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Bradesco e Santander fazem dever de casa no 2T, mas Itaú aumenta liderança
De forma geral, os bancões apresentaram números positivos no trimestre. No entanto, o custo de crédito continua sendo o desafio em comum
Ceres Lisboa, analista sênior de crédito da Moody’s
Ceres Lisboa, analista sênior de crédito da Moody’s

Os bancões, um dos principais motores da economia brasileira, continuam entregando resultados, apesar de um momento econômico conturbado. Embora em patamares diferentes de receita e lucro, os resultados do segundo trimestre das instituições foram positivos e consistentes. O Itaú segue na dianteira, bem acima dos pares, seguido pelo Banco do Brasil, enquanto o Santander tem resultados mais sólidos e o Bradesco apresenta alguma melhora em meio à “arrumação da casa”.

No trimestre, o lucro dos três bancos foi de R$ 27,6 bilhões. Do total, o Itaú registrou lucro recorrente de R$ 10,1 bilhões, uma alta de 15% na base anual, enquanto o Banco do Brasil reportou lucro de R$ 9,5 bilhões, uma alta de 8,2% na mesma base de comparação. O Bradesco, por sua vez, teve lucro recorrente de R$ 4,7 bilhões, valor 4% maior que o visto no mesmo período do ano passado. Já o lucro gerencial do Santander Brasil foi de R$ 3,3 bilhões, elevação de 44,3% na comparação anual.

De forma geral, os bancões apresentaram números positivos no trimestre. Enquanto o Itaú continua liderando o segmento com resultados fortes e Banco do Brasil segue na vice-liderança, Bradesco e Santander, que vinham apresentando resultados aquém das expectativas em função do nível de exposição das suas carteiras de crédito a segmentos mais arriscados, além de desajustes da operação, vem colhendo os frutos dos aperfeiçoamentos realizados por suas respectivas gestões nos últimos trimestres. 

“Há muitos trimestres, o Itaú vem reportando resultados muito sólidos que refletem os seus investimentos em tecnologia, modelos de crédito, processos e cultura corporativa, de forma geral. No 2T24, o Itaú reportou um resultado com forte evolução no lucro, rentabilidade, inadimplência em queda e margem com o mercado surpreendentemente forte”, aponta Milton Rabelo, analista da VG Research

No período, o ROE (retorno sobre o patrimônio) do Itaú atingiu 22,4% no período, com uma Margem Financeira Gerencial (NII), ou operações de tesouraria, totalizando R$ 27,7 bilhões, aumento de 6,4% na comparação anual.

“Em geral, os bancos tradicionais têm apresentado bons resultados no segundo trimestre. Dentre os grandes, Itaú tem conseguido preservar seu ROE ao longo dos últimos anos, se distanciando dos demais neste quesito”, comenta Alexandre Toledo, gerente associado na Peers Consulting & Technology

Já o Banco do Brasil apresentou um ROE de 21,7%, e margem financeira bruta atingiu R$ 25,5 bilhões, alta anual de 11,6%. Segundo o analista da VG research, o BB reportou mais um forte resultado com evolução de lucros, da rentabilidade e do índice de eficiência, que está no seu melhor patamar histórico. “Apesar de alguns pontos de atenção, os resultados do BB foram fortes e acima das projeções de mercado.”

O ROE do Santander, por sua vez, foi de 15,5% no período, correspondendo às estimativas mais otimistas dos analistas do Itaú BBA. Já o NII total atingiu R$ 14,8 bilhões no período, aumento de 11% em relação ao mesmo intervalo de 2023.

No caso do Bradesco, que perdeu muito ROE nos últimos anos, o indicador foi de 11,4% no trimestre. “Apesar dos níveis ainda deprimidos, acreditamos que o banco apresentou resultados consistentes apontando para uma trajetória positiva”, disseram Bernardo Guttman, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, analistas da XP, em relatório. O NII atingiu R$ 15,6 bilhões no período, 5,9% menor que no mesmo período de 2023. 

Itaú, Bradesco e Santander fazem dever de casa no 2T, mas Itaú aumenta liderança, Capital Aberto

Sobre os desafios em comum enfrentados pelos bancos no trimestre, as margens continuam sendo uma preocupação, já que com o aumento da competição elas têm se mantido pressionadas. 

“A preocupação agora também é você aumentar as margens com o cliente. Esse é o grande foco. Se você falasse qual foi o desafio comum, é o custo de captação”, diz Ceres Lisboa, analista sênior de crédito da Moody’s. “Por mais que todo mundo esteja vivendo um momento de Selic mais baixa que o ano passado, todo mundo está olhando o mesmo pote de dinheiro, que é o mercado doméstico. Todo mundo brigando pelo mesmo pote de dinheiro, encarece em relação ao CDI.”

