Unidos, que trata de valor justo) exigirá que fundos de private equity marquem suas posições a mercado, o que vai aumentar a volatilidade — fator ao qual, francamente, me oponho. Mas, com certeza, mais transparência dentro da indústria internacional de private equity, como mostrar a maneira pela qual se chega a determinados valores, é necessária, não importando o método. Além disso, com o esperado aumento da supervisão regulatória no mundo financeiro, isso provavelmente vai ser bom para a indústria.

No Brasil, os gestores usam diversos padrões de divulgação e métricas distintas para mensurar desempenhos, o que torna árdua a tarefa de avaliá-los e selecioná-los. Este tipo de problema está com os dias contados?

Padrões claros e compreensíveis precisam evoluir ao longo do tempo em qualquer país, e as associações de private equity podem ser muito úteis nessa tarefa, como a EVCA e a BVCA (européia e britânica, respectivamente). Se o desempenho tem de significar alguma coisa, certamente o investidor precisa de uma comparação de maçãs com maçãs.

Há setores específicos de interesse para a Delta?

Na Rússia, setores de negócios básicos, como serviços financeiros, bens de consumo e mídia, com toda a certeza, são atraentes. Não queremos inventar nada. Nessas áreas, examinamos cada negócio separadamente, de acordo com seus méritos. Companhias bem geridas, com crescimento rápido e potencial para se tornarem líderes de seus segmentos são nossa preferência.

As empresas do seu portfólio estão sendo afetadas pela crise?

Nenhuma de nossas companhias investidas está indo mal. Mas estamos prestando atenção extra ao fluxo de caixa de cada uma. Aproveitamos também para fortalecer a administração e a eficiência delas. Você tem de empregar cada dólar sabiamente.

Os investimentos de private equity em mercados emergentes ainda estão concentrados na Ásia, como ficou claro na conferência da Empea. A América Latina parece ser a terceira da fila, atrás de Rússia. O que faria a senhora investir no Brasil?

Todas as economias do grupo chamado Bric (que compreende Brasil, Rússia, Índia e China) oferecem oportunidades substanciais por uma razão muito simples: são ricas em recursos naturais, estão em formação e têm habitantes ansiosos por melhorar seus padrões de vida. Por último, vem o crescimento econômico. Com liderança política decente nesses países, acredito que eles vão suportar a crise por muitos meses e, depois, retomar o crescimento.


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