Celebridades podem contribuir para a composição de conselhos de administração e neles atuar? É correto que um conselheiro sem carreira corporativa seja convidado a ser embaixador da empresa por meio de uma posição estatutária? Todas as formas de diversidade devem estar representadas em um board? Não seria indicado a uma celebridade integrar um comitê de assessoramento?
Esses são alguns dos (muitos) questionamentos que temos visto nos últimos meses por conta do anúncio da chegada de celebridades a conselhos de administração ou comitês de assessoramento de empresas brasileiras. Tal qual um “instagrammer” que disponibiliza caixinha de perguntas em seus stories, me vi obrigado a refletir, a invocar maneiras didáticas de dialogar com quem usualmente não discute o tema e também a reafirmar a importância de práticas há muito defendidas (mesmo que nem sempre exercidas com a crença devida).
Uma dessas práticas é a avaliação dos conselhos de administração. Obrigatória para a listagem no Novo Mercado da B3, assim como em outras bolsas de valores, como a NYSE, a avaliação orienta o processo de aprimoramento do conselho, tanto do ponto de vista estrutural — ao analisar aspectos como diversidade e conhecimentos oferecidos por cada integrante do colegiado —, como também sob a ótica das próprias dinâmicas de reuniões e processos de tomada de decisão.
Solução para desafios
A avaliação de conselhos é peça-chave para assegurar que o board contribua efetivamente para a preservação e a criação de valor — não só para a própria companhia, como também para transformá-la em solução para os desafios da sociedade. E tudo isso de forma alinhada aos papéis e responsabilidades do conselho, ao momento da organização, ao contexto regulatório e às demandas e expectativas dos stakeholders.
Pesquisa realizada pelo ACI Institute e Board Leadership Center da KPMG indicou, já em 2016, que um processo formal e efetivo de avaliação é o mecanismo mais eficiente para se alcançar a combinação ideal de habilidades, experiências e perspectivas em conselhos de administração. Essa foi a opção mais selecionada tanto pela amostra global (87%) quanto pela amostra brasileira (95%) de participantes.
Apesar da importância do tema, a avaliação de conselhos é vista ainda como um tabu pelas empresas e pouco divulgada ao mercado. Em abril de 2021, a EY publicou um estudo sobre o tema, analisando os dados de 360 companhias abertas por meio dos informes sobre o Código Brasileiro de Governança Corporativa: Companhias Abertas, e os resultados demonstram que, apesar da evolução dessa pauta, é baixo o percentual de empresas que tornam públicas as informações sobre avaliação de seus conselhos. Em 2020, 44% das empresas analisadas pela EY divulgaram a informação, ante 38% em 2019.
Organismos complexos
Conselhos de administração, assim como suas organizações, são organismos vivos, complexos e integrantes de um ecossistema em constante transformação. Em junho deste ano, o IBGC realizou seu encontro anual de conselheiros de administração convidando todos a um embarque para o futuro. Perguntados se os conselhos em que atuam estão preparados para desafios, 24% reconheceram a falta de preparo e outros 68% afirmaram estar preparados para o hoje, mas não para o amanhã. Quando o assunto foi mudanças climáticas, 78% afirmaram que atuam em conselhos parcialmente ou pouco preparados.
Por isso, volto a dizer que a avaliação dos conselhos de administração deve entrar definitivamente na pauta — dos próprios conselheiros e também das demais partes interessadas. Quando debatemos se a celebridade A ou B poderia estar no conselho de administração, se tem as qualificações necessárias para o desempenho das atividades esperadas ou se oferece as contribuições diferentes e inovadoras almejadas, estamos falando também sobre avaliação. Esse é o mecanismo que responde às perguntas que iniciam este artigo e a muitas outras.
Henrique Luz ([email protected]), CCA+, CCoAud+ e CCF IBGC, é membro independente de conselhos e membro do conselho de administração do IBGC
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