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Sanepar x Copasa: quem será a nova Sabesp?
Estados endividados, metas de universalização dos serviços e o sucesso da desestatização da Sabesp podem levar outras estatais de saneamento a se capitalizarem na bolsa
Reprodução B3/Créditos: Caue Diniz
Reprodução B3/Créditos: Caue Diniz

Após a desestatização da Sabesp, concluída com sucesso em julho deste ano, o mercado – sejam investidores em ações ou potenciais sócios estratégicos – busca por sinais de quem será a próxima Sabesp. No caldeirão de motivo que pode estimular outras estatais a seguirem o mesmo caminho estão Estados endividados, necessidade de cumprir a meta de universalização dos serviços e a busca por eficiência em um ambiente mais competitivo desde 2020, quando foi editado o Marco Regulatório do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020). As mais cotadas para seguirem os passos da Sabesp são a Sanepar, do Paraná, e a Copasa, de Minas Gerais, por já estarem na bolsa e terem ótimos números, o que atrai capital privado.

Outro fator importante é o próprio sucesso do modelo de venda da Sabesp.  A oferta pública de ações da concessionária superou diversos marcos do mercado de capitais brasileiro. Além de ser a maior oferta pública do Brasil em 2024 e da América, teve a maior demanda de investidores institucionais para uma oferta brasileira em toda a história. A proposta da Equatorial, no valor de R$ 6,9 bilhões por 15% da Sabesp, é considerada a maior ordem individual alocada em uma oferta do país. A busca por um investidor estratégico, informou o governo de São Paulo na ocasião, visava ampliar os investimentos, antecipando a universalização do saneamento até 2029 nas áreas de atuação da Sabesp. O prazo para a universalização vai até 2033.

“O movimento do governador paulista, Tarcísio de Freitas, pode ajudar a quebrar resistência porque o processo todo foi bem-feito, deu certo. Ele conseguiu desestatizar a melhor companhia de saneamento do país, e ainda encontrou um acionista de referência que vai dar mais eficiência à empresa”, comenta Flávio Conde, especialista em ações da casa de análise Levante. O analista fez um estudo comparativo entre Sabesp, Sanepar e Copasa olhando para governança corporativa, desempenho econômico-financeiro, perfil operacional e posicionamento na região e no setor em que atuam. A ideia do estudo intitulado Mata x Mata, comenta Conde, é com base na análise dos fundamentos das empresas e do mercado encontrar a resposta sobre quem será a próxima Sabesp.

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“Todas as companhas de saneamento terão que investir para atingir as metas de universalização dos serviços até 2033. As três que analisamos são as menos endividadas, já com presença em bolsa, e ótimos números, o que atrai o interesse privado”, explica o analista da Levante. Em termos de endividamento, conforme dados do segundo trimestre deste ano, Sabesp e Sanepar têm uma dívida liquida/Ebitda de 1,7 vez, enquanto na Copasa o indicador está em 1,6 vez. Nos três casos, bem abaixo do nível preocupante, a partir de 3 vezes.

Para Gustavo Mueller, diretor de Corporates na Fitch Ratings, agência de classificação de risco que tem na carteira de empresas do setor de saneamento, entre outras, trata-se de estatais que mesmo sem um investidor privado têm condições de cumprir as metas de universalização. “No geral, da nossa carteira, a maioria tem condições de cumprir o que diz o marco regulatório, com algumas exceções por questões operacionais ou financeiras. As que estão na bolsa já têm maior capacidade”, conta Mueller. Para o diretor da Fitch, independentemente da necessidade de recursos para investir, uma vantagem de conseguir um sócio privado, dentro do modelo de desestatização da Sabesp ou mesmo privatização, é reduzir as amarras que dificultam a gestão das estatais.

“Você acaba tendo sempre alguma captura de eficiência a ser feita, tem ganhos gerenciais importantes neste movimento.”  Mueller acrescenta, se referindo a Sanepar, Copasa e Sabesp, que “não são empresas ineficientes, ao contrário, mas que não têm o mesmo nível de eficiência do Aegea”. A companhia citada tem no capital votante Equipav, Itaúsa e GIC, um fundo soberano de Cingapura, e chegou a se interessar pela Sabesp, mas desistiu de concorrer.  “As duas são eficientes, mas a Aegea está mais bem posicionada do que a Sabesp. Este é, a meu ver, o maior ganho de uma mudança no controle acionário privatizando ou encontrando um investidor de referência.”

