Após dois meses seguidos de alta do principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa – 3,09% em julho e 6,54% em agosto – setembro começa com um pacote de dados que coloca em dúvida a continuidade de alta na Bolsa, ao menos no curto prazo. Há velhos questionamentos na mesa, como o derretimento do mercado imobiliário chinês, e novos dados do PIB doméstico, que surpreendente positivamente, mas não favorecem a perspectiva para a Selic. Tudo tende a turvar o horizonte que norteia a decisão dos alocadores de recursos, sejam gestores de fundos ou investidores em ações.
Depois de uma queda de 0,41%, fechando a 134.353 pontos nesta terça-feira (03), o Ibovespa tem alta de 0,13% no acumulado do ano. Na carteira teórica do principal índice da Bolsa, a principal empresa é a Vale, com 11,333%, que tem sido afetada por fatores externos. Outras companhias importantes para o índice, como CSN e Usiminas, direta ou indiretamente, também sofrem com a derrocada da economia chinesa, uma vez que isso diminui a demanda pelos seus produtos. O mercado imobiliário da China, em que pese os esforços contínuos do governo para melhorar o desempenho, segue derretendo e puxando para baixo o PIB do país. O esforço é para garantir um crescimento perto de 5% ao ano, menos da metade do desempenho há alguns anos.
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Nos primeiros sete meses do ano, segundo pesquisa de intenção de compra de imóveis do UBS Evidence Lab, o volume geral de vendas imobiliárias caiu 19% em termos anuais, novos lançamentos imobiliários caíram 23% e o investimento em imóveis caiu 10%. Os preços dos imóveis caíram ainda mais, enquanto a receita de vendas de terrenos encolheu 22%. O derretimento do real estate afeta diretamente os preços do minério de ferro, exportados pela Vale.
“Os preços do minério de ferro desde 2021 em algum momento caíram abaixo de US$ 100 a tonelada, mas por pouco tempo. Agora o movimento é mais consistente e tende a perdurar. É um novo normal”, comenta Flávio Conde, especialista em ações da casa de análise Levante. “O que vimos até 2021 na China não volta mais. Mercado vai demandar menos aço e, portanto menos minério. E para aqueles que trabalham com os produtos não há outra saída, outro mercado para suprir a demanda”, explica o especialista. A China responde por 50% da demanda mundial de aço e por 70% da demanda de minério.
Na visão de Conde, a Vale seguirá lucrativa e grande geradora de caixa, mas a um nível menor, mais modesto do que em outros momentos. “Em 2021, a receita da empresa com minério chegou a US$ 45 bilhões, agora está em US$ 35 bi, uma queda forte, mas com um volume só um pouco menor. O mercado estava mal acostumado com preços a US$ 160 em 2021. Não voltaremos a isto nem mesmo com as medidas do governo chines a cada três meses, mas sem qualquer efeito.” Em 2021, a Vale fechou o ano com alta de 4%, já em 2022 a alta foi de 24,95%, enquanto em 2023 as ações da companhia fecharam o ano no negativo em 5,73%, segundo levantamento da Elos Ayta. Em 2024 até o fechamento desta terça, a mineradora acumula uma queda de 20,56%. Na visão de conde, CSN e Usiminas também sofrem os reflexos da economia chinesa e quem “se salva” é a Gerdau que tem 50% das operações no Canadá e EUA.
Relatório do UBS reduziu o crescimento da China para 2024 e 2025, agora em 4,6% (de 4,9%) e 4% (antes 4,6%), respectivamente. Na visão dos analistas do banco, a recessão do setor imobiliário é “mais profunda do que o esperado e parece não ter atingido o fundo”. O UBS afirma que, embora as exportações reais tenham sido mais fortes do que o previsto, a implementação de medidas de flexibilização no setor imobiliário tem sido lenta e o impacto limitado. “O crescimento do segundo trimestre desacelerou para 2,5%, ajustado sazonalmente em termos anuais (SAAR), em comparação com 6% no primeiro trimestre; os dados de julho e agosto até agora não sugerem melhorias significativas”, destaca relatório do UBS. Os esforços da China para reativar o principal motor da sua economia começaram no final de 2022, incluindo a redução dos requisitos de entrada e taxas de hipoteca, o relaxamento das restrições de compra de imóveis (HPR), e a implementação de um esquema de apoio ao crédito para a construção de projetos paralisados.
A área de pesquisa do Bank Of America (BofA) também segue um tom pessimista em relação à capacidade da China de reverter a situação. Os governos locais do país, afirma o relatório do BofA, estão cortando gastos em um momento em que a economia estagnada poderia se beneficiar de um estímulo fiscal. “Os gastos nacionais caíram 2% em relação ao ano anterior de janeiro a julho, ao consolidar tanto os gastos públicos gerais quanto as contas de fundos geridos pelo governo.” E acrescentam: “durante uma desaceleração econômica, essa redução nos gastos dos governos locais é pró-cíclica, amplificando as flutuações e desafios em meio à fraqueza do consumo e à desaceleração dos investimentos”.
Minério em queda
Os contratos futuros de minério de ferro na Bolsa de Dalian registraram nesta terça-feira (03) sua maior queda diária em quase dois anos, com o mercado reagindo a dados econômicos desanimadores da China. O contrato de janeiro de minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com perda de 4,74%, a US$ 98,87 a tonelada, sua maior queda desde 31 de outubro de 2022. Na véspera, os futuros da commodity também caíram mais de 4%.
Os futuros do minério de ferro caíram após novas evidências da demanda chinesa fraca, que recuou para uma mínima recorde de seis meses em agosto, de acordo com uma pesquisa oficial, pressionando os formuladores de políticas a prosseguirem com os planos de direcionar mais estímulos para as famílias.
Com isso, mineradoras e siderúrgicas brasileiras sofreram. Hoje, a Vale caiu 3,64%, enquanto Usiminas teve desvalorização de 3,25%, a Gerdau, de 3%, e a CSN, de 1,75%.
Mas o impacto da economia chinesa nas siderúrgicas e mineradoras não é o único que tem feito a Bolsa recalcular a rota. Novos dados econômicos têm feito o mercado refazer as apostas para a taxa de juros Selic, gerando uma baixa na Bolsa.
No Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024 ante o trimestre anterior, mostrando aceleração ante o 1% de crescimento (revisado para cima) observado no primeiro trimestre, segundo dados divulgados nesta terça-feira (03). Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB cresceu 3,3%.
Embora “pareça” positivo, e se de fato é, por um lado, por outro, na conjuntura atual, “good news is bad news”, como destaca José Francisco de Lima, economista-chefe do Banco Fator, em relatório. “Surpresas favoráveis na atividade são incorporação de dados favoráveis à alta da Selic logo mais.”
O dado da economia brasileira forte apenas reforça uma brecha já existente para um novo ciclo de aperto monetário. Além da economia aquecida, o indicador mostrou que a demanda está maior que a oferta, o que é ruim para a inflação. “Sobre as perspectivas, cabe registrar que a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo sobre o PIB) cedeu levemente e continua em nível muito baixo, o que indica lento crescimento da oferta”, comenta Lima, em relatório.
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