Carteira de crédito e inadimplência

Rabelo ressalta que o Santander realizou uma reavaliação do portfólio de produtos e uma nova abordagem junto ao cliente de baixa renda, que podem ser claramente percebidos no balanço. 

No segundo trimestre, a carteira de crédito ampliada aumentou 1,8% em relação ao trimestre anterior e 7,8% em relação ao mesmo período de 2023, com o saldo de R$ 665,6 bilhões. “O portfólio de varejo cresceu 1% no trimestre, enquanto as PMEs avançaram 3% no trimestre e as empresas se recuperaram 4% no trimestre após um 1T24 fraco. Além da carteira agrícola (-5% QoQ) e do crédito pessoal (-4% QoQ), todas as demais linhas individuais apresentaram crescimento sólido”, apontam os analistas do Itaú BBA, Pedro Leduc, Mateus Raffaelli, e William Barraranjard, em relatório.

A inadimplência antecipada do Santander também melhorou significativamente, em 30 pontos, após sazonalidade adversa do primeiro trimestre do ano. O total de NPL, que mede o crédito inadimplente, manteve-se estável em 3,2%.

Já o Bradesco tem realizado um amplo e consistente processo de reestruturação, cujos efeitos também já são vistos em seu balanço. A carteira de crédito expandida do Bradesco totalizou R$ 912 bilhões, crescendo 2,5% trimestre a trimestre e 5% na base anual. “O ponto principal é que eles continuam com esse trabalho bastante dedicado de melhorar a qualidade da carteira. É um banco que, tradicionalmente, tinha uma fatia maior de participação em baixa renda e agora está focando mais em alta renda”, conta Alexandre Albuquerque, analista sênior de Instituições Financeiras da Moody’s.

Em relatório, analistas da XP destacam que o Bradesco apresentou resultados acima da previsão da casa e do consenso de mercado. “Vale destacar o crescimento da carteira de crédito e, por fim, o crescimento do NII com clientes após seis trimestres de queda. Outro destaque importante foi a redução do custo de crédito, com melhora significativa de 29% na base anual.”

O Bradesco tem apresentado uma tendência de recuperação que ficou mais clara nesse último trimestre, quando conseguiu retomar margem mais expressiva que nos últimos períodos por controlar o impacto da PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) de forma mais contundente. “Além disso, o banco está passando por um processo transformacional relevante, liderado por Marcelo Noronha, que gera uma perspectiva positiva em relação ao futuro do banco”, ressalta Toledo, da Peers Consulting & Technology.

Dada a dinâmica da recuperação, segundo Rabelo, é possível que a rentabilidade do Bradesco supere o seu custo de capital antes do previsto pelo management. A inadimplência acima de 90 dias chegou a cair 50 pontos, encerrando o trimestre em 4,3%.

No trimestre, a carteira de crédito do Itaú apresentou crescimento acelerado, aumentando 8,9% em relação ao ano anterior, para R$ 1,254 trilhão, e aproximando-se da faixa mais alta do guidance, de 9,5%. Já o índice de inadimplência acima de 90 dias permaneceu estável em 2,7%, o nível mais baixo em dois anos.

Já para o Banco do Brasil, a carteira de crédito ampliada atingiu R$ 1,2 trilhão no trimestre encerrado em junho, alta de 13,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto isso, o índice de inadimplência INAD+90d apresentou aumento, a 3% no período, aumento frente aos 2,73% registrados no mesmo intervalo de 2023 e dos 2,90% apresentados no trimestre imediatamente anterior.

“Na contramão dos outros bancos incumbentes, o índice de inadimplência do BB aumentou tanto na base trimestral quanto anual, ao passo que as Provisões para Devedores Duvidosos (PDDs) também apresentaram uma deterioração relevante na base anual”, comenta Rabelo, da VG.

Na avaliação de Ceres, da Moody’s, os bancos brasileiros são muito sólidos e não há questionamento sobre isso, principalmente em comparação com outros bancos na América Latina. Entretanto, questões que podem “frear” um pouco o crescimento é a demora em ter mais apetite ao risco. 

“Estamos falando de toda a estratégia de mudança de portfólio que os bancos tiveram desde 2023. Todo mundo buscando menos risco, crescendo em mercados de menos risco, em portfólios, sempre buscando menor risco para poder melhorar a provisão, para o custo melhorar e para poder melhorar a NPL. Eles crescem 8% em produtos de menor risco”, analisa a analista da Moody’s, colocando o Itaú em “outro nível” e afirmando que a questão é se ele deve manter a rentabilidade vista neste trimestre. “O grande questionamento é, para sair desse patamar de rentabilidade, eles precisam tomar risco mesmo, não ficar só em consignado, SMI com garantia, cartão de crédito só para a base de clientes. Para isso, eles vão precisar ter uma outra estratégia.”


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