A Aegea, citada por Mueller, protagonizou a primeira venda de uma estatal do setor após o marco regulatório que estipulou os prazos para universalizar os serviços de água, coleta e tratamento de esgoto. Em dezembro de 2022, a empresa comprou a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), do Rio Grande do Sul, por R$ 4,151 bilhões. A decisão de privatizar a Corsan foi tomada pelo governo do Estado em 2021 e o objetivo declarado era assegurar o cumprimento do marco legal do saneamento. 

Na visão de Flávio Conde, ampliando o escopo da pesquisa há outras companhias que precisam de muito recurso para atingir a universalização dos serviços e poderiam também abrir capital na bolsa. “Sem falar no jogo dos três ganhas, ganha os governos ao se livrar de um problema muitas vezes e ainda receber recursos para investir em outras áreas, ganha o novo investidor das empresas e a sociedade que terá mais rapidamente acesso ao saneamento básico.”

No estudo da Levante, há um comparativo entre a valorização das ações da Sabesp, após a privatização, e o potencial de alta de Copasa e Sanepar, caso passem pelo mesmo processo. No dia 18 de junho deste ano, as ações ordinárias da Sabesp (SBSP3) eram cotadas a R$ 72,22 e exibiam um potencial de valorização de 52%, segundo os cálculos do analista, o que levaria o valor a R$ 110,00. Hoje, o mesmo papel está próximo de R$ 98. Conde fez projeções com os mesmos critérios para a Sanepar e Copasa. Para a companhia do Paraná, utilizou a cotação do dia 13 de agosto (SAPR11), a R$ 28,50. Após sua privatização, alterando o critério EV/Ebitda – um indicador que relaciona o valor da companhia (EV) e o seu Ebitda (geração de caixa) – o valor justo para a ação em junho de 2025 passaria a R$ 44,00, alta de 55%. Realizando o mesmo exercício para as ações da Copasa (CSMG3), a cotação de R$ 23,00 no dia 13 de agosto, passaria a ter um preço justo projetado de R$ 39,00, potencial de alta de 69%.

Além das análises das companhias, também pesa na “escolha de quem será a nova Sabesp”, aspectos políticos importantes. E estes são todos favoráveis à Sanepar. “O governador do Paraná, Ratinho Jr, já conseguiu com a venda de ações da Copel na bolsa, ou seja, tem menos resistências a uma nova rodada com outra estatal. Além disso, a melhora do desempenho da bolsa nos últimos meses ajuda a estimular o movimento, é um bom momento”, afirma. A Sanepar fornece água, coleta e tratamento de esgoto a 346 municípios de 399 municípios do Paraná (87% do total).  A reportagem procurou o governo do Paraná, mas até o fechamento da reportagem não obteve resposta.

 “A Copasa, em que pese o governador Romeu Zema (Novo) não se opor, chegando a iniciar um processo no ano passado, tudo ficou parado após a ideia do senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG) de propor a federalização de empresas estatais de Estados em troca de abatimento de dívida com a União”, lembra Conde.  “Com isso, perdeu um pouco de força, mas não é uma ideia razoável porque o governo do Estado não é o único acionista, tem outros envolvidos. “Não é tão simples transferir o controle para a União.”

A Capital Aberto entrou em contato com o governo de Minas Gerais que retornou apenas informando que as tratativas com o governo federal seguem para equalizar a dívida que chega a R$ 165 bilhões com a União. A primeira vitória, no dia 28 de agosto, foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que atendeu pedido do governo de Minas e do governo Federal para o início do processo de conciliação para a dívida. A petição conjunta solicitando que considere o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) de como se tivesse sido homologado em 1° de agosto com efeitos financeiros vigentes a partir de 1° de outubro deste ano.

Hoje, Minas realiza o pagamento de parcelas mensais de aproximadamente R$ 200 milhões. No acordo aprovado pelo STF, o Governo de Minas amplia o pagamento nos valores previstos no RRF, que começará a ser realizado em outubro, e irá pagar mais R$ 1 bilhão ao Governo Federal até o fim de 2024.  

O acordo recém aprovado dá fôlego para Minas aguardar a aprovação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), de autoria de Rodrigo Pacheco, que entre outras coisas, permitirá a entrega de estatais para a União em troca do abatimento da dívida. Se for aprovado, Minas tende a aderir ao novo modelo, migrando do RRF para o Propag. Em áudio enviado pelo governador Zema, ele agradece ao STF e acrescenta. “Entendemos que a nova proposta, chamada de Propag, é a solução mais adequada para Minas e todos os Estados que passam por situação semelhante. Seguiremos pagando a dívida como temos feito desde 2022, quando houve autorização judicial para ingressarmos no RRF”, afirma o governador sugerindo que a ideia de federalizar estatais mineiras, como Copasa. O Propag já foi aprovado no Senado e o texto está sendo apreciado pela Câmara dos Deputados.


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