Diante do que estamos vivendo, uma demanda crescente — seja por necessidade ou por empreendedorismo — é a revisão dos modelos de negócios. Esse desejo surge em diversos contextos e em setores variados, mas parece ecoar em dissonância com o que é inspirador e impulsionador de uma verdadeira transformação. E há alguns motivos principais para esse descompasso.
Primeiro: transformar o modelo de negócio é abandonar a própria história, é puxar as âncoras para navegar em novos mares. Se não for assim, o modelo continuará o mesmo — pode até haver uma certa elasticidade que gere algum valor incremental, mas nada transformador. Ou seja, não será com mais “analytics” e tampouco com “benchmarks” que a concepção inspiradora do novo modelo e a força que impulsiona a transformação vão se manifestar.
Segundo: não se trata de um processo ou de um método científico, mas sim de um pensar liderado pela parte não cognitiva do cérebro, algo que empreendedores conhecem bem, mas que meros executivos desconhecem e até desqualificam por falta de sensibilidade estética.
Por último, conceber e executar não são tarefas contíguas; não há passagem e nem um “de – para” do não cognitivo para o cognitivo. Portanto, para transformar é necessário evitar que o inerente afunilamento do pensamento piramidal do executar não cometa infanticídios de ideias na etapa de criação de um modelo diferente.
A jornada que melhor propicia o germinar de uma transformação dessa natureza precisa ser profunda no contexto e ousada na criação. Recomendo alguns caminhos cruciais para que se logre êxito nessa empreitada.
Considero primordial um profundo “entendimento” do contemporâneo —entendimento entre parênteses por conotar, nesse caso, mais um “se perder” — o que significa ir de um estranhamento do mundo atual para um “entranhamento” com as novas realidades. Isso gera um pensar extemporâneo e, por consequência, criador ou conectado com realidades atuais e vindouras.
Outro elemento que enriquece bastante o repensar acerca do modelo de negócio é, diante deste “entranhamento” com as novas realidades, refletir primeiramente acerca de si mesmo antes de avançar em elementos endógenos (como a organização e o setor, por exemplo). Isso pode oferecer novas lentes para se enxergar, pensar e analisar modelos alternativos — quando mudamos a nós mesmos, mudamos nossa perspectiva da realidade. Como provaram recentemente a neurociência e há séculos a Filosofia, não existe uma realidade absoluta, mas sim perspectivas individuais e coletivas acerca do mundo.
Por fim, após o rompimento com as perspectivas datadas do mundo e de um “entranhamento” com as devidas sensibilidade e profundidade, a capacidade de se pensar em um modelo de negócio transformador ganha amplitude e concavidade. Daí emerge um novo paradigma capaz até de ser criador de um segmento, tamanha a distinção da proposta de valor empreendida.
Estamos em tempos de grandes transformações. Por isso, não se limite a fazer movimentos incrementais. Sobrevida é para pacientes terminais e não para quem pretende viver de maneira pujante.
*Alexandre Fialho ([email protected]) é sócio-fundador da Filosofia Organizacional, conselheiro de diversas empresas, mentor de grandes líderes e professor
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