O Mercado Libre, gigante argentina do varejo, atingiu uma marca histórica de maior empresa da América Latina por valor de mercado na última sexta-feira (02), ultrapassando a blue chip Petrobras. No final de 2023, a empresa valia US$ 79,4 bilhões, mas no dia 2 de agosto de 2024 chegou à cifra de US$ 89,8 bilhões, representando um crescimento de US$ 10,3 bilhões, ou 13%, em menos de um ano, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria. Com o dólar flutuando na casa dos R$ 5,75, a posição não deve ser invertida tão cedo.
O movimento ocorreu um dia após a divulgação do balanço da companhia, que foi visto como positivo pelo mercado, uma vez que ela apresentou um desempenho forte, que superou as estimativas do consenso. O Mercado Libre registrou uma receita consolidada de US$ 5,1 bilhões no segundo trimestre de 2024, alta anual de 45,1%, destacada pelo crescimento robusto no e-commerce e na fintech.
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O GMV (Volume Bruto de Mercadorias) do e-commerce do Mercado Libre alcançou US$ 12,6 bilhões, valor 20,4% superior na comparação anual e 11,3% na trimestral, impulsionado pelos desempenhos positivos no México e no Brasil, enquanto a receita do e-commerce cresceu 53,4%, totalizando US$ 2,97 bilhões. Na fintech (Mercado Pago), a carteira de crédito expandiu 51% ano a ano, enquanto a receita aumentou 27,5% na comparação anual, alcançando US$ 2,1 bilhões. Na comparação ano a ano, o EBIT subiu 8,5%, para US$ 726 milhões, embora a margem EBIT tenha diminuído para 14,3%. Já o lucro líquido mais que dobrou, atingindo US$ 531 milhões, com uma margem líquida de 10,5%, favorecida pela redução do impacto cambial e uma taxa efetiva de impostos mais baixa, segundo relatório da Genial.
“Além disso, observamos fatores positivos, incluindo melhorias logísticas (com a penetração de fulfillment no Brasil aumentando 8 p.p. ano a ano) e o crescimento de 19% na comparação anual no número de compradores únicos e uma expansão de 9% ano a ano na frequência de itens por comprador”, comentam os analistas da Genial Investimentos Antonio Cozman, Kaique Rocha e Iago Souza, em relatório.
Para o Itaú BBA, uma melhor alíquota tributária contribuiu para uma queda de 25% em relação às estimativas no resultado reportado pelo lucro líquido. Segundo os analistas do banco, este desempenho destaca mais uma vez o sólido impulso operacional da MELI e as fortes perspectivas de longo prazo.
“O crescimento cambial neutro da Argentina de 285% ano a ano (estável anualmente em dólar) foi semelhante à inflação, marcando uma melhoria significativa em comparação com o 1º trimestre de 2024, principalmente devido a tendências mais fortes de GMV. Enquanto isso, a contribuição direta atingiu US$ 381 milhões, gerando uma margem de contribuição de 44,1% (vs. 47,6% no mesmo período de 2023)”, destacam os analistas do setor de varejo do Itaú BBA, em relatório.
Para Marco Saravelle, estrategista-chefe da MSX Invest, a valorização do Mercado Libre é fruto de uma conjunção de fatores. Embora a alta do dólar tenha sido a “cereja do bolo” para o faturamento da companhia, ele não é o fator decisivo. Questões como o desânimo com alguns cases locais em que outras varejistas têm dificuldade em mostrar o mesmo desempenho resiliente em meio à concorrência, a gigante argentina é a única que tem uma capacidade incrível de entregar e surpreender positivamente os investidores.
“A questão do câmbio é uma cereja do bolo. Talvez seja um dia ou outro, específico, pode ser que seja decisivo, mas a entrega da companhia é impressionante, novidades, crescimento de receita, rentabilidade, market share”, comenta Saravelle. “Os investidores, mesmo sabendo que seja, de fato, reconhecidamente uma empresa mais cara por várias metodologias, também sabe que tem uma chance de continuar nos surpreendendo positivamente, diferentemente de outros cases do comércio eletrônico, especificamente aqui do Brasil.”
Para o analista, a visão é de que talvez aqui, pelo menos na América Latina, não tenha grandes alternativas de companhias de sucesso no setor, que tenham conseguido surpreender positivamente. “O investidor continua dando prioridade, pelo menos nesse curto prazo, já que a gente não tem, por exemplo, alguma na outra ponta.”
Dólar pesa na Petrobras
O curioso é que o câmbio que favoreceu o Mercado Libre é a principal causa para a perspectiva ruim da petroleira. Do lado da estatal, o impacto é negativo porque afeta a importação de derivados. A expectativa é de que o cenário – com a Meli superando Petrobras – permaneça nos próximos dias, já que a estatal não deve ter muita mudança até o dia 8 de agosto, quando divulgará o balanço do segundo trimestre.
E mesmo assim, como a companhia já divulgou a prévia operacional do trimestre, já dá para ter uma ideia de como virão os números financeiros, fazendo com o que a expectativa fique em torno dos dividendos. Inclusive, a depender do número a ser divulgado, o valor tem potencial de jogar as ações da Petrobras tanto para cima quanto para baixo, influenciando no valor de mercado da empresa.
Para o trimestre, a expectativa do mercado é que o balanço da estatal venha mais fraco, em função do acordo bilionário fechado com o Carf em junho, para o quitamento de dívidas fiscais, que pode ter impacto negativo na distribuição de dividendos da companhia.
“Normalmente, o que pode fazer algum preço é o custo de extração da Petrobras, que vem tendo um leve aumento nos últimos trimestres. Então, eu esperaria que no segundo trimestre também tivesse um leve aumento”, explica o analista da Guide Investimentos, Mateus Haag.
Segundo ele, a coisa mais relevante será os dividendos, que deve ser distribuído o mínimo obrigatório, na avaliação de Haag. “Isso não deve ter nenhuma surpresa, nem positiva nem negativa. Mas há uma possibilidade que a gente pode se surpreender que é a distribuição daqueles 50% que foram retidos no quarto trimestre do ano passado”.
Em relação ao segundo trimestre, o Itaú BBA explica em relatório que acordo com o Carf deve impactar negativamente o lucro operacional no período, medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que deve registrar uma queda de 24% na base anual, para US$ 9,4 bilhões. Excluindo o acordo, a companhia poderia ter um Ebitda de US$ 12,8 bilhões.
Já para os dividendos da Petrobras, tão aguardados pelos acionistas na temporada de balanços, o banco prevê um pagamento de provento ordinário de US$ 2,1 bilhões para o segundo trimestre, em linha com o intervalo imediatamente anterior, o que implica um dividend yield de 2,3%.
De acordo com os analistas Monique Natal, Eric de Mello e Bruna Amorim, a queda de 2,8% na produção de óleo e gás no trimestre, que alcançou 2,7 milhões de barris diários (boed), refletindo as paradas programadas, impactarão negativamente o Ebitda da companhia.
Mas é o acordo fiscal não recorrente com o Carf que deve impactar fortemente os números da Petrobras, mais do que compensando a valorização marginal do preço do Brent no segundo trimestre, que ficou acima de US$ 84 por barril.
“O menor Ebitda vai refletir no resultado final, que também é afetado por uma provisão substancial de R$ 11,9 bilhões para uma liquidação fiscal”, comentam os analistas da XP, Regis Cardoso e Helena Kelm.
Apesar da produção menor no período, a XP acredita que os yields continuam bons, prevendo um pagamento de dividendo de US$ 2,7 bilhões, sendo 3,2% de rendimento no trimestre.
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